A Vida e a Capeia têm os seus riscos mas não podemos perder a paixão de as viver! Muitos não irão ler estas seis reflexões, nem estão para aqui virados, para assuntos batidos e rebatidos sobre vírus e as diferentes perspectivas que proliferam num mundo tão globalizado e tão saturado de opiniões! Alguns irão espreitar! Outros… poucos, irão ler alguns parágrafos! E outros, mas muito poucos mesmo, conseguirão ler até ao fim! (Parte 3 de 6.)

E como vai ficar no futuro a sua mental dos portugueses?…
No decurso da pandemia estamos a contabilizar e a fazer estatísticas com números actuais, e cada especialista apresenta-as da forma mais conveniente e assustadora possível, porque só desta forma tem direito a tempo de antena!
Todos os que não valorizam e instigam o medo não abrem nem complementam telejornais!
Como dizia o poeta Andrew Lang «usa-se a estatística como um bêbado usa os postes da iluminação, mais para se agarrar do que para ter luz».
E claro que são perturbadoras, são, mas e aquilo que nos espera!?
Os ditos graves e prolongados efeitos colaterais da pandemia, sequenciais e que são de momento imprevisíveis? Mas que serão facilmente passíveis de associar como consequentes, às medidas e planos adoptados! Os efeitos socioeconómicos e suas consequências!? Desemprego e os mui previsíveis tumultos.
Mortes por ausência de consultas de rotina nas mais diversas patologias, das cardiovasculares, passando pelas neurológicas e cirúrgicas, até às cerebrovasculares, em resultado de adiamento ou suspensão de tratamentos e de exames. Doentes crónicos que, por medo de contágio, abandonaram consultas e médicos assistentes! Muitas ditadas ou impostas pelos hospitais e serviços de saúde, mas muitas outras por medo dos próprios doentes!
E a saúde mental das pessoas em Portugal como está a ser gerida? E como vai ficar no futuro!? Já somos das sociedades que mais recorre a psicofármacos. A psicologia continua a ser encarada como especialidade de terceiro recurso e carece de credencial psiquiátrica para que possa ser comparticipada pelo subsistema de saúde ou seguros privados!
O abandono ou resistência duma ida às consultas de urgência, são disso um paradigmático e assustador exemplo. Tanto quisemos impedir que as pessoas deixassem de abusar das consultas de urgência hospitalar, que veio o Corona e resolveu um problema que as políticas também nunca conseguiram!
Mas esperemos para verificar os números totais de mortes no final do ano, devido a esta não acautelada mudança abrupta!
Falo das mortes sem associação a Covid mas por consequência do medo que este provocou nas pessoas e na alteração súbita e inconveniente de comportamentos, que eram adoptados pelas próprias pessoas como sendo de protecção ao Covid, mas que os especialistas consideram de elevado risco face à doença que padeciam! No balanço existirá sempre a diferença entre os que morreram com Covid e os que morreram por Covid. Teve um acidente e morreu, é registado como caso de morte por Covid! Teve um AVC, mas tinha Covid, é registado como Covid. Enfim!
Protegeram-se as pessoas da Covid, mas puseram-se em risco, morreram ou irão morrer por não cuidarem atempada e adequadamente das suas outras fragilidades orgânicas.
Há muitos idosos que estão institucionalizados em lares ou residências seniores, ou até nas próprias casas particulares, que faleceram de solidão e abandono! De isolamento e privação afectiva!
Pensar sobre isto, já é suficientemente arrojado, partilhá-lo é muito polémico. Publicar esta reflexão onde quer que seja, pode incitar a que cada um que a leia se sinta também no direito de libertar todas as frustrações acumuladas consequentes de tão longo confinamento e saturação dos vírus! Ou dar azo a todo aquele que queira ter a oportunidade e o direito de libertar cóleras ou ressentimentos que um acumulado, induzido, incrustado, enraizado e quase cristalizado medo recalcou.
Pois todo aquele que ficou refém do medo, ficou também mais bloqueado na sua responsabilidade e autonomia, para pensar por si, sobre quais os comportamentos que pode e deve adoptar ou seguir para sua autoprotecção em respeito e consideração pelos outros!
Pois devemos ir acatando as orientações emanadas das entidades oficiais e fidedignas, mas desde que não boicotem toda a nossa capacidade critica de gerir harmoniosamente a nossa restrita liberdade individual!
Optimistas e pessimistas não faltam!
Eu próprio fui vítima constante daquela bipolaridade de convicções e estados de alma!
Estive sempre optimista quanto ao vírus, confiante, mas numa linha de pensamento virado para a educação e orientação sobre as formas comportamentais de segurança social que poderíamos adoptar para evitar a grave contaminação generalizada!
Mas continuo muito pessimista com os incertos e incalculáveis efeitos colaterais do vírus!
Mas como dizia Openheimer: «O optimista pensa que este é o melhor de todos os mundos possíveis. O pessimista receia que isso seja verdade.»
Estou convicto, que a luta contra o monstro invisível, só será́ possível através da alteração do comportamento individual e de medidas que ajudem naquela consciencialização!
Este é o caminho que mais tarde ou mais cedo vai ter que vingar!
Quantas denominações já teve o Coronavírus?
Os vírus fazem parte do ecossistema do qual, nós humanos também somos parte!
Vamos ter que aprender a conviver com os vírus, modificando e adoptando comportamentos e procedimentos sociais de auto e heteroprotecção!
Quantas denominações já teve o Corona? Vamos em qual versão!? Quantos episódios vai ter? E temporadas? Em qual vai? E quantas vai haver mais? Alguém sabe responder?
Esta série sem fim à vista, começou em 1960, com HCoV-229E, não teve lá grande sucesso e só volta a reaparecer em 2002 numa versão SARS-CoV, depois houve duas novas temporadas em 2004, com a designação HCoV-OC43 e HCoV-NL63; nova saga em 2005 como HCoV-HKU1, reposto em 2012 como MERS-CoV; e foi agora reeditado em versão mais assustadora e terrifica que ficou conhecida como Covid-19, mas o nome oficial é SARS-CoV-2… (Aqui.)
Não há de momento resposta da ciência, investigação, biologia, química, física, matemática, medicina, epidemiologia, infecciologia, virologia ou outras especialidades científicas e credíveis semelhantes, que possa impedir a propagação ou tratamento e, pelo que se sabe, existe ainda um trabalho demorado e longo para o conseguirmos!
Então porque é que os políticos, a ciência política e quem nos governa ou dirige continuam a insistir na auscultação quase exclusiva de especialistas das ciências ditas exactas!?
Depois de ouvir aqueles, recorrem aos especialistas das ciências sociais, jurídico-económico-financeiras, para legislar e gerir recursos, ou antes proibir e obrigar a cumprir de acordo com as conveniências mais políticas do que sociais e humanas!
Se nada existe em concreto, à data actual: remédio, vacina ou tratamento, para prevenir e tratar a infecção, e se aquilo que nos pode salvar ou mitigar a propagação do vírus e devolver-nos a liberdade e a vida que tanto queremos, é a mudança do nosso comportamento social…
Então vai sendo tempo, de aceitar as lacunas mais do que nunca, e de chamar e auscultar mais especialistas das Ciências Humanas: filósofos, psicólogos, sociólogos, antropólogos, historiadores, pedagogos, professores, especialistas do marketing e comunicação e outros pensadores desta linha, com vista a definir planos e metodologias que incentivem à promoção, consciencialização e adopção dos comportamentos ditos preventivos, de higiene e segurança no combate à contaminação e propagação do vírus!
Convoque-se quem pensa, porque comprova-se que agir e reagir tem sido a prática recorrente, mas não previne nem muda comportamentos!… (Aqui.)
A economia e a vida das pessoas não permite que o confinamento, isolamento, ou distanciamento social se mantenha ad eternum, e a seu tempo teremos que entrar numa fase de retorno e normalização das rotinas da nossa vida, de reabertura à economia, mas sob ameaças de novas ondas, ou vagas de re-contaminação! Ao longo da história e da humanidade aprendemos a viver e superar centenas de vírus e pandemias, iremos com certeza superar esta.
O mundo ficou destroçado nas mais diversificadas áreas bio-psico-socio-económicas e humano espirituais!
É minha convicção que qualquer retrocesso, regresso a confinamento e a novos e continuados estados de emergência terão consequências de extermínio ou dizimação, ou até de colocar a espécie humana sob ameaça a roçar a extinção!
Com o evoluir da situação começa a surgir de forma mais consistente a ideia da remota possibilidade da imunidade de grupo, que se irá impor como o melhor combate ou autorregulação da pandemia, então será́ melhor encetar e investir na divulgação de boas campanhas psicoeducativas que possam potenciar a mudança de comportamentos para podermos arriscar e tentar alcançar aquela imunidade, correndo riscos, de forma mais controlada, mas acreditando que os meios irão justificar os fins! Tudo numa escalada moderada.
Conseguiste ler até aqui? – Bravo!! – Podes enviar um OK e eu perceberei que leste até aqui e podes abandonar, já foi bom saber que houve alguém com pachorra para sobreviver a tão vasta argumentação ou secante tema,! Bem-haja!
(Ou então até à próxima publicação da Parte 4.)
(Parte 3 de 6.) (Continua.)
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«Território dos Cinco Elementos», crónica de António Martins
(Cronista no Capeia Arraiana desde Setembro de 2014.)
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