Neste Natal, o poder de compra dos Portugueses está pior do que há dez anos, embora alguma comunicação social informe o contrário. Estes «incentivos», com a restrição de horários, só agravam a débil situação dos comerciantes.

Neste Natal, muitos trabalhadores estão confinados a uma secretária, a um telemóvel, a um computador fixo, com colunas e fios, câmaras amovíveis, papéis espalhados, e vigiados pelos seus chefes, pagando do seu bolso as despesas inerentes a esta situação.
Neste Natal, temos um Presépio com todas as figuras importantes da Família de Belém, espreitada por muitos Herodes à solta e a gozar de toda a impunidade.
Neste Natal pandémico, vi na Revista do «Jornal do Fundão» a representação do Presépio com o Menino de Jesus de máscara.
Neste Natal, a saudade também teve um especial lugar na mesa da consoada.
Neste Natal, «lemos, ouvimos e vemos, não podemos ignorar», que há fome e desemprego em Portugal.
Neste Natal, as famílias festejam as festas natalícias com confinamentos e com medos por causas sanitárias.
Neste Natal, num clube de leitores ouvi contos escritos sobre a grandeza da solidariedade de uns para com os outros.
Neste Natal, felizmente não vi crianças a receber prendas e a atirá-las para o chão, para os cantos da sala de jantar, cansadas de tantas, em contraste com aquelas que não têm pão na mesa.
Neste Natal, na comemoração dos Direitos Humanos, a comunicação social informava que fora assassinado um cidadão ucraniano nas instalações do Estado, no Aeroporto de Lisboa.
Neste Natal, há mais de dois milhões de portugueses a viver abaixo dos níveis de pobreza.
Neste Natal, encontrei-me com um idoso a viver numa adaptada loja comercial, choroso por não passar a quadra natalícia com os familiares.
Neste Natal, vi várias donas de pequenas lojas de vestuário diverso, sitas em ruas quase vazias, na ansiedade de chegarem clientes.
Neste Natal, cumprimento o último alfarrabista do Fundão, que exerce esta profissão há cinquenta anos, alérgico a dar entrevistas. Conversamos sobre a sua pessoa o seu serviço militar obrigatório na 9.ª Companhia de Comandos, em Cabo Delgado, em Moçambique, territórios onde se derrama sangue e as populações fogem e são queimadas instalações religiosas e civis.
Nesta Natal, os profissionais da cultura e alguns da justiça estão a passar imensas dificuldades.
Neste Natal, leio num diário em letras garrafais, que um banqueiro «dá meio milhão para escapar à cadeia», apresentando um requerimento ao Supremo Tribunal de Justiça, para evitar a prisão efetiva. Espera-se que a sua defesa não seja patrocinada com os nossos impostos. Será que só vão para a cadeia os pobres e os estúpidos?
Neste Natal, assisti a um funeral de uma benemérita das comunidades onde viveu, com solidariedade para com todos, onde o celebrante, felizmente, recordou as atitudes altruístas da defunta.
Neste Natal, numa quinta para os lados da Azambuja, caçadores milionários procederam a uma autêntica matança de mais de quinhentas peças de caça, entre veados, gamos e javalis. E como resposta, um membro do governo disse, que iria suspender o estudo de impacto ambiental para um parque solar, imaginamos nós, que por alterações profundas na fauna local.
Neste Natal, o Bispo da Diocese de Setúbal denunciou com coragem que há fome e desemprego naquela Península, seguindo o caminho evangélico do seu antecessor, D. Manuel Martins.
Neste Natal, algumas comunidades resistiram à cultura do medo e mantiveram a tradição do madeiro aceso junto às igrejas locais.
Neste Natal, assisti via TV a um Concerto de Natal realizado na Austrália, com Orquestra dirigida pelo famoso e mediático maestro Rieu que afirmou: «a música vai ultrapassar os momentos difíceis».
Neste Natal, culminou-se o Brexit, numa Europa confinada.
Neste Natal, muitos milhares de camionistas ficaram no Canal da Mancha, numa crise sem precedentes, juntando-se a tantos martirizados desta pandemia.
Neste Natal, um subdiretor geral da saúde mandou-nos fazer saudáveis compotas, sem olhar aos açucares da medida.
Neste Natal, o coronavírus tenta fintar as vacinas…
Nesta Quadra, ficámos a saber que o vírus adormece às duas da manhã no Natal e que último dia do ano só durará vinte e três horas.
Este Natal foi um tele-Natal…
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«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes
Bom artigo meu irmão. Um tele Natal que a andar assim nos torna em tele pessoas. Feliz Ano