• O Primeiro
  • A Cidade e as Terras
  • Contraponto
  • Cronistas
  • Documentários
  • Ficção
  • História
  • Personalidade Ano
  • Ficha Técnica

Menu
  • O Primeiro
  • A Cidade e as Terras
  • Contraponto
  • Cronistas
  • Documentários
  • Ficção
  • História
  • Personalidade Ano
  • Ficha Técnica
Página Principal  /  01 - Ficção • Histórias da Memória Raiana • Outeiro São Miguel • Região Raiana  /  Histórias da memória raiana (1.1)
13 Dezembro 2020

Histórias da memória raiana (1.1)

Por Capeia Arraiana
Capeia Arraiana
01 - Ficção, Histórias da Memória Raiana, Outeiro São Miguel, Região Raiana antónio emídio, josé carlos lages Deixar Comentário

:: :: ANTÓNIO EMÍDIO :: :: O Capeia Arraiana inicia este domingo, 13 de Dezembro de 2020, mais um arrojado projecto: «Histórias da Memória Raiana.» A ideia foi lançada no largo com vista para o altaneiro edifício da Escola Regional Dr. José Dinis da Fonseca, mais conhecida por Outeiro de São Miguel e por onde passaram muitos alunos sabugalenses. Semanalmente a história vai avançar com as estórias de personagens próprios e comuns com um novo escriba. Não sabemos quando vai chegar ao fim mas o principal objectivo é preservar digitalmente a memória colectiva da nossa identidade de povo valoroso e corajoso, os que ficaram e os que migraram, com lindas tradições que alimentam o amor à terra e ao desejo de voltar sempre. Vamos arriscar e partir «a salto» com o António Emídio! (capítulo 1, episódio 1.)

Histórias da Memória Raiana - Episódio 1 - António Emídio - capeiaarraiana.pt
Histórias da Memória Raiana – Capítulo 1 – Episódio 1 – António Emídio – capeiaarraiana.pt

:: :: :: :: ::

HISTÓRIAS DA MEMÓRIA RAIANA
Capítulo 1 – Episódio 1

:: :: :: :: ::

A SALTO

Começo com umas palavras minhas tiradas do jornal «A Salto»: «Na entrada da década de 60, do século passado, o Concelho do Sabugal era uma terra perdida no tempo, coexistiam uma aristocracia semi-feudal, uma insípida classe média, uma Igreja Católica conservadora e dogmática (…) uma maioria de trabalhadores rurais vivendo de uma agricultura de subsistência, com uma elevadíssima percentagem de analfabetismo, subservientes, pobres e sem futuro. Com este quadro sombrio, o que restava? Emigrar.»

O António foi a «salto» para França

As chamas bailavam sobre a pedra do lar, lançavam uma luz mortiça e um ténue calor, a tarde começou a adormecer, Maria pôs uma panela de ferro ao lume com água e alguma hortaliça, era o caldo que havia de ser comido à ceia com pão centeio. As três filhas iam ajudando no que podiam, esperavam o Pai e dois irmãos que tinham ido buscar cepas. Pouco faltava para o Céu se cobrir com a capa da negra noite, fazia frio, um frio de Novembro que gelava, ouviu-se então o chocalhar das vacas que vinham puxando o carro com as cepas, o Pai e dois filhos que o acompanhavam começaram a descarregar o carro, deitando a lenha para um cabanal.

Depois do trabalho terminado subiram as escadas de pedra que levavam à entrada da casa, foram para a cozinha e sentaram-se ao lume, uma das filhas ia deitando sal e um fio de azeite para temperar o caldo, um fumo acre que se espalhava pela cozinha feria-lhes os olhos. Comiam em silêncio à luz de uma candeia, de repente uma rajada de vento fez tremer o telhado da cozinha, todos olharam para cima receosos, mas o vento depressa adormeceu.

O Pai bebeu o último copo de vinho e fumou o último cigarro antes de se ir deitar, os dois filhos seguiram-no. O rapaz mais velho, o António, desceu as escadas e entrou na loja das vacas, aí dormia, coberto com duas mantas sobre uma enxerga de feno. O Luís entrou num pequeno palheiro junto à casa onde tinha uma tosca cama de madeira. A Mãe e as irmãs ainda ficaram a limpar a cozinha, depois foram também deitar-se. Dormiam os cinco no mesmo quarto, o pai e a Mãe numa cama de ferro, e as três irmãs em duas estreitas camas separadas das dos pais por um tabique de madeira, com uma porta tapada com uma cortina de chita.

O António não conseguia dormir, pensava na pobreza da família, queria emigrar para França, quase todos os rapazes da aldeia já tinham partido, só ainda não tinha tomado a decisão devido à namorada, não se queria separar dela. Sentiu que a porta da loja se abria, não se apoquentou, sabia o que era, o Pai tinha ido à loja satisfazer as necessidades… O António também só tinha visto uma vez, em casa do médico da Vila, uma sanita e um bidé de ferro.

Ao outro dia, um Domingo, o António antes da missa, e na taberna, falou com uns rapazes que iam emigrar clandestinamente.

Passado um mês, deixou a aldeia e partiu para França pelo caminho de Aldeia da Ponte «a salto».

O Luís ingressou no Outeiro…

A camionete parou na Guarda-Gare, o Luís, acompanhado da Mãe e do Pai, percorreu o caminho que o levou ao Outeiro de São Miguel. Levavam uma mala e umas bolsas com roupa. À chegada, entraram na portaria, o senhor Ernesto foi a primeira pessoa que os recebeu:

– O rapaz vem para o colégio estudar ?
– Vem sim senhor – disse o pai.
– Como é que ele se chama?
– Luís.
– Luís quê?…

O Pai disse o nome completo.

O Padre Geada, a «alma» do colégio, entrou nesse momento, e quando viu o Luís dirigiu-se a ele e perguntou-lhe:

– Vens estudar para aqui?
– Venho sim, senhor padre.

A Mãe, que até ao momento tinha estado calada, entabulou uma conversa com o Padre Geada:

– Sabe senhor padre, nós somos muito pobres, quem paga para o meu filho cá estar é o irmão, o António, que está em França e manda-nos o dinheiro.

– Está muito bem! – respondeu o padre Geada que nesse momento enxergou, ali por perto, um aluno que já frequentava o colégio.

– Ó Fernando Capelo!
– Diga senhor padre Geada.
– Vai ensinar os cantos à casa aqui ao Luís, que vem para cá estudar este ano…

:: :: :: :: ::

Agora compete-te a ti, amigo Capelo, mostrar-nos a todos o Outeiro de São Miguel e acrescentares os teus protagonistas.

:: ::
«Histórias da Memória Raiana», (episódio 1), por António Emídio

:: :: :: :: ::

HISTÓRIAS DA MEMÓRIA RAIANA

Este é um projecto que ando a magicar há muito tempo. Tentar escrever uma história com muitas estórias com as diferenças de estilos dos vários escribas.

No «Mistério da Estrada de Sintra», um folhetim romanceado, os escritores Eça de Queirós e Ramalho Ortigão foram acrescentando alternadamente estórias à história que era publicada semanalmente no Diário de Notícias.

O objectivo, a partir de hoje, é publicar semanalmente ao domingo a continuação das estórias desta história que ser colectiva e imprevisível. E colectiva porque iremos acrescentar memórias e momentos à história das gentes e das terras raianas.

O projecto é ambicioso, nunca tentado, mas… como gostava de dizer um brilhante director de produção televisiva com quem tive o privilégio de privar: «Se fosse fácil não era para nós!»

:: :: :: :: ::

A emigração nas regiões raianas nos anos 60 foi sobretudo para França mas também muitos houve que imigraram para Lisboa e outras cidades portuguesas. A todos aqui fica a nossa homenagem.

:: :: :: :: ::

Les gens du salto – Um filme sobre a emigração portuguesa para França

:: ::
José Carlos Lages

Partilhar:

  • Tweet
  • Email
  • Print
Capeia Arraiana
Capeia Arraiana

Diariamente desde 6 de Dezembro de 2006.

 Artigo Anterior Fui levar o meu netinho à escola
Artigo Seguinte   Casteleiro – estórias da vida e da Tropa! (1)

Artigos relacionados

  • Histórias da memória raiana (2.4)

    Domingo, 18 Abril, 2021
  • Histórias da memória raiana (2.3)

    Domingo, 21 Março, 2021
  • Histórias da memória raiana (2.2)

    Domingo, 14 Março, 2021

Leave a Reply Cancel reply

Social Media

  • Conectar-se no Facebook
  • Conectar-se no Twitter

RSS

  • RSS - Posts
  • RSS - Comments
© Copyright 2021. Powered to capeiaarraiana.pt by BloomPixel.
loading Cancel
Post was not sent - check your email addresses!
Email check failed, please try again
Sorry, your blog cannot share posts by email.