O Verão é mais de euforias e de calores lisonjeados. O Inverno, habituado a retornar quase subitamente, entra na estafeta do tempo com ares contestatários. Vem, de resto, envolto em frio, macambuzio e atabalhoado como quem tenta moderar júbilos.

Num ai, damos connosco em dezembro, um mês gelado e penitente.
Apresenta-se, pois, carregado de trinta e um dias, todos eles minguados, embora filhos das mais longas noites. Traz em mente a imposição de um frio lancinante e a exoneração do ano velho. Carrega, apesar disso, a escolta de um tédio contido.
Claro que o tédio, sendo ecuménico, não é apenas inverniço. Ele pode germinar no âmago atenuado do calor estival. Mas medra muito bem num frio gélido depois de suficientemente aquecido e tece, aí, ensejos a caminho do vazio.
Ora, dezembro possui um ambiente auspicioso a tempos mortos que, fazendo avolumar o nada, pesam num passar desocupado e vagabundo.
Visto apenas desta forma, o mês mais enregelado do ano seria de enormes inflexões, capazes de engolir transvios de horas ou de dias.
Mas, decididamente, dezembro não é, só, isso. Ele será, sim, sorumbático mas também é instigador de desejos, dado a balanços, sonhos e pretensões. É ainda mobilizador de convictas alegrias. Basta-nos recordar o Natal.
E, no que diz respeito à melancolia, sinceramente, acalenta-me a ideia da sua utilidade. Ela pode tornar-se numa força capaz e dinamizadora. Junte-se-lhe uns pozinhos de alento, misture-se-lhe alguma serenidade e nascerão, certamente, empolgados estímulos. Enfim, chegarão aos momentos parados musas raras limpando a esterilidade, a prostração e o comodismo, fazendo nascer a motivação.
O que, de facto, não valerá a pena é alongar demoras fúteis e desmazeladas e muito menos sustentar depressões.
Valorize-se, pois, neste mês de dezembro, o tempo do nada e, em vez de tédio, abrir-se-à um campo de florescimento à inspiração.
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«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
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