As cepas, ou raízes dos carvalhos que ficaram na terra com o corte destes, eram um bom combustível para as lareiras que aqueceriam as casas no Inverno, quando já não havia moitas para desbastar ou não as queriam cortar.

Em tempo seco no Outono contratavam-se homens possantes para puxar ao enxadão que levantaria as raízes dos carvalhos para o cimo da terra. Vinham carregadas de terra e de pequenas pedras, que era preciso retirar-lhes, acto a que chamavam destarroar (desterroar). Duas ou mais mulheres munidas de ganchos executavam esse trabalho nas cepas entrelaçadas. Um carro de vacas com estadulhos transportá-las-ia para o curral ou telheiro dos proprietários do terreno. No fim de alguns dias de sol estavam secas e prontas a ser utilizadas no lume. Em casa de meus pais eram muito utilizadas.
Nos campos da antiga moita entretanto cortada brotavam abróteas que alimentavam porcos, cortadas em pedaços e metidos estes no caldeiro da vienda (vianda). Aproveitavam esses dias para as recolher, trabalho feito, em geral, pelos filhos do dono do terreno. Mas outros que não tinham terrenos procuravam-nas em terrenos alheios para alimentar os seus porcos, já que também não dispunham de tarrábias, batatas ou botelhas para os alimentar.

A esse trabalho duro de arrancar as cepas, mas habitual no quadrazenho, dedico estas quintilhas…
As Cepas e a Abrótea
É um dia de soalheiro,
Mas o frio já virá.
Vamos arrancar as cepas
Com enxadão do ferreiro.
O Inverno não tardará!
Os homens sem maneirinhas
Enterram o enxadão.
As mulheres com os ganchos
Aguardam saiam do chão
P’ra tirar terra e pedrinhas.
Aos meninos e meninas
Outra tarefa lhes dão.
Vão à abrótea pr’ó porcão,
Que em breve eles matarão.
Boa carne nas retinas!
Turvou-se o céu, caíu chuva.
A neve não tardará.
Quem ficou sem uma tora
Esses dias maldirá.
Cantaste? Pois dança agora!
Lá dizia um quadrazenho
Já depois do pai jacente:
Quando antes era pr’a trás,
Agora é tudo pr’à frente.
Mas só no lume, dirás!
Que quentinho está o lume
Com estas cepas benditas!
São dos carvalhos raízes.
Pareciam só estrume,
Mas até assam perdizes.
Aqueçam-se, meus garotos,
Enquanto destas houver.
Pr’ó ano logo veremos,
Será o que Deus quiser.
Que lume em nada maroto!
De pinho ou castanheiro
Se faz também bom braseiro.
Prefiro o lume de cepas
Que não faz tantas mixanas.
Assar carne me dá ganas!
Já não darás mais boguelhas
Pr’a no Entrudo deitar.
Agora quer o destino
Tuas raízes queimar.
Aquece bem estas velhas!
Nem samancos me darás
Para andar por sobre a neve.
Porém tu me aquecerás
Como bem se quer e deve.
Contente assim me porás!
Ouçam bem com atenção,
Aprendam esta lição:
Que não deixem estragar
E possam aproveitar
O que está dentro do chão.
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«Lembrando o que é nosso», por Franklim Costa Braga
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