Não! Não era um sonho mas a ambígua sensação de acordar endoidado de sonolência e sem atinar com o sítio onde despertava.

Um barulho surdo repassava a janela fechada e invadia-me os sentidos. Era o rebentar uivado do vento a protestar com quem dormia.
Ocorria, sim, um mediano vendaval forjando o balançar geral mas, logo colhi a firmeza do chão, quando escutei passos pesados sonorizando o caminho, em frente, curvado para os campos , para os montes, enfim, para algum lugar.
Deitado apenas enxergava copas de árvores frondosas tangendo o céu enegrecido e rochas escuras a sulcar o cinzento dos montes. Porém, imaginava que se mexiam as ramadas das árvores, que se meneavam arbustos e todas as plantas mais jovens.
Da banda de trás chegavam aromas certificados de erva verde , clara e fresca em dias de sol e desalmadamente fria em dias sombrios. Em noites de luares dourados, a mesma verdura que, por ora, me facultava odores, mimoseava-me com brilhos refletidos lembrando espelhos esbranquiçados.
Mas, para completo uso da razão, deveria acabar de despertar, acalmar, enfim, ser consentâneo.
Esfreguei, por fim, as mãos, massageie os braços como que a confirmar que estava desperto.
O ambiente não era pretérito. Não se augurava o andejar de muita gente. Não soavam vacas que vagueassem ou mugissem nem burros que trotassem ou zurrassem. Não se ouviam assobios de garotos. Chilreavam pássaros fugidios nos seus pousos selvagens . Quase todos os sons eram naturais. Só, ao longe, se reiterava um ruido motorizado.
Antes de sair do quarto fitei o espelho e conclui:
– Não, não é sonho. Estou cá e é Inverno. Este é o meu sitio, o meu lugar, a minha raiz. Por aqui o tempo segue cavalgando um vento decidido que abraça a montanha eterna, abana as árvores que se renovam, beija a erva que ressuscita e pinta os céus a vários tons.
Não, não é sonho nem loucura. É a mostra da realidade que, de tão pouco usitada, acabo por estranhar.
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«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
Parabens grande poeta.
Obrigado por ter lido. Se gostou,tanto melhor!
Abraço.
Amigo capelo :
O Inverno é assim mesmo, e adormecer ao som do vento gélido é um convite para uma noite bem dormida.
António Emídio
O Inverno até pode ser uma estação bonita. Para quem goste, claro!
Aquele abraço, meu amigo.