Foi com muito agrado e enorme satisfação que no decorrer das leituras sobre o nosso território encontrámos uma possível resposta para um dos enigmas da nossa parca existência, relacionado com a nossa naturalidade e vivência no Soito e no que diz respeito ao místico nome – Serra do Homem de Pedra – porque sempre nos intrigou a origem ou razão daquela denominação. Por que raios teria sido escolhido aquele nome?…

Calcorreámos, na juventude e adolescência, aquela serra de lés a lés, muitos e muitos dias, nas diferentes estações de muitos anos. A nossa família tem uma Devesa (nos Urejais), onde íamos com muita frequência cortar lenha e porque tínhamos lá gado bovino que se apascentava naquela serra. Sempre tivemos um fascínio especial por aquela propriedade, em que os muros em pedra que cercam os 35 hectares terão levado cerca de dois anos a erigir (ver vídeo) e constituem-se pela sua dimensão e arquitectura como uma pequena muralha rural, que ronda cerca de um século de existência e a qual cremos ser a única devesa que existe na região com aquelas características.
Naquela fase e época foram experiências e vivências de contacto e ligação com a natureza, das quais ficámos refém e às quais queremos sempre voltar, em longas caminhadas para manter, estruturar e reforçar o nosso equilíbrio e bem-estar. A busca constante do homem de pedra continua, ou agora será mais a procura e maior proximidade a DEUS – Deus Sive Natura – do Bento Espinosa.
À margem da actividade pecuária de família e daquelas obrigações familiares e incursões permanentes pela serra, persistia em nós uma constante e misteriosa curiosidade pela busca e identificação de um possível lugar ou barroco, que pudesse estar na origem do nome “Homem de Pedra”.
Podem ser as nossas memórias afectivas, mas toda a serra e seus barrocos, bosques de carvalho, rosmaninhos, giestas, tojos, urzes, zonas de pastos e seus ribeiros daquele lugar, causam ainda hoje a quem por ali se aventura, um deslumbramento especial. (ver vídeo)
Todo o barroco tinha e causava o seu fascínio, pela geometria, dimensão, ou configuração, textura, cor ou pela sua localização ou posição que ocupava no terreno e no espaço. Mas nunca foi possível assegurar com alguma, ainda que, com vaga ou especulativa firmeza, que aquele nome se devia ou poderia ter advindo de esta ou aquela pedra, barroco, figura ou lugar.
E como em muito na vida, quando deixamos de procurar ou indagar, é no virar da esquina ou quando menos esperamos que nos surge a resposta ou solução para as nossas dúvidas e anseios. É na descontração e não na tensão que se dá com a solução. E assim foi na presente situação, sem procurar, surgiu-nos agora a resposta que deu alguma saciação à mística e prolongada curiosidade.
Quando líamos alguns documentos demos com este artigo de Vilaça, Osório & Santos (2011), com o título «Uma nova peça insculturada da região raiana do Sabugal (Beira Interior, Portugal): uma primeira abordagem» o qual veio pôr cobro uma inquietação de anos, na medida em que decorrente daquele estudo é possível inferir que foi encontrado o «Homem de Pedra».
Ainda que os autores do estudo não consigam garantir que foi encontrada a figura ou a pedra que deu nome à serra ou se foi a serra que incentivou à criatividade dos habitantes a esculpir aquele monólito/estela, um facto é que aquela obra pode com alguma firmeza ser associada à Serra do Homem de Pedra.
E esta oportunidade de conhecer uma remota possibilidade de ter-se encontrado o monólito «Homem de Pedra», foi imediatamente convertida e assumida por nós como a resposta definitiva, que põe fim a uma inquietação decorrente de uma extensa exploração individual, ao ver agora desvendado assim este mistério e nosso questionamento de longa data.
Pois referem os autores do estudo, que pode muito bem ser associado a origem daquele monólito a «um recinto pétreo subcircular, composto por dois anéis concêntricos com um diâmetro máximo de 56,80/58m». Este local e configuração surge em documentos e estudos arqueológicos referenciado como espaço arqueológico de relevância e interesse turístico, denominado por «Estrutura Circular da Serra do Homem de Pedra».
Salientam ainda os autores naquele estudo em apreço sobre o monólito que «parece evidente que o mesmo é – um homem de pedra – e que – homens de pedra – poderiam ser colocados no centro de estruturas pétreas, com e sem tumulus, isto é, definindo espaços monumentalizados de carácter evocativo, comemorativo, sepulcral, sagrado, ritual, etc.»
E é tudo quanto nos basta para já, dado o entusiasmo que foi para nós este singular mas tão significativo conhecimento desta descoberta.
Procurámos nós tanto por algo que fosse associado ao nome daquela serra e nada encontrámos. Caso para dizer-se, pois como raio havíamos de o encontrar se o Homem de Pedra estava abrigado numa casa particular em Aldeia Velha e não na serra e no local a que pertencia. O Homem de Pedra abandonou a serra e foi viver para a aldeia.
Foi curiosa também a forma como se descobriu a existência deste monólito. Segundo reportam os autores foi após indicação do seu proprietário, o Sr. Ulisses Pires, morador em Aldeia Velha, em que no decurso de uma visita à exposição permanente do Museu do Sabugal, aquele informou os respectivos serviços que possuía uma pedra semelhante às estelas dos Fóios e do Baraçal que estavam patentes na exposição. Contribuindo assim o nosso conterrâneo para o enriquecimento patrimonial do nosso território, a quem retribuo, pela parte que me toca, o meu agradecimento por tão agradável partilha com todos nós.
E para que outros conterrâneos conheçam tanto ou quanto de nosso existe no território dos cinco elementos, prossigamos com a divulgação pentapatrimonial do concelho, pois quem sabe quantos mais de nós poderão vir a contribuir para enriquecimento do nosso Penta-território, tal como o nosso conterrâneo de Aldeia Velha, (Ti) Ulisses, nome épico por sinal, que, caso nunca tivesse entrado no museu e visto pedras iguais à do seu quintal, nunca teria tido conhecimento da importância de uma simples pedra, nem informado do real paradeiro do místico e emblemático Homem de Pedra.
Partilhamos então os grupos de cinco elementos do património arqueológico da crónica desta semana, que vão desde a Idade do bronze 3300 a.C.-1200 a.C. até à Idade do Ferro, 1200 a.C.-586 a.C.
Cinco Estelas Insculturadas de finais da Idade do Bronze
Duas encontradas no Baraçal, outra nos Fóios, outra no Sabugal, outra em Aldeia Velha. Mais info… (Aqui.)
Cinco espaços arqueológicos de relevância turística
1. Dolmen/Anta da Sacaparte
2. Caria Talaia (Ruvina)
3. Necrópole com mais de 30 sepulturas antropomórficas em Aldeia do Bispo. Mais info… (Aqui.)
4. Calçadas Romanas e Medievais de Bendada/Sortelha
5. Estrutura Circular da Serra do Homem de Pedra no Soito (local de origem do monólito «Homem de Pedra»)
Cinco Potes da Idade do Bronze Final
(Imagens do Espólio Arqueológico do Museu Municipal)

Cinco povoados da Idade do Ferro (para além das aldeias medievais)
– Matrena – Aldeia da Ponte
– Carrascal – Aldeia da ribeira
– Alto do Carrapito – Forcalhos
– Serra D’ Opa – Casteleiro
– Castelos de Ozendo
Cinco povoados fortificados
– Senhora do Castelo (Bendada)
– Serra das Vinhas / Cabeço dos Mouros (Penalobo)
– Seixo Branco (Aldeia da Ribeira)
– Povoado da Serra Gorda (Águas Belas)
– Castelejo – São Cornélio (Sortelha)
Cinco cossoiros da Idade do Ferro
(Imagens do Espólio Arqueológico do Museu Municipal)

Bem-hajam pela vossa curiosidade e leitura! Prá semana temos mais! Até lá! Cuidem-se e cuidemos dos nossos!
Meu abraço dos cinco costados!
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(Continua.)
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«Território dos Cinco Elementos», crónica de António Martins
(Cronista no Capeia Arraiana desde Setembro de 2014.)
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