Francisco Silva Amaro nasceu em 1948, na freguesia do Juncal do Campo, concelho de Castelo Branco, espaço povoado por povos antigos que exploravam minérios, mais tarde ocupado por Romanos e Mouros. D. Afonso Henriques doou estes territórios à Ordem do Templo. A sua origem deve-se a terra de muitos juncos, ervas que proporcionavam pastagens para os gados, que conjuntamente com a agricultura eram o sustento daquela população.
Incorporado na vida militar, obrigam-no a frequentar o Curso de Comandos, com o célebre General Jaime Neves no Panteão Nacional, em Lamego, mas depressa se desenvencilhou da guerra, para a qual não estava vocacionado nem motivado, por diversas razões. Faz recruta como cabo miliciano nas Caldas da Rainha e tira a especialidade de Minas e Armadilhas, na Escola Pratica de Engenharia em Tancos.
Depressa é mobilizado, como furriel miliciano, para o Norte de Angola, Zona de Carmona, em Aldeia Viçosa que colonos oriundos daquela freguesia do concelho da Guarda, baptizaram com aquele nome.
Já no serviço militar, manifesta a veia poética:
«Branco, branco/branco negro/negro, negro/ negro branco/um dia/ hei-de inventar/o cinzento.»
Foi funcionário do Ministério das Finanças e da Administração Pública, passando por Castelo Branco e Covilhã e, em 1974, escolheu a cidade do Fundão para residir.
Nos tempos livres dedica-se à poesia, à pintura, ao associativismo, à agricultura e ainda colabora com vários jornais regionais: Jornal «Reconquista» e «Beira Baixa de Castelo Branco», «Notícias da Covilhã», «Jornal do Fundão» e Director do Jornal «Voz do Juncal».
Desempenho uma acção importante na Defesa do Associativismo e sempre de acordo com os respectivos estatutos, na Adega Cooperativa do Fundão, na Caixa Agrícola e no Club Ténis do Fundão.
Publica, em 1980, o livro «Poemas da Minha Rua», que segundo o jornalista Luís de Matos da Costa, na «Voz do Juncal», n.º 4, «são versos de libertação num tempo de guerra. São a denúncia serena, objectiva ou mordaz da guerra e do fascismo. Das suas contradições também. Até porque «numa guerra para morrer/há sempre um presidente a aclamar».
…Não posso deixar de transcrever este poema: «Um dia/disse à cidade/que era dia/na rua da liberdade/tropecei nos ministros/caí na lama.»
Em 1995, publica a segunda obra, «À Janela da Vida», sobre a qual escreveu o jornalista e escritor Fernando Paulouro Neves: «Um conjunto de poemas que, como o título sugere, traduz múltiplas referências ao percurso pessoal do autor pontuando, às vezes, essa matéria/vida com uma deliberada ironia (contra convencionalismos burocráticos ou morais), ou trazendo à lembrança o Zeca Afonso – “Ó Zeca/vê se passas por aqui/um destes dias/é urgente.”»
Em 2005, sai «A Porta», sobre a qual escreveu a investigadora literária e docente, Margarida Gil dos Reis: «O fascínio pela descrição real, com toda a sua complexidade, mesmo ao nível do pormenor, não descuida a perceção da realidade como algo profundamente ambíguo, num emaranhado do tempo e dos espaços. (…) Este livro, um álbum imaginário de histórias, viagens, paródias, alerta-nos para a necessidade de transpor os limites, a barreira que pode ser “a porta”. (…) Esta que é uma viagem sem fim, que foi e continuará a ser o nosso presente.»
A par da vertente poética, cultiva ainda a pintura, na Rua da Cale – «Cale uma rua com Vida» –, situada na Zona Histórica do Fundão, outrora um espaço de diversidade comercial, onde tudo se vendia e comprava, e nada faltava. Na actualidade estão a fazer-se esforços para lhe dar uma nova vida, mas nunca será como antes.
Sobe-se e, junto ao primeiro largo, quase em frente ao Fotos Rosel, um dos melhores fotógrafos portugueses, está a oficina de pintura amArtes, de Francisco Silva Amaro. Outrora era «A Loja do Chá», que não vendia chás, mas sim tecidos, miudezas, botões, propriedade de António Ramos.
Ao lado vivia uma tia de Amália Rodrigues, que algumas vezes comprou guarda-chuvas ao empregado Adriano Brito Reis. Este empregado lembra que num ano «a Senhora D. Amália Rodrigues, que estava a viver com um familiar, preparou-se para ir à romaria de Castelejo Santa Luzia, começou a chover e comprou aqueles guarda-chuvas, com forte armação de madeira, tão forte, que dava para partir umas costelas, e distribuiu-os por algumas acompanhantes».
Naquele atelier, Francisco Amaro, nas suas horas vagas, dedica-se a pintar a Beira Baixa, paisagens, monumentos, gentes, ruas, casas… sem esquecer o património do Fundão.
Segundo Francisco Amaro, «estes quadros pretendem homenagear este chão, outrora calcorreado pelos nossos antepassados. É minha obrigação respeitar, e se possível alargar, essa memória para o presente e o futuro».
No meio de tantas obras pintadas, e quando dava o último retoque num quadro com aspectos rurais, o seu pensamento levou-o para o dia seguinte, em que seria necessário regar a horta.
Caro leitor, se passar pela Rua da Cale, n.º 125, no Fundão, entre na Oficina amARTES e, com calma, irá apreciar as suas telas fascinantes, que nos fazem sonhar.
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«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Março de 2012)
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