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Página Principal  /  Bélgica • Pedaços de Fronteira • Vale de Espinho  /  O número mágico – Vinte-Vinte-e-Um
03 Janeiro 2021

O número mágico – Vinte-Vinte-e-Um

Por Joaquim Tenreira Martins
Joaquim Tenreira Martins
Bélgica, Pedaços de Fronteira, Vale de Espinho joaquim tenreira martins 2 Comentários

Passei um ano a pronunciar vinte-vinte e agora tenho de me habituar ao vinte-vinte-e-um. A terra roda e tenho de rodar também. Não vai ser fácil. Vinte-vinte soava melhor. Pronunciava-o numa passada, agora é necessário uma passada e meia. É o que há, não podemos escolher outro.

2021
2021

Isto de algarismos tem muito que se lhe diga. Não gostaria de começar pelo 1. Ele é muito direito. Parece que engoliu o pau da vassoura. Também me lembra um soldado a fazer continência. Então se for um 11, dá-me a impressão de serem dois cogumelos que nasceram numa madrugada de Novembro, num prado onde tinham pastado cavalos. 1111 era o caderno de matemática designado o Mil Cento e Onze, por onde a minha irmã se preparou para o exame de admissão da escola Artur Ravara. Quem conseguisse resolver os problemas do caderno 1111, entrava naquela escola e poderia ser mais tarde senhora enfermeira.

Nem olho sequer para o 2. Tem uma forma muito altiva. Parece viver sozinho e não querer ligar a ninguém. Que se lixe! É como o 5, tem muita barriga e um nariz todo empertigado. Vai dar uma volta! Não gosto de ti!

O 3 lembra-me o meu professor da escola primária que nos dizia: meninos, o 3 é muito fácil: é como uma canga para jungir os bois. No liceu onde estudei, encontrei dois amigos e andávamos sempre juntos, no estudo, nos passeios, nos namoricos. Quantas vezes não ouvi: lá vêm os 3 da vida airada! Ao qual respondíamos: Cocó, Ranheta e Facada!

Do que eu mais gostava era do 4. Na nossa família eramos 4. Quando não nos portávamos bem, o meu pai colocava-nos na sala grande, fechava a porta e dizia-nos: agora ficam aqui a falar com as 4 paredes. Desfazíamo-nos em 4 para ficarmos sossegadinhos e, assim, nos vir abrir a porta.

Jogávamos à sueca os 4, o nosso jogo preferido. Agora crescidos, cada um de nós está espalhado pelos 4 cantos do mundo. Tive sempre pouco sentido de orientação e ainda não consigo saber onde se encontram os 4 pontos cardeais. Agora que me lembro, o meu primeiro carro foi um 4L. Comprei há pouco um 4X4. Já disse ao meu neto que nunca devemos beber demais. Um bom teste é conseguir fazer o 4. Deus nos livre dos 4 cavaleiros do Apocalipse: a preste, a guerra, a fome e a morte. Que 4 olhos vêm mais que 2, já dizia um dos meus 4 avós, mas não me recordo qual.

Confundi sempre o 6 com o 9. Não sei se era por ser ligeiramente disléxico. Lembrava-me do jogo do arco. O arco era o 0, que era igual à circunferência. E para o fazer rodar, empregava um ferro em forma de 6 ou de 9, pouco me importava. Os ferreiros da aldeia, o Ti Domingos Bicho ou o Ti Zezinho Ferreiro, endireitavam sempre o 6 e o 9 para o arco rodar melhor. Bem-hajam eles mais a sua santa paciência para aturarem a canalha que só queria rodar a circunferência, o arco, até ao infinito. Mas, notem, o infinito não é um algarismo.

Não me falem no 7! Parece que vai cair! Tenho de fazer-lhe um traço horizontal ao meio e devo colocar a haste menos inclinada, para o equilibrar. Prefiro o 8, em forma de bicicleta, que todas as tardes dizia ao meu pai para ma comprar. Apurava-me para lhe mostrar as duas rodas do 8 todas redondinhas para o impressionar e não se esquecer de ir ao Ti Álvaro das motorizadas que também vendia bicicletas para os grandes e para os pequenos.

Tudo isto para dizer que o vinte-vinte-e-um só pode ser melhor que o vinte-vinte. O outro ano era mais fácil de pronunciar, mas vão ver que nos iremos habituar. Após tê-lo pronunciado três ou quatro vezes, até já estou a gostar.

É um belo jogo de algarismos. Se calhar, vou colocá-lo no código de segurança do meu cofre. A minha vizinha disse-me que iria mandar tatuar o 2021 na omoplata para ver se lhe toca a sorte grande. E no Totoloto jogarei sempre com esta base — 2021. Estou quase certo, vai ser o ano da sorte para comprar o meu palácio encantado, cujo código de entrada será o 2021.

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«Pedaços de Fronteira», opinião de Joaquim Tenreira Martins

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2 Comments

  1. Joaquim Tenreira Martins Joaquim Tenreira Martins Responder a Joaquim
    Sábado, 9 Janeiro, 2021 às 9:31

    Obrigado, Zé Fino, Caro Amigo ! Às vezes saem-me “ditirambos” como este, mas o mérito não é tanto meu, mas sim das águas, dos ares, das paisagens e da camaradagem que tivemos na nossa juventude. Feliz Ano Novo para ti e para os teus e até breve.

  2. Avatar José Antunes Fino Responder a José
    Domingo, 3 Janeiro, 2021 às 15:44

    Tiro o meu chapéu: criatividade, imaginação, emoção e compaixão…só ao alcance dos melhores. Parabéns!

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