O Quadrazenho não era muito dado a este tipo de profissões de lugar fixo. Era mais comerciante e gostava de andar de terra em terra. Eram os de fora que preenchiam esta lacuna.
De fora havia alfaiates, como o Manel no Casa Cá, barbeiros, como o Ferreirinho, e sapateiros, como o ti Zé Maria Sapateiro. Conheci, no entanto alguns alfaiates da terra, como o ti Tó Ratatau velho e sobrinho Jaquim, o Manel da Trindade, o Zé Vinhas e o Armindo. Barbeiro da terra era o Zé da Cruz. Os sapateiros da terra eram o Carrapatinho, o Tózinho e o Jão Coxinho.
Ao sapateiro recorríamos quando miúdos para obter alguns preguinhos que usávamos para fazer manguais. Por vezes aqueles, combinados com alfaiates e barbeiros, faziam-nos andar com um pedregulho às costas, a pedra de aguçar as agulhas, para o entregarmos a um colega, que nos remetia para outro profissional.
Alfaiates, Barbeiros e Sapateiros
– Cose, cose, alfaiate,
Pois minhas calças preciso.
Avança com toda a pressa,
Estão rotas as que visto.
– Eu é que não caio nessa.
Meu ritmo segue o meu passo,
Seja por bem ou por mal.
Cortar pano, pôr chumaços,
Coser linha com dedal,
Tudo tem o seu compasso.
– Quero vestir fato novo
Na festa da Inspecção,
Que não espera por mim
E eu faltar não posso, não.
Passa-o bem p’ró ver o povo!
Não te esqueças da partida
Que em miúdo me pregaste.
Levar a pedra de afiar
Ao sapateiro mandaste.
Tão pesada! E que medida!
Não vou esquecer também
De o cabelo cortar bem,
Com a marrafa bem feita,
Cara à navalha rapada
Por ti, barbeiro, afiada.
– Seja à máquina ou à mão,
Serás tu bem aviado.
Vem cedo, que outros virão
O mesmo que tu fazer.
Nem todos posso atender.
– Vais cortar o meu cabelo
À maneira que eu quero.
Pois rapado ficaria
Com tua máquina zero,
E alegria não teria.
Corta, corta, meu barbeiro,
Que o cabelo está comprido.
Gosto dele bem curtinho,
Mas rapado é que não.
Careca não em Janeiro.
Bate, bate, sapateiro,
Na sola como uma tela.
Espeta bem o preguinho
E cose com a sovela.
Espero ser o primeiro.
Estão prontos meus sapatos,
Meu sapateiro amigo?
Dá-lhe bom lustro e brilho
Que vaidoso quero estar
No dia de cavalgar.
– Pois vais ter de esperar,
Que inda atrasados estão.
No entanto, te prometo
Que esse dia os vais calçar
E ao povo os submeto.
Tenho-o em boa conta
E com alguma amizade.
Para fazer meu mangual,
Como esquecer a bondade
Duns preguinhos sem igual?
Que saudade dos preguinhos
Que o sapateiro me dava!
Mas também do alfaiate
Que a agulha manobrava.
Ao fazer os meus fatinhos!
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