Nestes territórios perdidos mergulhados na imensidão das florestas encontra-se sempre um templo ou uma igreja cristã, aqui, ali e acolá, que procura resistência da influência do crescente, que aos poucos, tem conseguido penetrar na selva africana.
No Leste de Angola, isto é no Interior, ou mesmo no outro lado da fronteira, na Républica Democrática do Congo, tem-se constatdo uma presença muçulmuna muito devido ao comércio essencialmente dominado por malaios, mauritanos e libaneses.
Muitos temendo o que se passa no Norte de Moçambique, ainda vão respirando dada a forte presença da influência cristã, mostrando que estas gentes cultivam uma cultura espiritual com efeitos muito benéficos para a sua sobrevivência, não deixando de ser um ensinamento às ditas culturas ocidentais, hoje, baseadas no materialismo e no facilitismo, onde a falta de alcool-gel, como exemplo, é uma verdadeira tragédia.
Os povos do interior de África, igualmente longe de grandes metrópoles, desenvolveram um conceito de autonomia sustentada, onde a Graça de mais um dia é sempre motivo de oração pelos crentes cristãos. Igualmente a hora da refeição, nem que seja apenas «funge», o seu principal alimento à base de mandioca e milho, é precedida de Acção de Graças.
E o mais espantoso é que os crentes são mesmo, de facto, crentes. Acreditam que Deus, e o seu filho Jesus Cristo, estão do seu lado, desprezando luxos ou outros bens supérfluos que em nada contribuiu para uma verdadeira riqueza.
A aposta na família e na solidariedade são aspectos que não via há muitos e muitos anos. As famílias são numerosas porque o Senhor assim o quer e, ao contrário do que se pensa, não passam fome ou privações. Em situações de aflição há sempre uma «mão» amiga que aparece e tenho tido oportunidade de presenciar.
Não me esqueço de uma criança que deslocou o osso do fémur, desesperava de dores, na esperança do milagre do ortopedista aparecer mas foi um enfermeiro de um centro de saúde de um bairro carenciado, que conseguiu colocar o osso da menina no lugar.
A Fé, ou fé, daquela mãe, pessoa de poucos recursos, que fez uma viagem de 80 km numa furgoneta, levando a menina ao colo a chorar de dores, acabou por se resolver num dado dia, num dia que apareceu, porque uma mãe nunca deixa de lutar, mesmo que não sinta a «segurança» do Estado Social e de um bom salário.
Os carros alemães que proliferam nas estradas europeias, num contexto de ser o tal «motor» da economia da Zona Euro, aqui não existem. E nem por isso não se deixam de fazer deslocações, mais ou menos, confortáveis e sem avarias. O importante é deslocar em segurança, a marca pouco importa.
Mas a roupa é importante. Num domingo ninguém ousa vestir-se mal. Há o fato, ou vestido, domingueiro, religiosamente guardado para as ocasiões especiais. Como é possível, pergunto-me sabendo as dificuldades que passam. Mas pensando bem é a dignidade que ajuda a que no domingo, dia santo para os cristãos, seja marcante para se acreditar num amanhã.
«A Fé move montanhas», e realmente é verdade. Acreditar, lutar, sentir dignidade e respeito, valores que na Europa parecem não fazer sentido.
Enganem-se pois, caros leitores e leitoras, que por estas bandas vive-se infelicidade. Seguramente há os tais altos e baixos, mas a vida e alegria são «sabores» que nunca esquecerei até ao final dos meus dias.
Terei Fé em regressar, saudável e feliz?
Porque não. Até irei com mais cabelos brancos. Algo que sempre gostei!
Cuílo, 17 de Novembro de 2020
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«No trilho das minhas memórias», por António José Alçada
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Junho de 2017)
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