Não conseguimos citar a fonte mas lemos algures que, para compreender melhor o presente e conhecer o futuro, é muito importante compreender e conhecer o nosso passado, porque quanto mais longe olharmos para o passado, melhor podemos projectar o nosso futuro.

PARTE VII
PATRIMÓNIO CULTURAL
Património Histórico Arqueológico
A baixa ou reduzida densidade populacional do nosso território não é um problema exclusivo dos tempos que decorrem. Outros tempos houve em que esta região esteve praticamente deserta e mais entregue à natureza, com muito reduzida movimentação ou fraca ocupação demográfica e, ao que parece, não foi um período tão curto quanto isso. Foram pelo menos sete séculos, entre os séculos III e V e os séculos X e XII, o que perfaz um período de sensivelmente 700 anos sem ocupação demográfica ou sem que pelo menos haja registos históricos de relevo, indícios ou vestígios, pelo menos conhecidos até agora, da ocupação do nosso território naquele longo período.
A Península Ibérica foi invadida pelos bárbaros, entre o Séc. III e o Séc. VIII, na passagem da Antiguidade para Idade Média. E desta invasão não encontrámos registos de relevo no nosso território.
A invasão muçulmana ou a conquista árabe e inerente ocupação de grande parte da Península Ibérica e do nosso território dá-se a partir do século VIII e dura até se dar a início da reconquista pelos Reis Católicos, que percorre toda a idade Média e só termina no Séc XV, com a expulsão de todos muçulmanos e início do repovoamento da inerente formação do Condado Portucalense.
Segundo alguns autores, teremos passado por eventual situação de ermamento com as invasões dos bárbaros e dos árabes,
Intrigou-nos tão grande lacuna ou falta de dados históricos ou arqueológicos por um período tão longo, que só por si confirma eventual inexistência de pessoas neste território.
Uma história de um êxodo antes do êxodo da idade moderna ou contemporânea?
Será que os lusitanos foram expulsos do território e tiveram que se exilar noutras regiões no período das invasões pelos bárbaros e nas invasões pelos árabes?
Ou terá sido uma verdadeira e «genuína diáspora» que se verificou nesta região com a chegada e invasão dos bárbaros (alanos, suevos e visigodos) e mais tarde pelos árabes?
«Diáspora» no sentido e significado literal do termo. Pois acontece regularmente utilizar-se o termo «diáspora» para se referir os maiores fluxos de migração do nosso território. No entanto, aquele termo tem uma conotação de valor negativo, relacionada com a segregação, perseguição e vitimização, pois este conceito é mais aplicado a populações que se deslocam por motivos de exílio político ou de refúgio, devido a guerras ou catástrofes naturais, o que não foi a causa ou motivos que levaram muitos de nós a sair do nosso território.
Muitos migramos em busca de melhores condições e qualidade de vida, por novas e melhores oportunidades, dada a precaridade que se verifica na região e não por motivos de fuga ou guerra. Ainda que alguns o possam ter feito por aquelas razões no passado, mas com certeza não foi a causa nem os motivos da larga maioria.
E porque existe também uma recorrente utilização incorreta dos termos referentes à migração, nunca é demais referirmos que «migrantes» somos todos aqueles que se movimentam de um local para outro, que pode ser um movimento ao nível do país ou da região. Somos migrantes e não exilados ou refugiados. Sem qualquer desclassificação humana para todos aqueles que foram forçados a solicitar quele estatuto para sua autoproteção e sobrevivência.
Migrantes somos todos, naturais, residentes ou não residentes. Uns permanentes e outros temporários. Um jovem aluno que sai do nosso território de onde é natural e residente, para ir estudar na Guarda, Covilhã, Coimbra ou Porto, é um migrante temporário. Um conterrâneo que vá exercer a sua atividade profissional exclusiva para Braga ou Castelo Branco, é um migrante permanente.
Quem é que ainda não migrou pelo país, concelho ou distrito, num ou outro período? Serão muito poucos os que nunca saíram da sua aldeia ou concelho, por um período mais ou menos longo!
Alguns de nós somos emigrantes porque saímos do país, outros somos imigrantes por que viemos viver para este país, que não o nosso de onde somos naturais.
Todos somos migrantes!
Alguns de nós somos em simultâneo, emigrantes e imigrantes, porque todo o que emigra (sai do país de origem), também imigra (entra e vive num país que não o de origem).
Imigrantes são os que migram para dentro (Interior), Emigrantes são os que migram para fora (Exterior), tendo sempre como referência as fronteiras dos países.
Mas o estatuto de migrante, emigrante, imigrante implica sempre uma «dupla consciência do eu», de um «eu» dividido em dois, reflexo consequente de uma dupla localização. A localização emocional e a localização física.
O estar e viver fisicamente num sítio que não o de origem, implica também sempre um estado psicológico e sentimental dividido, em que se está simultaneamente ligado, por um lado ao sítio (local, cidade ou país) que nos recebeu e onde optámos residir, mas por outro lado mantemos sempre a ligação psicológica e afectiva ao local de origem de onde pertencemos.
Mas o que terá acontecido no longínquo passado? Não sabemos! Territórios com indícios e múltiplos vestígios de ocupação humana desde a pré-história, proto-história e época romana e depois um apagão na história de tanto tempo sobre este território.
Que condenação foi esta, percebendo que houve ocupação lusitana e que terá havido ocupação romana no nosso território. Viriato e nobres Lusitanos lutaram contra romanos e, pelo que consta na história, houve 27 grandes batalhas, em que os romanos venceram 14 vezes e os lusitanos 13 vezes. Mas depois da invasão e ocupação romana e a saída destes, ficámos sem história para contar, qual praga dos demos?
Mistérios e desígnios que a história e arqueologia ainda não conseguem explicar!
Alguns historiadores invocam como justificação eventual ermamento, associado aos fracos recursos e duras condições geográficas e climáticas, pobreza dos solos, etc., para tão reduzida procura ou desinteresse pelo nosso território.
O que nos leva a crer que foi precisa muita perseverança, determinação, resiliência e bravura dos nossos antepassados sabugalenses, para quererem ocupar e assumir este território como seu, na fase da reconquista e repovoamento. Onde, para sua sobrevivência, das pedras foi preciso fazer pão e dos paus um forcão para enfrentar touros e suas bravuras e todas as agruras. Um território em que apesar dos contraventos e tempestades, que duram acerca de um milénio, teima manter-se de pé e povoado. Resistiremos.
Uma das duas evidências físicas que existem no nosso território deste período, são as cerca de duas dezenas de povoações ou locais onde existem uns túmulos ou sepulturas escavadas nos barrocos de granito, que alguns autores as associam à idade média (sepulturas com forma antropomórfica – com formato da cabeça/pés e «almofadada»), embora outros autores as associem ao período romano (sepulturas em forma oval), mas ambas são associadas a práticas fúnebres do cristianismo, porque os indígenas lusitanos e os romanos, incineravam os falecidos e os cristãos é que recorriam ao sepultamento ou inumação… (Aqui.)
Outra das raras evidencias de ocupação humana neste período é uma pedra – ajimez – existente no espaço museológico de Vilar Maior, que é considerado um vestígio da ocupação árabe… (Aqui.)
Para além destas evidências físicas, outros indícios decorrentes da ocupação do nosso território pelos árabes, são as referentes a alguns topónimos de origem ou associação árabe, existentes no nosso território.
Continuando na argumentação e tentativa de fundamentação do nosso Teorema do PentaTerritório importa então enumerar na presente crónica os poucos grupos de cinco elementos que podem ser associados a esta cronologia de 700 anos, mais coisa menos coisa, período entre os seculos IV-V e os seculos XI-XII.
Cinco Províncias de Hispânia formaram-se no Séc. IV na actual Península Ibérica
Terraconense | Galécia | Bética | Cartaginense | e a nossa Lusitânia
Cinco povos Bárbaros invadiram a Península Ibérica na Ocupação Romana
Suevos | Vândalos | Vascões | Visigodos | Alanos (Lusitânia)
Cinco sítios com topónimos de origem etimológica árabe… (+ info)
– Qarîja tâti – «povoação/pousada – vigia» (Caria Talaia, Ruvina);
– Ar-rihana – «murta» (Arrifana, anexa de Vilar Maior);
– Al-hait ou Al-haet (?) – «muro, parede ou cerca» (Alfaiates);
– Arrábade – (Arrabalde, Sortelha);
– Al-qanbar – «calhandra, cotovia» (Alcambar, em Vale de espinho).
Cinco freguesias com topónimos de origem árabe formados com o apelativo «aldeia» (ad-dayha), que poderão eventualmente ter sido denominadas assim desde o período da coexistência no território com os árabes… (+ info)
– Aldeia do Bispo;
– Aldeia de Santo António;
– Aldeia da Ponte;
– Aldeia da Ribeira;
– Aldeia Velha.
Bem-hajam pela vossa curiosidade e leitura!
Prá semana temos mais! Até lá! Cuidem-se e cuidemos dos nossos!
Meu abraço dos cinco costados!
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(Continua.)
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«Território dos Cinco Elementos», crónica de António Martins
(Cronista no Capeia Arraiana desde Setembro de 2014.)
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