:: :: BENDADA :: :: Algumas aldeias raianas foram fustigadas pelos soldados napoleónicos entre Julho de 1810 e Abril/Maio de 1812. Em Julho de 1810, após a tomada de Almeida realizaram razias nas aldeias raianas. Na retirada, em Fevereiro ou Março de 1811, entraram no concelho de Sabugal, vindos da Guarda, deixando um rasto de violência e destruição por onde passaram. Em Abril de 1812, aquando da quarta invasão, as populações foram, mais uma vez, vítimas das barbaridades dos invasores. Muitos arquivos foram destruídos! Provavelmente não houve aldeia do concelho de Sabugal que não tivesse a «honra» de os receber!
1811 – MORTOS PELOS FRANCESES
«Em o dia vinte de Março do anno de mil outo centos e onze junto à quinta do Souto freguesia de Santa Luzia da Bendada matarão os franceses diretamente Manoel da Costa casado com Maria dos Reis natural e morador na sobredita quinta teria de idade sessenta anos e foi sepultado no campo para constar fiz este termo que assino em o dia quinze do dito mez de junho do sobredito anno.
O Encomendado Clemente José Lopes.» (1)
Em 22 de Março:
– Nas montanhas, Manoel Vaz Leal natural deste lugar, teria de idade quarenta anos.
– Manoel Rodrigues natural deste lugar, era casado, teria de idade trinta e cinco anos.
– Manuel Ramos de quarenta anos.
– João da Cruz Vicente de quarenta anos, casado com Maria Martins.
– João Luís da Cruz de quarenta e cinco anos, casado com Maria Antónia.
– Manuel Filipe, da quinta de Rebelhos, casado com Maria Pinta.
– Manuel Esteves Miranda da quinta de Rebelhos.
– Manuel Esteves da quinta de Rebelhos.
– Dionísio Esteves Marraixo da quinta de Rebelhos.
Em 23 de Março, José, filho de Macário Vicente e de Maria Rodrigues, apareceu morto junto da vila de Sortelha, «julgando morrer com fome, teria de idade onze anos».
1812
– Teresa Raixada, solteira, natural e moradora na Bendada, foi morta pelos franceses em 15 de Abril de 1812, foi sepultada no adro da igreja.
Mais um testemunho de como os soldados napoleónicos não deram tréguas às populações. Além do elevado número de mortos civis, a destruição trouxe a miséria e alguns morreram de fome.
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(1) Arquivo Distrital da Guarda, Paróquia da Bendada, Livro de Registo de Óbitos.
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«Memórias de Sortelha», opinião de António Gonçalves
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2019)
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Boa noite Silvestre
Sobre o Soito fiz e publiquei… (Aqui.)
Conheço a Senhora da Granja no Soito, mas desconhecia a lenda que parece interessante.
António Gonçalves
No Soito consta que foram mortas bastantes pessoas em particular numa zona mais alta que chama o Forte. Os franceses saqueavam e destruíam as culturas e levavam tudo o que lhes interessava; o pior de todos, (não sei se por ali passou, mas nas investidas a norte do país sim) era o maneta que tudo roubava, daí quando alguma coisa desaparece se afirmar: «se calhar já foi para o maneta!»
Bom dia.
No Soito não sei quantos morreram, nem sei se alguém já fez o inventário, mas seria interessante fazê-lo. Há alguns relatos de gente a quem roubaram os bens e outros que foram mortos em número significativo; sendo uma aldeia com muita população, certamente muitas vidas foram ceifadas nesses anos malditos.
Há no entanto, uma lenda, para os que não conhecem que relata a história de uma mãe que carregando o filho nos braços, fugindo ás tropas francesas e não podendo mais, o largou escondido numa zona de campo; passados oito dias voltou ao local temendo o pior, e eis senão que o filho se encontrava de boa saúde e alimentado.
Tendo-lhe a mãe perguntado como teria sobrevivido, disse logo que era uma senhora que aparecia todos os dias para tratar dele.
Daqui nasceu uma grande devoção á Nossa Senhora da Granja ou também designada Nossa Senhora dos Prazeres, onde há hoje um grande Santuário e se realiza todos os anos, no fim de semana a seguir á Páscoa,uma grande festa em sua honra que atrai não só residentes, mas também as gentes da diáspora e muitos forasteiros juntando todos os anos cerca de 2.500 pessoas.
Silvestre Rito