Às terças-feiras é tempo da poesia de Georgina Ferro. A poetisa raiana junta a sua sensibilidade artística ao amor e às memórias pelas gentes e terras raianas…

Rosa Maria
Vinha a Rosa Maria a chegar
Alpergatas rotas e achancadas
Pernas inchadas, doridas, cansadas
Por tão longo e duro caminhar
Poisou o taleigo na escaleira
Apanhou uns galhos para o lume
Ouviu alguém chamar com azedume
Obrigando-a a ser mais lampeira
Ligeira, dirigiu-se à cozinha
Vassourou melhor a cinza do chão
Arrimou lenha ao velho tição
Mai-la carqueja que por ali tinha
Colocada, ao lume, a panela
Para fazer o caldo escoado
Desceu à loja a tratar do gado:
(Pitas, marrano, vaca e vitela!)
Ordenhou a vaca num instantinho
Encheu-lhe de feno a manjedoura
Pois, é sua ajuda na lavoura
E merece-lhe todo o carinho
Deu vianda ao porco que grunhia
Espalhou milho para as galinhas
Que andavam lá por longe sozinhas
Enquanto o sol não se escondia
Chamou o marido para jantar
Escoou o caldo que pôs na mesa
Já a candeia estava acesa
As Trindades começavam a dar
Rezaram ambos as Avé-Marias
Atearam a chama do carvão
Para aconchegarem o serão
Dessas noites de geada tão frias.
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«Gentes e lugares do meu antanho», poesia de Georgina Ferro
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