Continuemos então na divulgação e enumeração da diversidade de grupos de cinco elementos que são constituintes deste território. Se são coincidências, mística especial, especifica, fortuita, ocasional, fantasiosa ou se trate meramente de um viés interpretativo, não vem ao caso, mas uma coisa é certa, apuramos ser uma constatação com alguma relevância, pelo que insistimos na apresentação de novas evidências…

Não nos foi possível resistir à partilha do estudo e pensamento de outros, que são por sinal e sem qualquer comparação possível, bem mais ilustres pensadores que o mero curioso desta escrita, pelo que começo a crónica de hoje invocando a espiritual sapiência do Cardeal José Tolentino Mendonça o qual nos diz que «talvez um dia uma palavra, um rosto ou um destino qualquer, eleito ao acaso, sirva para revelar tudo: para nomear o entusiasmo e a dor, o vislumbre e o combate, a razão e o enigma que existir significou e significa. Passam anos e o que resta deles? Vivências. Sim. Restam as marcas de que estivemos aqui, de que habitámos estações diferentes com a mesma mansidão ou o mesmo furor, de que tentámos sobreviver ao amor, ao desamparo e à morte com tudo o que tínhamos à mão, de que partilhámos, de que cremos e negámos coisas diferentes e até a mesma coisa, de que coexistimos nos nossos encontros e na nossa irredutível solidão. Restam de nós vestígios, documentos de vário tipo, pegadas. Restam o pó e o silêncio dos ossos. Mas não só: de uma forma que não sabemos, o escasso lume que fomos perdura e serve a outros para continuar.»
Na pesquisa e análise documental efectuada para redacção desta crónica, apuramos que não existe consenso entre os diferentes especialistas, historiadores, arqueólogos, antropólogos e afins, quanto aos primeiros habitantes e povos do nosso território, assim optamos por manter a versão que consta numa das melhores obras sobre o património do nosso concelho, a versão do especialista consagrado e multifacetado, nosso conterrâneo Joaquim Manuel Correia, até porque o seu argumento integra-se no grupo dos cinco elementos e facilita a teoria do nosso «pentagrama».
Percebemos também nesta análise documental que existe um soberbo e extenso trabalho da equipa ou núcleo de arqueologia do município, com imensa obra publicada, sobre os mais variados temas arqueológicos e história do nosso território. Aos mentores daquele esforçado e garboso trabalho, o nosso reconhecido elogio e agradecimento. Fazemos votos de «muita e boa escavação» para que o nosso passado e todo o seu acervo descoberto nos permitam aceder e compreender melhor a história completa das nossas raízes.
E como arqueologia e antropologia não deve ser só passado, importa também referir, em jeito de desafio, que é deveras importante preservar muito do que existe no presente, para que não seja necessário escavar no futuro. Pois como defendia Michel Certeau «o quotidiano é o que nos revela mais intimamente».
O futuro é imparável e não há tradição, instrumento ou objecto que seja eterno, mas o preservar e manter muito do nosso património será um exercício preventivo e não curativo, da manutenção, para sobrevivência e bom estado da cultura e história dos povos.
É mais fácil prevenir a destruição do que tratar ou recuperar.
Será sempre melhor e mais fácil prevenir o cancro e a doença em geral, do que confiar em qualquer eventual tratamento ou contar que existe sempre cura.
Nada do que temos é nosso, apenas o recebemos dos antepassados, mas foi-nos emprestado pelos nossos descendentes. Estes herdarão o que lhe deixarmos, uma mão-cheia de muito, se for bem preservado ou uma mão-cheia de nada, se optarmos por destruir ou desfazer-nos do muito e do tanto que herdámos dos nossos antepassados.
Se uma anta, uma muralha, uma ponte, uma casa em pedra, um habitat, uma espécie, ser vivo ou um ecossistema desaparece, na grande parte das situações não foi azar natural, descuido ou resultado de mero furto, mas sim resultado de acção humana nada previdente ou então consequência de um assalto ao colectivo, com permissão e facilitismo de quem assistiu e o permitiu, em que um ou outro individuo pode ganhar, mas todos os outros ficam mais pobres. E não devem os interesses do individual sobrepor-se às necessidades do colectivo ou do comunitário.
Voltando a socorrer-nos do mestre Tolentino Mendonça, que no seu discurso das comemorações do Dia de Portugal, a 10 de Junho de 2020, contou uma história atribuída à antropóloga Margaret Mead, que ao ser inquirida, por um aluno, sobre qual seria o primeiro sinal de civilização? Mead não referiu os machados, os potes, uma anta, as aras votivas, as pinturas rupestres ou outros achados arqueológicos. Ela identificou como «primeiro vestígio de civilização um fémur quebrado e cicatrizado».
Salientado que naquela época, no reino animal «um ser ferido com uma perna partida estaria automaticamente condenado à morte» pois seria presa fácil para outros predadores. Nenhum animal sobrevive com uma perna quebrada por tempo suficiente para o osso sarar. Assim um fémur humano fracturado mas sarado «documenta e comprova a emergência de um momento completamente novo… quer dizer que uma pessoa não foi deixada para trás, sozinha; que alguém a acompanhou na sua fragilidade, dedicou-se a ela, oferecendo-lhe o cuidado necessário e garantindo a sua segurança, até que recuperasse».
Concluindo o Cardeal com esta estória que «a raiz da civilização é, por isso, a comunidade. É na comunidade que a nossa história começa. Quando do eu fomos capazes de passar ao nós e de dar a este uma determinada configuração histórica, espiritual e ética».
Divulguemos o que pertence à nossa comunidade, o que nos une, o nosso «Nós» e do que é nosso património colectivo de cinco elementos. Desta feita, a crónica de hoje, vai desde os primeiros povos, do neolítico, 5000 a.C–4300 a.C, até ao período do calcolítico 4300 a.C–3300 a.C.
CINCO PERÍODOS HISTÓRICOS DO NOSSO CONCELHO
1) Pré-História;
2) Proto-História;
3) Época Romana;
4) Época Medieval (Reino de Leão e Reino de Portugal);
5) Época Moderna
Cinco primeiros possíveis povos/habitantes primitivos a ocupar o território:
Vetónios | Váceos | Astures | Carpetanos | Galaicos.
Cinco Antas/Dolmens do período Neolítico em Ruivós (IV e III milénio a.C.)
Actualmente só já existe um Dolmen em Alfaiates. Mas há evidencias da existência de outras cinco em Ruivós, lamentavelmente desaparecidas… (Aqui.)
Cinco locais de altitude onde a ocupação humana foi pródiga na Idade do Bronze
Serra Gorda (Águas Belas) | Castelejo (Sortelha) | Cabeço das Fráguas (Pousafoles) | Caria Talaia (Ruvina) | Vila do Touro.
Cinco achados do período pré-histórico: 5 Machados
(imagens do Espólio Arqueológico do Museu Municipal)

Bem-hajam pela vossa curiosidade e leitura! Prá semana temos mais! Até lá! Cuidem-se e cuidemos dos nossos!
Meu abraço dos cinco costados!
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(Continua.)
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«Território dos Cinco Elementos», crónica de António Martins
(Cronista no Capeia Arraiana desde Setembro de 2014.)
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