A Vida e a Capeia têm os seus riscos mas não podemos perder a paixão de as viver! Muitos não irão ler estas seis reflexões, nem estão para aqui virados, para assuntos batidos e rebatidos sobre vírus e as diferentes perspectivas que proliferam num mundo tão globalizado e tão saturado de opiniões! Alguns irão espreitar! Outros… poucos, irão ler alguns parágrafos! E outros, mas muito poucos mesmo, conseguirão ler até ao fim! (Parte 1 de 6.)

Uma revolta não tem hora marcada
Serve e resta-me o consolo de escrever tão longa reflexão, para memória futura, sobre a percepção e perspectiva sobre a actual e gravosa situação que, bio-psico-sócio-económico-espiritualmente, tive o (in)fortúnio de vivenciar na minha tão parca existência.
Seguindo o bom conselho do admirável escritor e pensador social George Orwell, o qual defendia que cada pessoa devia registar a sua opinião sobre acontecimentos importantes, para ter alguma prova sobre o que pensava, pois dizia ele que «se uma crença particularmente absurda explodir em confronto com a realidade somos tentados a esquecer que algum dia a tivemos. Em geral, nós só estamos certos quando os nossos desejos ou os nossos medos coincidem com a realidade».
Então lá vai disto…
Uma revolta não tem hora marcada, até porque a generalidade das revoltas que houve no mundo e ao longo dos séculos, resultaram de fragmentos, momentos imprevisíveis, de gestos e/ou actos esporádicos e muito oportunos que surgiram do inesperado e do não planificado ou programado.
As grandes revoluções resultaram de simples actos que em movimento contínuo e por reacção em cadeia se multiplicaram e replicaram para produzir o seu efeito e objectivo, de mudar o estado das coisas, porque a política que estava a ser seguida, estava errada e a causar mais prejuízos que benefícios aos cidadãos.
Ninguém previu ou programou, até hoje, uma revolução para dia e hora marcada, ou pelo menos sabendo antecipadamente e com segurança, que aquela intenção ou açcão iria resultar nos objectivos a que se propuseram os eventuais ideólogos, mentores, activistas ou revoltosos.
A título de exemplo, a nossa revolução de Abril, era sua intenção um golpe de estado e não uma revolução. Outro dos mais carismáticos exemplos é a revolução inesperada iniciada durante o discurso do ditador Ceausescu, em que foram forçadas a estar presentes sob ameaça de morte 80 mil pessoas, mas mesmo assim não impediu a oportunidade de os cidadãos iniciarem de forma inesperada e desconcertada a sua revolta, um primeiro gesto que foi o mote para a revolução nos dias seguintes, o povo perdeu o medo…
O Corona ganha aos pontos! Tem dominado sobre tudo e todos!
Isto para dizer que mudar de paradigma, estratégia, planos ou procedimentos ou «o-que-quer-que-seja» na actual contingência mundial e circunstâncias atuais, se tornou um dos maiores dilemas sócio-mundiais, agravado pelo enorme desconhecimento e enorme incerteza sobre a evolução, mutação genética do vírus, efeitos directos e indirectos da situação viral e consequência pandémica em que nos encontramos.
Não é o que se fez que é alvo de censura… é o como!
Será difícil travar ou inverter as políticas mundiais adoptadas, parar, repensar e ou redefinir estratégias é de todo muito difícil, para não afirmar que é impossível.
Até porque ao fazê-lo existiria o risco de ter que se aceitar erros sobre planos e medidas adoptadas, e seria pior a emenda que o soneto!
Bem basta a propalada falta de concertação entre organismos quanto a um ato tão simples e controverso, que gerou a maior das confusões sobre a recomendação do uso das máscaras, em que não se entendiam as diferentes autoridades de saúde! Ou ainda o mistério da encomenda dos 500 ventiladores, aos quais perdi o rasto e nem sei se chegaram a entrar em Portugal! E tantas outras polémicas e contradições que têm sido recorrentes ao longo de toda a pandemia.
«Sintomáticos e assintomáticos e suas respectivas imunidades ou efeitos colaterais»; «Imunidade das crianças versus vulnerabilidade dos doentes crónicos e idosos»; «Efeitos e sequelas dos infectados, tempos de incubação e de propagação de contágio do vírus», «Uso da máscara em espaço ao ar livre versus espaços fechados»; «Distanciamento físico ou social nas praias versus proximidade em aviões e transportes públicos»; «Não saiam de casa versus agora vão a espectáculos, centros comerciais, lojas e restaurantes, e saiam para ajudar a economia»; «Portugal é exemplo no combate à pandemia, mas aconteceu que ficamos de fora de todas recomendações e corredores turísticos… e passámos de bestiais a bestas». Enfim o discurso contraditório e esquizofrenizante das entidades oficiais.
Assim como perdemos o rasto a centenas de crimes de corrupção que grassam na actualidade portuguesa, que ganham importância jornalística no momento da descoberta, mas que a perdem no seu seguimento da investigação, ficando sempre sem sabermos o desfecho final dos processos!
Aqui e agora o Corona ganha aos pontos! Tem dominado sobre tudo e todos!
E se por um lado os media nos ajudaram a tomar alguma consciência para corrigirmos comportamentos, por outro lado foram exímios a fomentar o medo e a instalar o pânico, que ganhou dimensão de trauma, e agora resta-nos apenas esperar, para verificar quantas serão as vitimas e/ou o grau que cada uma terá́ de stresse pós-traumático e sua evolução nas sociedades!
Como e quando conseguirão as pessoas voltar a ganhar a confiança ou perder o medo cristalizado que se difundiu e contaminou e continua a contaminar mais gente que o próprio vírus.
Garantidamente haverá́ muitos graus de stresse pós-traumático! E na iminência de retorno destas medidas de emergência, contenção e confinamento face a uma muito previsível recidiva de novas vagas da pandemia, este stresse ou inerente instabilidade psicoemocional irá disparar para dimensões psicopatológicas muito preocupantes!
Mas nenhum governo de nenhum país seria capaz de aceitar um retrocesso, de assumir erros na sua estratégia. E então continuamos a agir e reagir sem pensar sobre se existem mais e ou melhores formas de lidar com a situação pandémica!
«Vamos gerindo dia-a-dia!», dizem os governantes mundiais e quem lhe presta assessoria. E este pode continuar a ser o grave problema! Continuar a adoptarem-se medidas avulso que irão continuar a ser implementadas. Falo de medidas políticas e não de saúde. Porque, por exemplo, em Portugal a autoridade de saúde e seus conselheiros foram desautorizados, e ficaram subjugados à gestão política. O que se confirmou com a adopção da medida política em detrimento da medida de saúde publica, que tinha sido aprovada por voto consensual dos 20 especialistas que faziam parte do Conselho Nacional de Saúde Publica (CNSP), que emitiu parecer de ser precipitado e errado fechar as escolas, mas que foi automaticamente negligenciado… (Aqui.)
Será que tínhamos de fechar obrigatoriamente todas as escolas e em todas as regiões!? Escolas há em Portugal, no Interior profundo, como é o caso do nosso concelho que tinham salas com uma dúzia de alunos ou menos! Teriam que fechar todas!? Alunos ou famílias sem computadores ou acesso a internet foram gravemente penalizados com esta medida e opção.
Perda de privacidade, confidencialidade e sigilo a médio prazo…
Mas a opção política de estilo orwelliano (totalitário, ditatorial) no seu melhor tem vindo a imperar no mundo do Séc. XXI.
Governos com medo, de perder o seu mandato e controlo, contra-atacam e usam aquele mesmo medo em seu proveito para gestão política da crise em detrimento e desrespeito pelos especialistas da autoridade de saúde! Até porque a própria OMS nunca foi a favor do encerramento de escolas! Mas vai haver sempre formas de validar a estratégia seguida. Demos a volta que dermos à nossa narrativa e discurso!
Se com estas medidas foi assim com estas taxas e números de contágio e de infectados, então imaginem o contrário! Dirão os mais defensores da forma e do plano adoptado!
Mas os números e as análises só se poderão fazer no fim! Na contagem dos mortos, feridos, e suas implicações sucessórias ou consequentes. Ou utilizando uma célebre e cómica frase portuguesa: «Prognósticos, só no fim do jogo.»
Tanto que agora os mais altos responsáveis já referem que o país não aguenta novo período de confinamento! E essa não pode ser a estratégia a ser seguida! O que foi não volta a ser.
Até porque para nossa sorte, houve países a seguir metodologias e estratégias diferentes, o que irá permitir fazer no futuro uma apreciação e análise comparativa mais cuidada, mas que só será possível com a devida distância temporal dos acontecimentos e factos.
E dentro dos países, como no caso de Portugal, houve regiões com resultados de contágios e propagação do vírus muito diferentes!
O que esteve na influência daqueles resultados?
Mas o medo, esse maldito veneno ditatorial, que sempre foi utilizado de forma perversa para se obter mais poder e sob o qual se permite implementar e decidir sobre o que quer seja, mesmo sobre liberdades individuais.
Vai ser este medo que nos pode vir a condicionar todos os movimentos e liberdades, porque direitos e garantias, são o que a gente conhece, durante uma já de si frágil e suspeita democracia que se tem vindo a perder em muitos países, e que vai sendo facilmente interrompida, mas com a nossa total permissão ou conivência, substituída por uma cada vez mais forte CoronaDitadura!
A ver vamos onde pode chegar o poder absoluto e suas consequências que venham a resultar sob a falsa justificação da atual luta contra a pandemia!
Quantos direitos vão ser denegados e quais as consequências indiretas que resultarão das atuais estratégias, mas que levarão anos a apurar sobre o que aconteceu.
Perda de privacidade, confidencialidade e sigilo serão um passo previsível a médio prazo, que estamos e iremos continuar a perder, em prol de uma promessa garantida de maior segurança e da nossa saúde!
Ainda não vais, pelo menos para já, ter um chip, igual ao dos animais domésticos. E aqui, vivam os génios dos animalistas que sempre pediram a igualdade e que finalmente esta pode estar próxima! Humanos e animais passam todos a ter um chip incorporado para serem seguidos, investigados e perseguidos, tudo em prol de um bem maior – Segurança e Saúde – mas e onde fica a nossa liberdade e privacidade!?
Vamos ter uma Aplicação (app) no telefone esperto (smartphone) através da qual facultamos os nossos dados, localização, onde comes, onde dormes, com quem interages, com quem cruzas na rua, divulgas os teus sintomas e os estados em troca garantem a tua segurança de saúde e a dos teus que te rodeiam!
Ainda não superamos a invasão de privacidade perpetrada por…
– Cambridge Analytica… (Aqui.) ;
– Wikileaks, Futebolleaks e afins… (Aqui.)
e já nos estamos a permitir mais e melhor invasão da privacidade!
Assim como estão a ser criadas orientações e legislação para vigiar o que cada um partilha e como partilha, nas redes sociais. A violação e boicote à liberdade de expressão em força! Está montada e em marcha a censura, uma nova PIDE das Redes Sociais, que vai actuar já sobre os próprios policias… (Aqui.)…
…e se prevê ser extensiva aos demais cidadãos sobre a divulgação do que «fazem, pensam, sentem e dizem»… (Aqui.)
Invoca-se para validar aquela legislação e violação de privacidade, que é só para censurar opiniões e partilha de expressões individuais e livres, sobre discriminação, xenofobia ou racismo. Quando aquilo que subjaz a esta invasão de privacidade e perseguição é o tratamento abusivo, de uma opinião livre, como se fosse uma organização racista que perfilhe ideologia fascista. Tudo para exercer controlo sobre a liberdade das pessoas.
Qual Polícia do Pensamento de Orwell: «Não podes mais ser livre, no que pensas, dizes, gostas ou fazes.»
Tudo isto sob a égide do… «Isto é para o bem de todos, para ficarmos todos bem!»
(Parte 1 de 6.) (Continua.)
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«Território dos Cinco Elementos», crónica de António Martins
(Cronista no Capeia Arraiana desde Setembro de 2014.)
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