A Vida e a Capeia têm os seus riscos mas não podemos perder a paixão de as viver! Muitos não irão ler estas seis reflexões, nem estão para aqui virados, para assuntos batidos e rebatidos sobre vírus e as diferentes perspectivas que proliferam num mundo tão globalizado e tão saturado de opiniões! Alguns irão espreitar! Outros… poucos, irão ler alguns parágrafos! E outros, mas muito poucos mesmo, conseguirão ler até ao fim! (parte 2 de 6.)

Legislaram para nos obrigarem a isso!…
Ficámos impossibilitado de viajar! Dentro ou fora do País! Impossibilitados de celebrar a Páscoa em família! De ir a funerais, festas e baptizados e ajuntamentos afins!
Fomos instruídos a trocar o aperto de mão, o abraço e o beijo, por cotoveladas! Que cumprimento desprezível! Gesto que noutros tempos era utilizado para afastar os indesejáveis e agora serve para saudar todos pela mesma indiferença. Qual saudação cumprimento, que até faz lembrar regimes fascistas «Franco-Nazis-Mussolinis ou de Sal e Azar»!
Tudo em prol, do maldito dever de distanciamento social!
Mais vale adoptar o genuíno e simples cumprimento pelo olhar! Invertendo-se o adágio, para «o que os olhos vêem o coração sente».
Pela primeira vez, desde que tenho memória, ficámos impedidos de celebrar com amigos e em família a maior e mais abençoada festa de fé nas nossas origens! A festa da Senhora da Granja no Soito e as Capeias das festividades desta época na Raia.
Tudo isto porque legislaram para nos obrigarem a isso!
Cortaram-nos a liberdade e as celebrações, para que governantes e políticos pudessem celebrar, porque era imprescindível, a já de si muito frágil liberdade e democracia de Abril!
Qual liberdade? A do poder e de quem manda no mundo e impõe às sociedades os seus ideais?
Nunca terá́ estado tão ameaçada a liberdade de cada um de nós como agora!
Mas e o Verão! Diz-se até, que os raios UV e o calor, matam, eliminam o vírus e impedem a sua propagação! Sendo o nosso país cobiçado pelo sol! Estaremos na vanguarda das condições para a mitigação do vírus! Mas isso não importa nada agora!
O confinamento e todo o distanciamento físico é que é importante! Somos obrigados a abdicar de concertos, bailaricos e festas do verão na aldeia e das Capeias Arraianas!
Ai que dor de alma!
Mas festa com «Avante Camaradas!» Onde irão ser dados 32 concertos em três dias! Essas são aceites e permitidas! Jovens que se reúnem são impedidos porque é perigoso e foi tornado ilegal! Touradas no Campo Pequeno? isso não é possível! Mas concerto do Bruno Nogueira teve direito e até teve espectadores com honras de Estado para ouvir música Pimba!
Festival «Ao Forcão Rapazes» na Raia, «Feira do Touro e do Cavalo» no Soito, Encerros e Capeias da Raia, concertos e festivais no concelho do Sabugal, que trazem milhares de «filhos da terra» nesta época do ano às origens, são todos cancelados e impedidos de realizar! Mas Champions League, comícios que são concertos na quinta da Atalaia já é legal! Mantém-se a gestão administrativa esquizofrénica!
Caso para suspeitar, tal qual teoria da conspiração, que esta pandemia foi ideia e esquema criado pelos animalistas fundamentalistas e outros «istas» para acabar de vez com as touradas e Capeias.
Restava-nos a esperança da praia! Pois todo o ser humano do litoral, do Norte do dentro ou do Sul, e até do interior quer ir, mais do que nunca, à praia?! Certo e bem merecido… Não!?!
Depois de tão grave, prolongado e forçado confinamento! Pois… Mas… só faltou criar parquícentimetros para toalhas nas praias!
A economia a reinventar-se!
E caro arraiano se estás a pensar que podes sempre ir para praias não vigiadas ou não concessionadas! Que foi também o meu pensamento, quando vi a ameaça do que aí vinha! Podes esquecer… que essas podem a todo o momento ficar com acesso restrito ou proibido!
Nesta pandemia não há heróis…
Vivo em Lisboa mas tenho terra, sempre vou poder mais do que nunca regressar às origens, porque espero que os meus conterrâneos baixem a guarda e eliminem as barreiras psicológicas e paranóicas do medo para acolher quem quer voltar às origens e beneficiar do ar puro e da alta afectividade da baixa densidade populacional do nosso concelho!
E até porque as praias fluviais do Côa, serras e castelos do concelho, reúnem encanto e condições ideais para um período de tranquilidade e contentamento! E é uma forma de minimizar os danos económicos no nosso território, se muitos de nós persistirmos em passar uns dias na terra apesar de não haver festas de Verão.
Região que conseguiu até hoje manter-se com poucos casos positivos e deve saber sempre acolher bem os que à terra querem voltar! Haja bom senso de todos, os que lá vivem e os que chegam, para cumprir e respeitar as recomendações das autoridades de saúde e o perigo passará ao lado.
Pois nada será pior, do que atitudes e comportamentos de hostilidade de uns para com os outros. Até porque a pandemia passará, não dura para sempre e as atitudes ou comportamentos de hostilidade ou cólera, poderão ficar e criar ressentimentos desnecessários e evitáveis!
O Corona parece que tem medo dos primitivos raianos, eles têm um forcão! A Covid-19 é avessa a zonas com tradições e expressões culturais conotadas como manifestações selvagens por muitos intelectuais e outros ecoditadores que se apelidam de democratas!
Caso para se dizer que a natureza protege os audazes e os destemidos raianos! E a vida é uma capeia, tem os seus riscos e não podemos perder a paixão de a viver.
Mas é cedo para cantar vitórias. Se é que as haverá! Pois nesta pandemia não há heróis, nem vencedores nem vencidos, todos somos vítimas, possíveis hospedeiros, que podemos a todo e qualquer momento ser sequestrados e ficar reféns do vírus!
Mas o Interior de Portugal pode bem vir a ser o local onde todos queiramos voltar a tentar (re)fazer as nossas vidas! O raro e o rural a impor-se?! A regionalização a impor-se como uma necessidade! «Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades», dizia Camões! A biologia e a natureza das contingências a reparar em meses e a tentar corrigir o que a política e administração central nunca conseguiram em décadas! Será?
No meio de tanta maldade e tragédia que se soltaram com a abertura desta «Caixa de Pandora Pandémica», fica na caixa a esperança, que nos pode trazer consolo de que alguma coisa boa acontece em simultâneo para o bem da humanidade!
(Parte 2 de 6.) (Continua.)
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«Território dos Cinco Elementos», crónica de António Martins
(Cronista no Capeia Arraiana desde Setembro de 2014.)
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