A escolha do título ou tema «Território dos Cinco Elementos» atribuído a estas crónicas partiu da percepção e consequente constatação da existência no nosso concelho de um número místico, o número cinco, que na sequência de alguma pesquisa e com recurso a alguma criatividade nos permite inferir que todo o nosso património e suas diversas características associadas são a quintuplicar no nosso território.

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TERRITÓRIO DOS CINCO ELEMENTOS – PATRIMÓNIO NATURAL
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«Muito mais é o que nos une, que aquilo que nos separa»
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Seja o nosso património Natural, abiótico (atmosférico, geológico, geográfico, geomorfológico, hidrográfico ou hidrológico) ou biótico (zoológico-faunístico, botânico-florístico).
Seja o nosso património Cultural, material/tangível (paleontológico, arqueológico, arquitectónico, histórico, linguístico, religioso, documental, artístico, gastronómico) ou imaterial/intangível (tradicional/etnográfico, social, literário).
Em suma, todo e qualquer património representativo, identitário da nossa memória, autenticidade, unicidade, originalidade, raridade, singularidade ou exemplaridade.
Somos um Território de Cinco Elementos, um Penta-Território, um Quinto Concelho, um Quinto Reino Natural e Cultural de Portugal, que nos permite comungar da crença ou bênção do Padre António Vieira e até fantasiar que bem podemos ter derivado de um famoso e almejado Quinto Império.
Interrogado o filósofo português Agostinho da Silva, se acreditava no Quinto Império, aquele terá dito que essa era uma filosofia que não partia imediatamente de uma reflexão sobre as ciências exactas, mas da fé, e que assim sendo… «é claro que acreditava no Quinto Império, porque senão o acto de viver seria inútil».
Recriando a sua resposta, também defendemos e acreditamos num Território dos Cinco Elementos e no seu potencial, porque senão o acto de viver e defender este lado interior, este lado de dentro, do Portugal profundo, também ele seria inútil e nos levaria a desvalorizar o que tanto de bom, belo e exclusivo que por cá temos e que a todos os sabugalenses pertence.
Mas persiste uma particularidade e diferenciação em relação ao Quinto Império, o nosso Território dos Cinco Elementos é real e não precisa de fé ou de ciências exactas para o confirmar, ele existe mesmo. É uma constatação e é comprovável pela diversidade existencial de pelo menos cinco aspectos ou características relevantes e diferenciadoras nas diversas especialidades ou categorias ou subcategorias patrimoniais, sendo muito deste nosso património exclusivo e muito dele único até, no país e no mundo.
Enquanto descendentes do concelho de Sabugal, temos que admitir que faz parte deste interior, não só uma alma que nos caracteriza como um espírito próprio de ser que em muito nos diferencia de todo o corpo nacional.
Não querendo seguir uma abordagem desta crónica pela numerologia, todavia foi muito curiosa a constatação da múltipla e variada informação que envolve todo este significativo número cinco e seus arquétipos. De acordo com a pseudociência da Numerologia o número 5 (cinco) simboliza o centro e a harmonia. Isso porque ele ocupa a posição do meio dos primeiros números (de 1 a 9).
Refira-se que Santo Agostinho defendia que «os Números são a Linguagem Universal ofertada por Deus aos humanos como confirmação da verdade». Pitágoras, também argumentava que em tudo havia relações numéricas e investigou os segredos dessas relações com as coisas reveladas pela graça divina.
Apelando então à criatividade sobre a mística do numero cinco, neste mundo tão global, em que de os todos seres humanos, alguns deles são portugueses e, salvo as vitimas de alguma infelicidade, todos temos dois braços duas pernas e um tronco que constituem a nossa estrutura corporal de cinco elementos, todos temos cinco dedos e umas mãos-cheias de tanto; todos temos cinco sentidos para tanto e muito sentir; mas apenas muito poucos somos Sabugalenses ou transcudanos (de aquém e além Côa), que não faz de nós seres especiais, nem melhores nem piores, mas somos diferentes.
Deste território fazem parte cinco elementos, qual pentagrama, constituintes da nossa natureza: ar, terra, fogo, agua e um quinto elemento diferenciador que é o espírito do «todo sabugalense», por tudo quanto representa a identidade da nossa essência exclusiva e do sentido de pertença, que nos distingue dos demais, com a nossa história, nossas tradições e a nossa cultura dos tempos de antanho e actuais.
Ainda que em alguma ou várias das categorias criadas para efeito da presente crónica, possam existir aspetos, factos e demais elementos do nosso património, tão ou mais significativos no nosso concelho do que os ora aqui mencionados, importa salientar que socorremo-nos para efeito desta seleção e critério, nomear aqueles que nos são mais familiares e nos pareceram mais significativos ou mais representativos, na certeza porém, que outros e com certeza muitos, de maior valor afectivo ou patrimonial poderão existir, mas que na presente análise, reflexão e escrita desta crónica não foi de todo possível, por agora, elencar. Mas pode sempre, cada um dos estimados conterrâneos encetar por criar a sua própria lista dos seus cinco elementos, se fôlego e criatividade houver, para contrapor, firmar, aumentar ou corrigir esta mesma perspectiva. Assim haja quem aceite este desafio!
Acresce ainda clarificar, estimado leitor, que, se em muitas das categorias elencadas, existem mais do que cinco elementos no nosso território, outras há, muitas até, em que garantidamente não existem mais do que as cinco referenciadas, ou pelo menos não foi por nós possível identificá-las na vasta exploração e recolha de dados efectuada, para efeito da redacção da presente crónica.
Pretende-se com esta criatividade e mística à volta do número cinco, revelar a diversidade e a força das nossas raízes. As quais serão sempre tanto maiores e mais fortes quanto maiores e mais profundas forem as «ramificações do seu radiculado», que muito dependem da nossa ligação, das nossas vivências e do nosso sentir e de tudo o que este sentir representa ou significa para cada um de nós.
Toda e qualquer árvore ou planta precisa aprofundar, estender e fortalecer as suas raízes para crescer mais alto ou mais forte! Assim é na vida dos seres humanos, para crescermos e nos desenvolvermos fortes, seguros, estáveis e em equilíbrio precisamos de extensas, vastas e fortalecidas raízes.
Há uma diferença entre o ser e pertencer a um lugar e o nascer num lugar. Num dado lugar, todo e qualquer um nasce, será a nossa naturalidade. Mas a nossa identidade, o tal ser e pertencer, carece de muito tempo, de um espaço, muita vivência e de preenchidas e sentidas memórias. Citando o nosso conterrâneo Manuel António Pina, «memória é tudo o que somos, memória e palavras». Serão aqueles os nutrientes que irão permitir o fortalecimento das nossas raízes ou a força do ser e do pertencer a um dado lugar.
Diz-se que as raízes nascem e morrem no mesmo lugar e apenas as sementes partem. Algumas sementes da nossa essência e pertença ao lugar, por motivos de força maior são levadas pelo vento, partem no voo das aves migratórias ou correm e afastam-se com as águas dos ribeiros, ribeiras, que correm para o Côa ou para o Zêzere e destes, por ali a fora vão elas, para o mar e levadas pelas ondas das marés atravessando Oceanos para chegar a outros países, continentes ou paragens.
As sementes partem mas as raízes não saem do lugar.
Até a nossa descendência, as nossas sementes, se forem bem nutridas em relação às origens e forem bem enlaçadas às raízes, ali poderão sempre voltar, trazidas por outros e novos ventos ciclónicos ou por aves de arribação, se a identificação e identidade com estes lugares forem suficientemente fortes para manter o sentido de pertença, fazendo jus ao testamento de que «o bom filho à casa torna».
Tal como mantemos amor incondicional com as famílias de sangue, também criamos laços e vínculos fortes com a família que escolhemos para nós, que são os nossos amigos, a família do coração. Assim há também lugar e espaço afectivo incondicional para os lugares onde se nasce e vínculos fortes para os lugares aos quais pertencemos, constituem e formam a nossa identidade e carácter.
Pode haver quem não tenha ou queira negar as suas raízes e tomar todo e qualquer espaço ou lugar por seu lar, mas será sempre uma opção que pode fazer dele um apátrida, um apólida, um migrante, um estrangeiro, um turista, um desterrado ou, enfim, um desenraizado.
Pois são efectivamente as raízes que nos ligam e prendem à terra e nunca é demais lembrar a máxima bíblica, do pó viemos e ao pó havemos de voltar. E quem ao seu lugar, ao pó do pó de onde veio, não pode e não pede para voltar, longe das suas raízes ficará eternamente.
Pelo que será sempre a força, a densidade e intensidade das raízes e a nossa identidade que nos farão voltar ao lugar a onde pertencemos.
Bem-hajam pela vossa curiosidade e leitura! Prá semana temos mais! Até lá! Cuidem-se e cuidemos dos nossos!
Meu abraço dos cinco costados!
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(Continua.)
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«Território dos Cinco Elementos», crónica de António Martins
(Cronista no Capeia Arraiana desde Setembro de 2014.)
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