:: :: JOSÉ CARLOS MENDES :: :: No primeiro episódio o António Emídio «apresentou-nos» a família do Luís do Sabugal que se preparava para ingressar no Outeiro de São Miguel. O irmão António tinha ido de abalada para França na senda de muitos outros sabugalenses nos anos 60. Depois do Fernando Capelo a continuidade tem a assinatura do José Carlos Mendes. (Episódio 3.)

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HISTÓRIAS DA MEMÓRIA RAIANA
Episódio 3
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DOIS ARRAIANOS QUE NÃO FORAM PARA O COLÉGIO
Naquele tempo o Outeiro de São Miguel era a mais famosa escola regional interna da Beira Alta. O ingresso era limitado e muitos jovens tinham todo o orgulho em frequentar tal instituição.
Temos acompanhado os dias de preparação do Luís do Sabugal para entrar no Colégio. O Luís, antes de entrar para o Outeiro, tomou contacto com alguns outros jovens da mesma zona. E ficou a saber que os seus amigos de Alfaiates, dois irmãos, muito gostariam de poder ir também, mas os pais não os incentivavam, como acontecia com tantas outras famílias. Eram os Nobres…
O Luís tudo fez para os «puxar» mas tal não foi bem sucedido. O mais velho, o Amando, continuou a dedicar-se à concertina e aos bailes e o mais novo lá o acompanhava como podia e muito se divertia a namoriscar as raparigas que lhe davam trela, como se costumava dizer lá na terra.

Quem não conhecia o Outeiro de São Miguel?
Esta escola tinha muita fama e muito bom nome. Na altura em que foi criada, conta-se até que havia na Igreja quem não concordasse com a sua criação pois bastava o Colégio Coração de Maria, na cidade da Guarda.
Ora terá sido nessa situação que o Bispo da altura, segundo se conta, terá insistido defendendo que um não substituía o outro e que os dois colégios eram precisos.
O arraiano de Alfaiates
Por culpa de um tocador a aldeia de Alfaiates ficaria mais famosa na zona mais a Sul do Concelho do Sabugal, onde os bailes de domingo no Casteleiro faziam o seu quê de furor com a concertina do Nobre.
E é aí que a história da família dá uma grande volta, porque o Narciso, o mais novo dos dois, acaba por se enamorar de uma rapariga da terra que fazia os bailes mais divertidos, como ele costumava dizer…
Ficou para trás o Outeiro de São Miguel. O Luis não conseguiu «levar» estes dois nem nenhum deles, mas entendeu que a família não tinha posses nem interesse em apoiar qualquer outra saída…
Quem acaba por fazer história neste caso é o futuro barbeiro e «médico» de aldeia: Narciso Nobre, de Alfaiates, casado no Casteleiro.
Um arraiano de grande estirpe, que nunca deixou de ser arraiano com toda a honra e proveito – com tudo o que isso implicava de ajuda a todos na «sua» nova terra.
Os filhos do Sr. Narciso
Vamos acompanhar alguns episódios da vida atribulada de um dos mais simpáticos jovens da aldeia nesses idos tempos da década de sessenta do século passado.
Era meio-arraiano… o pai tinha vindo de Alfaiates a acompanhar o irmão, que tocava concertina e vinha à aldeia fazer os bailes de domingo.
Tinha-se encantado da terra e passou a vir ao Casteleiro por tudo e por nada. Até que um dia se apaixonou por uma donzela da terra, com ela namorou e com ela casou.
Tiveram vários filhos, todos rapazes. Era uma casa cheia de barulho e de malandragem. Os filhos, acabariam, cada um por seguir o seu caminho.
Pai e mãe ficaram sempre por ali. Dois dos filhos, sem dúvida os mais arraianos de todos eles, tiveram histórias que são verdadeiras epopeias. Sobretudo o mais jovem dos dois: o Balé.
Era um grande malandrão…
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A estória já chegou ao Casteleiro. Na próxima semana vamos ficar a saber o que Ramiro Matos nos traz…
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«Histórias da Memória Raiana», (episódio 3), por José Carlos Mendes
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O Capeia Arraiana iniciou no domingo, 13 de Dezembro de 2020, mais um arrojado projecto: «Histórias da Memória Raiana.»
A ideia foi, por mim, lançada ao António Emídio e ao Fernando Capelo no largo com vista para o altaneiro edifício da Escola Regional Dr. José Dinis da Fonseca, mais conhecida por Outeiro de São Miguel e por onde passaram muitos alunos sabugalenses.
Semanalmente a história, ficcionada mas onde os lugares e os nomes até podem ser familiares e verdadeiros, vai avançar com as estórias de personagens próprios e comuns com um novo escriba.
Não sabemos quando vai chegar ao fim mas o principal objectivo é preservar digitalmente a memória colectiva da nossa identidade de povo valoroso e corajoso, os que ficaram e os que migraram, com lindas tradições que alimentam o amor à terra e ao desejo de voltar sempre.
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José Carlos Lages
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