Mais algumas notas sobre os dias de «hoje» (meados do século XX): como eram as gentes e a terra nesse tempo? Para mim é sempre uma honra falar disso… Finalmente, registo para a continuação da leitura e comentários sobre o Casteleiro no século XVIII, basicamente pela pena do Padre Cunha Leal.

Hoje, apetecia-me trazer outro título: «Casteleiro – Memórias amenas e envolventes…» Mas a coerência obriga. É que… Grandes memórias estas que sempre me assaltaram quando falo ou escrevo sobre a minha aldeia. Só consigo referir metade das que me assaltam ou nem isso! Hoje vão aqui mais uns laivos para si, estimado(a) leitor(a).
Esta palavra alçapão…
«Quando, em roda de amigos beirões contava em síntese a história do «postigo» (que alguém logo emendou para «bestigo», forma bem mais genuína – como já aditei em comentário), houve quem dissesse logo: – Então e os alçapões?». Vamos lá então ler o resto… (Aqui.)
O valor das palavras do Povo
«Há palavras e expressões que nos anos 60 têm um significado profundo e subliminar que hoje nem se imagina. Na maior parte dos casos, o regime e a Igreja fizeram bem o seu papel: sedimentaram em cima da ignorância do Povo o significado que quiseram para cada palavra. Um exemplo. A Maçonaria combatia o regime? Então, tudo o que é mação é mau. Passaram esta ideia de base para as pessoas, repetiram isso até à exaustão e… nem preciso de explicar mais nada. De cada vez que se queria dizer que Fulano ou Sicrano era mau, tinha mau íntimo etc., bastava dizer: Aquilo é um maçónico!». Escrevi isto há quase 10 anos. Leia o resto, OK?… (Aqui.)

A minha aldeia nos idos de 1758
Continuamos portanto hoje a conhecer e estudar as respostas do Cura Leal às perguntas do Governo do Marquês de Pombal, em 1758. Vamos para as últimas perguntas do grupo II do inquérito referido, sobre as Serras da zona:
(Pergunta do Governo, continuando a falar de Serras)
10 – A qualidade do seu temperamento?
(Resposta do Cura Leal)
– O temperamento destas duas Serras assima declaradas, he frio, mas saudavel.
(Meu comentário)
>> Ou seja: também para o Cura Leal o tempo frio só faz é bem: mata a bicharada da horta… As duas serras de que ele aqui fala, recordo, são a Serra d’ Opa e a Serra da Preza. «Temperamento» é claramente a temperatura, como dizemos hoje.
11 – Se há nela criações de gados, ou de outros animais, ou caça?
– Cria-se nas taes duas Serras gado meudo, e caça, coelhos e perdizes.
>> Bom: a caça, os coelhos e as perdizes não se criam: existem em determinados ambientes, como este das duas referidas serras. O gado miúdo a que se refere devem ser as ovelhas e as cabras.
12 – Se tem alguma lagoa ou fojos notaveis?
– Nesta Serra chamada Preza, acha-se em todo o meio os alicerces de huma grande preza, que ali houve antigamente, donde a Serra tomou o nome de Serra da Preza; e agora desta Preza, se conta, a queriam em tempos antigos levar por canos aonde chamam a Torre dos Namorados, distante della quatro ou sinco legoas; e nesta mesma Serra, há huma Crux, quéchamam da Relva Velha, para a parte do Lugar chamado Escarigo, tem a Mitra duas partes em todos os fructos, e a Comenda huma.
>> Primeiro: «fojo» é na prática um pântano perigoso. Não sei se era por isso, mas ali pelo vale que leva a Sortelha, do lado direito do Marneto, há uns terrenos que são o Fojo». Mas o Cura não fala disso: ou à época não se chamava assim ou o Padre desconhecia – ou não lhe deu importância… Chamo a atenção para a expressão «levar por canos». Os canais de rega, afinal, não são novidade do século XX na nossa zona… Quanto à Mitra e à Comenda: são títulos de benefícios daquela época, em geral para proveito de membros da Igreja e das Ordens ou então se senhores locais… E era esse o caso lá para os lados do Escarigo, citado pelo Cura Leal… Aliás, notemos que à época parece mais importante (pelo menos para o Padre Leal) a Serra da Preza do que a Serra d’ Opa – da qual praticamente não fala).
13 – E tudo o mais que houver digno de memória.
– E da mesma Crux, para a parte do mesmo Lugar do Castelleiro, terá a Comenda duas partes, e a Mitra huma, em todos os fructos.
<< Portanto, nesse tempo, os benefícios da minha terra eram divididos em 3 partes: duas para a Comenda e uma para a Mitra. O Povo, já agora, comia as batatas e vá lá, vá lá…
(Continua na próxima semana.)
Obrigado. Boa semana para todos nós.
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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
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