:: :: 3.º CAPÍTULO – IRMÃOS :: :: Nenhum cidadão era incorporado na Irmandade de São Sebastião sem o preenchimento de uma ficha, de um formato muito rudimentar, mas de grande utilidade para aqueles tempos de finais do século XIX.

Ao olharmos para essa ficha de inscrição, impressiona o seu grafismo, o desenho de nove colunas verticais, tudo sinalizado, número de irmão, o respetivo nome, anos de idade, data do nascimento, quanto paga de assento (jóia), se foi ou não riscado e a data do seu falecimento.
Nos primórdios da Irmandade, há um documento sem data onde são apontados os deveres do secretário, numa escrita muito arcaica. No ponto 3) escreve-se: «… por agora o número de irmãos é de 1.300…»
O primeiro irmão de que há registo visível, em 15 de fevereiro de 1891, foi António Maria da Fonseca, com quinze anos de idade, pagando cem reis pelo assento.
Na análise feita às inscrições até novembro de 1916, os assentos eram pagos em reis. A tabela dos preços era variável. Quem se escrevesse até aos vinte anos de idade pagava cem réis, com o avanço da idade subia o custo, que poderia atingir os seiscentos réis, caso da inscrição de Manuel Barreira, em 4 de dezembro de 1914.
O assento n.º 11 – Maria José Rainha é aceite como irmã da Irmandade com apenas onze anos e Maria da Natividade Lavajo com dez anos. Os membros mais novos da Irmandade de S. Sebastião.
Os nossos pais tinham tanto empenho, fé e devoção à Irmandade, que era como lei obrigatória inscreverem os seus filhos em idades compreendidas entre os dez e catorze anos. E senão mais cedo, era porque havia muitas dificuldades económicas, e as famílias na época eram muito numerosas. Era um ponto de honra que vinha de gerações anteriores. Pode-se afirmar que 95% dos irmãos tinha menos de vinte anos.
Um pormenor interessante é a inscrição do Pároco, logo que tomasse conta dos destinos da Paróquia.
Com o decorrer dos anos vão-se adaptando os circunstancialismos das inscrições, sempre com o pensamento na defesa dos interesses da Irmandade.
Na acta n.º1 de 1995 foi determinado pela Mesa da Irmandade o seguinte:
«1.º Cobrança dos anuais a 250#00. 2.º Assento dos irmãos até aos 15 anos grates. Dos 15 aos 50 anos paga uma anuidade por cada ano; dos 50 anos em diante paga o bem de alma ou seja 12.000#00. 3.º Quotas em atraso: Riscar a partir do 7.º ano em atraso.»
No assento 223, de 11 de janeiro de 1912, foi inscrito António Reino com 18 anos, o único militar bismulense morto em 1918, na Primeira Guerra Mundial, memória perpetuada em lápide no Cemitério de La Liz em França. Pela pena do Secretário da Mesa da Irmandade, na ficha de inscrição relativa à data do falecimento, lá está bem explícita a notícia, reveladora de que os assuntos da Irmandade eram levados muito a sério, a preceito, com rigor.
Em dezembro de 1910, quase dois meses volvidos da Implantação da Primeira República, a Irmandade na Bismula tinha 220 irmãos. Até 1985 foram inscritos 1235 irmãos bismulenses. De 1985 a 2020, desconheço os assentos de outros irmãos. Atualmente tem 300 elementos.
A Irmandade de São Sebastião, a relembrar o martírio de um soldado mártir nos primeiros tempos do cristianismo, gozava de um culto muito impregnado e enraizado nas populações portuguesas, em particular nas aldeias vizinhas da Bismula, que ocorreram a inscrever-se.

O Faleiro, povoação anexa da Bismula, entre 1891-1961, tinha 16 irmãos. Hoje não tem um único habitante, está completamente abandonada. Em 1891 inscreveu-se Felismina Paulos e em 1961, a última em fevereiro de 1961, com 14 anos, Ana Rosa Martins da Silva.
Aldeia da Dona, em 1 de fevereiro de 1891, tem como assento Francisco António Afonso e em 30 de agosto de 1993 inscreveu-se Catarina Isabel Gomes L. Chorão, de 30 anos, que pagou de assento três mil escudos, dos mais elevados na Irmandade da Bismula, chegando às 374 inscrições. Hoje tem apenas 25.
De Vilar Maior entra em 19 de janeiro de 1894 Francisco Cerdeira e em 1973 Manuel Fernandes Batista. Foram inscritos 97 irmãos, atualmente apenas tem 6.
Aldeia da Ribeira: em 4 de fevereiro de 1891 José Sanches, em dezembro de 1992 António Martins Ferreiro. 137 irmãos inscritos, atualmente com 4.
De Badamalos inscreve-se Isabel Mateus em 19 de janeiro de 1892, e Ana Gracinda Ramos Morgado em 1988. Inscritos 190 irmãos, atualmente 10.
Valongo do Coa: em 15 de março de 1831 Joaquim Correia e em 20 de março de 1963 José Ramos Correia. Inscritos 151 irmãos, hoje tem 8.
Rebolosa: em 19 de janeiro de 1893 José de Almeida Sénior inscreve-se com o assento mais caro, 500 reis, e em 1985 inscreveu-se Joaquim Domingos Lourenço. Cerca de 325 irmãos.
Vale das Éguas: entra em 17 de janeiro de 1892 Antónia Cardosa e em dezembro de 1988 João Manuel Martins Salgueiro. Inscritos 99 irmãos, atualmente 25.
Ruivós: em 1893 inscreve-se Maria Ramos, com 15 anos, e Manuel Vaz Leitão a 10 de novembro de 1985. Teve 192 irmãos. Atualmente tem 20.
Batocas com a inscrição de 73 irmãos.
Escabralhado: em 19 de janeiro 1892 filia-se Maria do Carmo e, em novembro de 1978, Francisco Vaz Correia. Inscrição de 217 irmãos, atualmente tem 25.
Aldeia da Ponte: Elisa Martins da Fonseca inscreve-se em 19 de janeiro de 1893 e em outubro de 1930 Francisco Nave, com 28 irmãos inscritos. Estranha-se que não apareça depois desta data a inscrição de novos irmãos ou se tenha dado o desaparecimento de um novo livro de registos.
Também de Alfaiates se verifica o mesmo caso, aparecendo o primeiro registo de Luiza Alves Correia em 9 de fevereiro de 1892 e de Maria Monteira em 28 de setembro de 1902.
Arrifana, até março de 1964, tinha 69 nove habitantes inscritos na Irmandade da Bismula, o primeiro em janeiro de 1893, José Rodrigues da Afonsa, e o último João Marcos Garcia. Atualmente não tem um único irmão.
Nave, em 19 de janeiro de 1891, inscreve-se Baltazar Lopes Eufémia, pagando 700 reis de assento, seguindo o seu exemplo mais 370 irmãos, e em janeiro de 2006 ficou inscrita Gracinda Lages.
Ruvina com 152 irmãos inscritos, em janeiro de 1896 inscreve-se Maria Emília Martins e em janeiro de 1904 com dez anos filia-se Isabel Joaquim Vaz, e em setembro de 1984 a freira Maria do Nascimento Canelas. Tem atualmente 35.
Carvalhal do Coa, com 138 irmãos até dezembro de 1983, com a inscrição em janeiro de 1891 de Ana Santa e a última inscrição de Ladeiro Mendonça.
O Ozendo tinha inscritos 244 e a primeira irmã tinha 12 anos inscrita em fevereiro de 1895, inscreve-se Maria José Rapoula e Maria José Leitão inscreveu-se em 1988.

Este texto não é uma crónica, mas sim um conjunto de dados estatísticos da Irmandade, quadro demográficos, habitantes, números, nomes, aldeias, com inúmeras conclusões, mas há uma que ressalta na Irmandade de São Sebastião da Bismula: a inscrição de milhares de irmãos com grande sentido de religiosidade e devoção a este Santo Mártir.
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«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes
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