Como religioso que era, o quadrazenho, e ainda mais a quadrazenha, não só assistia às suas festas, como também ia às festas de outras terras. Entre elas, escolhia a Senhora da Ajuda na Malhada Sorda, a uns 25 kms. por atalhos, e a da Senhora da Poba (Póvoa), em Vale de Lobos, hoje Vale da Senhora da Póvoa, também a uns 25 kms.

A Senhora da Ajuda celebrava-se a 7, 8 e 9 de Setembro e a Senhora da Poba no dia do Espírito Santo. A devoção do quadrazenho era tal que deixava a sua festa do Espírito Santo para ir àquela, regressando ao arraial da Lameira já no fim da festa, pela tardinha.
Iam a pé ou de burro à primeira e a pé, de burro ou em carros de vacas engalanados à segunda. Minha mãe e minha tia levaram-me um dia à Senhora da Ajuda de burra, tinha eu uns cinco ou seis anitos. Dormimos com outros peregrinos numa loije cedida por algum conhecido, talvez algum vendedor de cântaros que ia a Quadrazais fazer seu negócio. O mesmo faziam os quadrazenhos a quem vinha de fora à sua festa da Sant’Ófêmia. Lembro-me que no nosso curral várias pessoas prendiam os seus burros.
Ainda hoje a tradição se mantém, mas agora já vão de táxi ou em camioneta alugada. Os tempos são outros e as gentes começam a ficar velhas, com dificuldade para andar. Os novos, esses, já não querem saber de missas ou romarias. Aparecem apenas à hora dos bailes.

Vou deixar em verso as minhas lembranças destas romarias.
ROMARIAS
Às romarias de outrora
Acorriam gentes muitas.
Ora hoje, com devoção
Já essas bem poucas são.
Outros os tempos de agora!
À Malhada Sorda assistir
À missa da noite em festa
Em criança me levaram
À igreja da Senhora esta
Que ajuda quem quisesse ir.
Pouco importa se rezei,
Que esse ofício era da mãe.
Importava, sim, era ir
Para promessa cumprir,
Que dentro de mim levei.
Ajuda todos pediam
Que os tempos eram difíceis.
Muita gente então morria
De doenças bem terríveis.
A Senhora os protegia.
Já na Senhora da Poba
Dançar, tocar pandeireta
Viva a Velha, viva a Noba.
No bom caminho nos meta,
Que trabalhos muitos temos.
Acabem a procissão
Pr’à Quadrazais eu voltar.
Também lá em devoção
Ao Esprito Santo rezar
Quero na sua Lameira.
Vou comer boas amêndoas
Bem docinhas no arraial,
E ver de novo a pombinha
Voar sobre o pessoal
E voltar à capelinha.
P’ró ano já mais idosas
A rezar mais uma oração,
Cheirar os cravos e rosas
E a flor da laranjeira,
Como lá diz a canção.
Por mim não acabará
Esta antiga tradição.
Venham mais outros comigo
Aumentar a procissão,
Que assim continuará.
Se deixarmos acabar
Estas belas tradições,
Que nos restará por fim
Se não houver procissões
Nem algo bom para amar?
Estas festas de Verão
Unem povos entre si.
Laços de proximidade,
Mas também de amizade
Longo tempo manterão.
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