O que é que o mar tem a ver com a montanha? À primeira vista, nada. Vendo bem, quase tudo.
A montanha beija o céu na ténue linha do além longínquo. O mar, na sua amplidão, une-se ao firmamento no traço afastado que limita o horizonte.
Do mar escapam ruídos no seu encontro com a costa. A montanha grita silêncios em reuniões com o nada.
Se o sol brilha sobre o azul do mar, o verde da montanha reluz sob o resplendor solar e a brisa da praia refresca enquanto os montes bafejam.
Sempre que haja aves a planar as águas não deixará de haver pássaros a vigiar serranias.
É certo que o mar pode ser manso ou rebelde mas a montanha também pode ser afável ou agreste e os movimentos das marés lembram os embalos das cores serranas.
Quando as nuvens agasalham mares também abrigam os montes e se a noite escurece oceanos também enegrece montanhas. Os serões da montanha e as noitadas do mar ofuscam-se sob a negridão dos céus ou ante o rendilho das estrelas.
A água do mar banha rochedos tal como a chuva da montanha lava penedos. O mar afoga, a montanha embarga e os fundos que sustentam as águas também sustêm cordilheiras.
Sulcam-se as tonas dos mares assim como se seguem caminhos nas serras e se o mar é estrada a montanha também é rota.
Pescam-se subsistências no mar mas também se semeiam e plantam sobrevivências na montanha.
O mar é enigmático, sim, tanto quanto a montanha é misteriosa e se o mar é apaixonante a montanha é arrebatadora.
Cada vez que caminho em chãos serranos vejo, ao longe, montes azuis como se os meus olhos assistissem ao anil de altas ondas do mar.
Sou da serra, convictamente. Todavia surpreende-me tudo o que, na montanha, parece mar.
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«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
(Cronista no Capeia Arraiana desde Maio de 2011)
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Amigo Capelo :
O mar é monótono…A montanha é metafisica !
António Emídio