Os tempos mudam. Em geoestratégia, nada é eterno. Muitos impérios caíram: o império romano, os do oriente, vários no Norte e no centro da Europa, o da américa pré-colombiana e, ainda mais perto de nós, o império Otomano.
Os Estados Unidos da América assumiam, até há bem pouco tempo, o papel de guardiões do templo da civilização democrática ocidental. Dotaram-se dos necessários meios e a Europa vivia descansada sob o seu manto protector.
Com Trump no poder, os Estados-Unidos fecharam-se sobre si próprios.
Desinteressaram-se dos grandes problemas do mundo e deixaram de intervir para repor os equilíbrios geoestratégicos. Se a Bielorrússia se insurge contra um ditador ou a quando a Turquia ataca a Grécia, um país da NATO, como aconteceu recentemente, organização criada pelos Estados-Unidos, a Casa Branca não irá bulir uma palha. O guardião desertou do templo, o soldado deixou de lutar e entregou a arma.
Perante a situação de desinteresse internacional, outros países tentam ocupar o lugar dos Estados-Unidos: a Rússia, a China e a Turquia. A Europa tem consciência do ressurgimento das tentações imperialista destes países que pretendem ocupar a liderança internacional, como afirma Joseph Borrell, Ministro dos Negócios Estrageiros da UE.
Perante um mundo cada vez mais agressivo, a Europa parece tornar-se o centro para o qual o mundo actual tenta dirigir-se. Mas o seu modelo é o da cooperação, do multilateralismo. É um parceiro fiável, baseado em princípios democráticos. Contrariamente a Donald Trump que muda de estratégia como quem muda de camisa, a UE é uma entidade que se baseia na declaração de Schumann de 1950: «Nunca mais a guerra, mas a solidariedade interna e a resolução pacífica dos conflitos.» Na prática, a Europa, dispõe de trunfos importantes: 450 milhões de habitantes, uma das regiões mais ricas do mundo, um desenvolvimento sustentável, um comércio aberto. O único travão é a tomada de decisões lentas, sujeitas à regra da unanimidade que alguns vêem, apesar de tudo, como um penhor de estabilidade.
A União Europeia está preocupada com o ressurgimento de novas manifestações imperialistas da Turquia e a recente cimeira tenta analisá-las para encontrar uma solução.
A Turquia, depois de se ter imposto na Síria e no Líbano, tenta agora ocupar um lugar de destaque no Mediterrâneo, ao confrontar-se com dois estados membros da UE, Chipre e Grécia.
Como irá reagir a Europa? Os sentimentos parecem ser partilhados, tendo em conta os interesses estratégicos da alguns dos Estados membros. É verdade que a União Europeia tem necessidade da Turquia, sobretudo na questão da imigração. Com os milhões que alberga; bastaria abrir a cancela para deitar abaixo a Europa. Mas também tem de se dizer que a Turquia tem necessidade da UE que é o seu principal parceiro comercial e que contribuiu, de maneira significativa, para o desenvolvimento económico. O comércio UE-Turquia quadruplicou em vinte anos. Mesmo se a Turquia já aceitou a ideia de não aderir à UE, pretende agora estender o acordo de união aduaneira aos produtos agrícolas, serviços e mercados. Por isso, irá colocar as suas peças no xadrez estratégico até onde puder, evitando conflitos abertos com a União Europeia.
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«Pedaços de Fronteira», opinião de Joaquim Tenreira Martins
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Novembro de 2012)
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