Às terças-feiras é tempo da poesia de Georgina Ferro. A poetisa raiana junta a sua sensibilidade artística ao amor e às memórias pelas gentes e terras raianas…

MARGARIDA
Vestido em flanela de lã
Botinhas de borracha sem meias
Sangue roxo parado nas veias
Face vermelha cor de maçã
Em passada lenta e dorida
Os dentes a tiritar de frio
O nariz gotejando em fio
Lá vai a pequena Margarida
Assoa-se à aba da saia
Aconchega os ombros ao xale
Ergue os pés em passo de baile
Antes que escorregue ou caia
No caminho de cristais brilhantes
Não sei se por bruxas enfeitado
Ou se fora por fadas bordado
Em imaginários diamantes
A música pára de tocar
Os pés da Margarida resvalam
Todas as luzes do céu apagam
Antes da pequenina tombar
Lá em casa a avó velhinha
Espia a janela, inquieta
Estranha a demora da neta
Que anda pela rua sozinha
A candeia já não tem azeite
A lenha do lume escasseia
Põe a panela para a ceia
E ferve um poucochinho de leite
Mas o seu desespero é tanto
Que sai à rua atarantada
Supondo a menina gelada
Mas alguém a traz, p’ra seu espanto
Junta-se toda a vizinhança
Acarretam lenha, água, pão…
Verdadeiro amor no coração
Que aquece o lar desta criança!
:: ::
«Gentes e lugares do meu antanho», poesia de Georgina Ferro
Leave a Reply