Nestes últimos tempos, a Turquia não tem cessado de intervir em conflitos exteriores ao seu território. Depois da Síria e do Líbano, ei-la de novo no Alto-Carabaque, enclave arménio cristão no território do Azerbaijão. Sem o apoio do exército turco, Bakou nunca teria enviado tanques, aviões e o seu exército contra um território habitado por cerca de 150 mil pessoas.
Foi Estaline que no princípio do século vinte decidiu anexar a província do Alta-Carabaque, maioritariamente povoada por arménios, à república do Azerbaijão.
Aquando da desintegração da União soviética, a Arménia e o Azerbaijão tornam-se independentes, em 1991, mas o Alto-Carabaque não conseguiu a independência, apesar de vários anos de luta e de várias tentativas de conciliação de potências internacionais: o designado grupo de Minsk, composto pelos Estados Unidos da América, da França e da Rússia.
Após várias escaramuças durante o Verão passado, os velhos demónios relativos ao genocídio arménio na Turquia ressurgiram e os combates intensificaram-se.
O que mudou em relação ao conflito anterior foi o apoio declarado da Turquia ao Azerbaijão. Ancara não esconde o desejo de dispor de uma influência cada vez maior na região do Cáucaso e aproveita a histórica animosidade contra a Arménia para apoiar o Azerbaijão, grande produtor de petróleo.
Como irá reagir a Rússia à intervenção da Turquia? Não parece que Putin se possa desinteressar deste conflito, mas até agora tem-se mostrado prudente, à espera de melhor se posicionar. A França tem tentado denunciar a Turquia por ter contratado mercenário sírios para fazerem o trabalho dos soldados do Azerbaijão, ela que apoia a Arménia e não permitirá o reconhecimento de territórios conquistados pela força. Além disso, Israel é o primeiro fornecedor de armas ao Azerbaijão, com um contrato de 5 mil milhões de dólares. O Irão, que tem óptimas relações com a Arménia, está à espera de uma oportunidade para se posicionar no Cáucaso do Sul.
Como em todas as guerras, é sempre mais fácil começa-las do que terminá-las. Azerbaijão não tem muito interesse em continuar a guerra, com os soldados atingidos pelo Covid e com o petróleo a baixar. Terá de ser Moscovo a lançar as bases de uma negociação duradoura. Entretanto, os mortos, feridos e deslocados não cessam de aumentar.
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«Pedaços de Fronteira», opinião de Joaquim Tenreira Martins
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Novembro de 2012)
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