Tomei a decisão. Agora em Luanda, porque não ser luandense. Com um livro na forja, entendi ir ao editor de táxi. Pelo que ouvi terá sido uma ousadia. Mas para mim foi mais um passo de que as fronteiras só existem mesmo nas nossas cabeças. A viagem foi inesquecivel. A melhor parte foi quando pedi para tirar uma selfie.

O calor de Luanda é bem diferente do da Lunda. Aqui dá para morenar fazendo-me passar, um dia quando estiver em Portugal, por ter estado nas praias das Maldivas. Aguardei na paragem, que nada tem de estático, a ouvir os pregões do meu destino. Só o ambiente dá mesmo para estar a ouvir e presenciar «vida». Vida que às vezes sinto falta na minha terra.
Mesmo sendo uma confusão, não se vê atropelos ou arrufos por alguém passar à frente. Aliás é tão aleatório que nem fila existe: tudo ao molho e fé em Deus. Uns com máscara outros com mascarilha. Uns de fato, outros de chinelos. Também pedem, tendo ajudado a associação de surdos-mudos.
A côr nesse dia foi única nestas terras. Um cota europeu, de calções e t-shirt, deambulando sem preconceito. Mas entrei no táxi certo. Ia para o «Golf 2».
Na realidade acompanhava-me a co-autora deste nosso projecto, a Sango, que me foi explicando os «passos». Mas eu vibrava mais do que ela. Aliás a Sango sentia o desconforto que eu contrariava a todo custo. Só mesmo quando pedi aos presentes se podia tirar uma selfie é que sorriu (tinha de ser). Obviamente que ninguém ligou a esta insólita pergunta de um europeu nitidamente fora de contexto, mas como quem cala consente, a alegria foi tanta que com a força do sorriso a máscara descaíu.
Mas como funciona este táxi?
Quem não se lembra dos cobradores? Estas viaturas são carrinhas de nove lugares. Para além do motorista, o lugar junto da porta que corre, é do cobrador e pregoeiro. Assim que se aproxima de uma paragem o dito cobrador grita pelo destino: «Congoleses», «Cuca» ou «Golf 2». Mas há imensos, não fosse Luanda uma mega-metrópole.
A sensação foi de um transporte normalíssimo, salvo a figura do cobrador/pregoeiro. Aliás para pagar só mesmo quando estamos a chegar ao destino. Inclusivamente tive sorte em ir de estofos em pele, que nem todos estes táxis são assim. E tal como na Europa não é permitido fumar.
Aliás o «cheiro» era bem melhor que alguns da Carris porque algumas janelas são semi-abertas permitindo um arejamento natural.
No regresso também vim mas com destino «Cuca». E não sabendo bem a paragem pedi ajuda ao cobrador. Mesmo não sendo aquela simpatia dos guias de turismo, foi eficiente e parei na «curva», ficando a saber o nome do lugar que me espera em próximas viagens.
Verdade seja dita que notei muito menos trânsito em Luanda, comparativamente a 2018, com menos filas, ou «bichas», facilitando a mobilidade. Mas, por outro lado, notei mais policiamento de controlo rodoviário.
Ora no «candogueiro» as cores azul e branco, tornam-se numa verdadeira via verde, só parando mesmo onde tem de parar.
Luanda, 18 de Dezembro de 2020
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«No trilho das minhas memórias», crónica de António José Alçada
Foi um dia e tanto, obrigada por te tornares Luandense, e viver como tal 😊😊😊🙏🙏🙏