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13 Novembro 2020

Castanheiros e castanhas

Por Franklim Costa Braga
Franklim Costa Braga
Lembrando o que é nosso, Quadrazais castanha, castanheiro, franklim costa braga Deixar Comentário

A castanha foi, antes da batata, a base da alimentação do quadrazenho, que a comia assada ou cozida ao almoço (pequeno almoço das cidades), assim como ao jantar (almoço das cidades). Também se fazia sopa com elas, quando secas no caniço e pisadas (piladas), o caldudo. Há um dito sobre as castanhas pisadas: Há que as comer em Maio para não lhes montar o burro. Desconheço o porquê deste dito.

Castanheiro
Castanheiro

Por tudo isto, o castanheiro era uma árvore muito querida, a quem acudiam quando algum ardia, devido a raio ou outra causa. Havia castanheiros que pertenciam a várias pessoas, tendo que se fazer partilhas das castanhas na apanha. Os rapazitos e alguns crescidos jogavam o castelo, como se fosse o bicho, com castanhas já granditas mas ainda verdes, que tiravam unidas dos óriços. A esse conjunto de três castanhas unidas chamavam castelo. As flercas, castanhas chochas, serviam de brincadeira à canalha que, cuspindo-lhes, as colocavam no lume para saberem se a criança que alguma mulher conhecida trazia no ventre seria menino, se estoirasse, ou menina, se fufasse.

No tempo da castanha os castanheiros eram guardados para que não lhes roubassem o fruto. Só no dia um de Novembro eram deixados, podendo neles se fazer rebusco com martelo especial de madeira para desbritar os óriços e uma cesta para guardar as castanhas encontradas.

As candeias no Inverno, sua flor pendente, a homenagear a Senhora das Candelas ou das Candeias, eram a renovação do ciclo de suas vidas que culminaria com a queda de suas folhas no Outono, que serviriam de folhada para adubar os campos.

Já escrevi alguns artigos sobre esta árvore. Quero agora mostrar-lhe o meu reconhecimento e saudades dela em verso.

Meu pai pisando as castanhas num cesto próprio depois de secas no caniço
Meu pai pisando as castanhas num cesto próprio depois de secas no caniço

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Castanheiros e Castanhas

Altaneiros e frondosos,
À sua sombra mitigam
Os cansados do trabalho.
Por vezes também abrigam
Gentes em dias chuvosos.

Em seus troncos seculares,
Formam tocas e abrigos,
Para guardas e mais outros
Usarem quartos amigos,
Dormindo como em seus lares.

De teus rebentos direitos
Fazem os garotos flaitas,
Puxando como em zabumbas
E tocando sons de gaitas.
Ora zumba, zumba, zumba!

Para quê ir à ribeira
Procurar uma varinha?
Tem-la aqui de boa pinta.
Procura umas morinhas,
Pinta-me com sua tinta.

Aos castelos inda verdes
Jogam meninos e grandes
Debaixo da alpendrada,
Retirados dos óriços
Tombados com boa pedrada.

Em tuas grossas pernadas,
Fazendo lindas comédias
Como viram aos palhaços
Fazer no terreiro em laços,
Se pendura a canalhada.

Das candeias aos óriços
Com teus olhos acompanhas,
Esperando impaciente
Pelo tempo das castanhas.
Venham, venham cá pr’ó dente!

Parti-las vai ser preciso
Ao punhado, à malga, às cestas,
Entre quem as apanhou,
Conforme a quantia destas.
Esta é minha. A tua te dou.

Uns tartulhos pelo meio,
Cacheinas ou já chapéus,
Que assados com sal são bons,
Serão mesmo bons pitéus.
Sabem que nem os bombons.

No caldeiro já estalam,
Ao lume a assar estão.
Levantem-se, preguiçosas
Meninas, deitem-lhe a mão
Que elas estão saborosas.

À noite a mesma comida,
Ceia é igual ao almoço.
Castanha assada ou cozida
No púcaro, ou em caldudo,
Que é de ficar tudo mudo.

Quando já não há castanhas,
Castanheirinhos arrancam.
Nascidos entre pastagens,
Searas, na raíz estão.
Que boas ainda são!

Em Maio comê-las pisadas
Para que não monte o burro.
Pelos caniços passaram,
Com tamancos vos pisaram.
Pisadas são as piladas.

Nas mãos rebolam quentinhas
Como brasas que aquecem.
De tão bem aconchegadas,
Na barriga adormecem.
Até sabem a docinhas.

Sois o pão de muita gente
Que adora vossos petiscos.
Cozidas, assadas, cruas,
Sois alimento mui rico.
Substituído, amuas.

Não é, pois, de admirar
Que o sino toque a rebate
Se um castanheiro arde
De um raio em tempestade.
Todos correm a apagar.

Debulhá-las, raspadinhas,
Com os dentes ou navalha,
As longais vão mais depressa,
As rebordãs uma tralha.
Raspem, raspem, navalhinhas.

Co’as flercas se vai jogar
Pr’a saber que filho será
Que no ventre da mãe está.
Cospe-lhe e põe-na ao lume,
Que fufa ou vai estoirar.

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«Lembrando o que é nosso»,
por Franklim Costa Braga

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