Nos intervalos e ao fim da tarde, à saída da escola, muitos iam jogar o bicho ao lado da capela de São Sebastião. Colocavam-se umas moedas em cima duma carreta e duma certa distância atiravam-lhe uma malha- um vintém ou uma pequena china. Se conseguissem deitar abaixo as moedas e que a malha ficasse perto delas, ganhavam. Em vez de moedas, utilizavam pedriscos ou lápis, que colocavam no chão atrás duma pequena pedra e com outra china, fazendo um picanço ou de arrastão, tentavam colocar a china por cima ou ao lado dos pedriscos ou lápis. Ganhava quem ficasse mais perto deles, o que originava meças.

Outra das brincadeiras dos miúdos era o pião, nas suas variantes-roda bota fora, forca ou deve. Na forca, quando perdiam, entregavam uma piona feita por eles de amieiro para levar as ocas, que noutras terras chamam nicas, que deveria levar o pião comprado no comércio.
Outra brincadeira comum a rapazes e raparigas era o jogo da choina, nas suas variantes de raia, bilharda e ao mocho.
As meninas jogavam sobretudo à ordem, atirando uma pequena bola à parede e apanhando-a no ar, ou ao ferro, que noutros lugares se chama macaca. Também jogavam à choina. Havia outras brincadeiras, mas são estas as que mais recordo.
Por fazerem parte da minha saudosa infância, é com redobrado prazer que lhes dedico estes versos:
Jogos e Brincadeiras na Escola
Mas que bela pontaria!
Acertei mesmo em cheio
Na carreta que voou,
Deixando a moeda no meio.
Venha cá, que esta é minha!
Já não tinha mais pedriscos,
Agora fiquei c’ os teus.
Contando todos os riscos,
Ganhei o jogo do bicho.
Venham cá, que já sois meus!
Que bem balhas, meu pião,
Fazendo ondas no chão,
Ou apanhado na unha,
Ou mesmo na minha mão!
Balha, piãozinho, balha!
Ora esgarabatelho,
Outras vezes rasteirinho,
Na raia dormes qual velho.
Acorda, meu piãozinho.
Balha, piãozinho, balha!
Que prazer ver-te balhar,
No meio da raia a dormir.
Para fora sai depressa,
Em perigo ficarás nessa.
Vá, continua a girar!
Coitada da minha piona!
Ficou toda desasada.
Deram-lhe tamanhas ocas
Que ficou desfigurada.
Balha, piãozinho, balha!
Passei horas c’ os dedinhos
Tecendo a minha baraça.
Na carreta com preguinhos
Seguiu programada traça
P’ra balhares, piãozinho.
Tu, choina, quase voaste
Com uma paulada forte.
Do jeito com que te asaste
Voaste de sul p’ra norte.
Voa, minha choina, voa!
De berricana já vou
Nas tuas costas montado.
Quem a partida ganhou,
Foi assim presenteado.
Arre, arre, meu burrinho!
No mocho fui primeirinho,
Mesmo por baixo d’alpata.
Em todas as vezes ganhei,
Todas as meças feitas bem.
Arre, arre, meu burrinho!
Na raia sempre acertei,
No mocho bati no pau,
À bilharda eu ganhei,
Em vez nenhuma fui mau.
Arre, arre, meu burrinho!
Onde paras, meu pião,
Onde estás, minha baraça?
Num recanto da memória
Comida já pela traça.
Já passastes à história!
Aprecio, com agrado, quer a prosa quer a poesia deste Sr. Quadrazenho…os meus sinceros parabéns!
Muito obrigado pelo seu comentário.
Muito obrigado pelo seu apreço pelo que escrevo.
F. Braga