Não. Nada tem que ver com política partidária, mas sim com um conflito que tivemos com a vizinha Espanha entre Maio e Junho de 1801, ainda no contexto das invasões francesas. Perdemos a famosa Olivença, mas não deixámos de um alegre convívio e boa disposição, dado que nuestros hermanos em parte foram «empurrados» pelos franceses para este episódio muito pouco estudado da história da península.

Mas, não pensem que ficámos a perder. Na época, Brasil, o nosso paraíso, conquistou às colónias espanholas o alargamento do actual Estado do Rio Grande do Sul.
De facto esta recente contenda com os nossos vizinhos sobre a data de abertura das fronteiras, curiosamente um país que não nos discriminou na abertura oficial do seu território, fez-me lembrar o dito conflito, que fará 300 anos no próximo ano. E tal como o fim da Guerra das Laranjas, no próximo 1 de Julho, haverá um arraial, com foguetes, comida e bebida, só falta mesmo saber quem lava a louça.
A notícia alegrou-me bastante. Espanha ia abrir o seu «Espaço» no dia 21 de Junho. Já não era sem tempo, a reserva dos caramelos de Badajoz estava no fim, bem como o melocoton enlatado que adoro no período de defeso, ou seja, quando não há os famosos pêssegos da Cova da Beira.
Passados uns dias, ou horas, leio no telemóvel que o nosso governo não aceita esta decisão espanhola. E quer abrir dia 1 de Julho. Os motivos julgo serem óbvios: tentar convencer os portugueses a comprarem em Portugal, criando dificuldades para sairem do país e estas decisões devem ser em conjunto.
Embora engolindo em seco, porque gosto imenso de ir a Badajoz fazer umas comprinhas, não deixo de dar razão. Sem dúvida que é necessário «por isto em marcha».
Passados uns dias (agora sim, dias), fico a saber que diversos países europeus, alguns até aliados de longa data, fizeram precisamente o que foi aprovado pelo nosso governo relativamente ao país vizinho, sentindo-se um mau estar por parecer uma questão discriminatória. No entanto, estas decisões parecem mais unilaterais do que própriamente o que se terá, eventualmente, com Espanha.
Ora tendo esses países representações diplomáticas em Lisboa, seguramente os diplomatas deram aos seus governos pareceres para fundamentarem as suas decisões.
Então o que fazer?
Antes que a CMTV pegue fogo com mais este episódio, que infelizmente já começaram voltando a suspeita das coincidências noticiosas de vagas de calor, julgo, que o Presidente e o Governo alinharam-se no sentido de arranjar uma solução política e diplomática em que todos ficassem bem.
Do lado espanhol, a presença do Rei na realidade é uma oportunidade de marcar terreno principalmente aos independentistas e à coligação governamental que, ao que se diz, é de facto uma gerigonça.
Basicamente o previsivel festim com a abertura da fronteira, à moda antiga, mas mantendo as regras de segurança sanitária, é sem duvida algo que aproxima os povos ibéricos.
O facto do local escolhido ser a fronteira do Caia, na minha opinião, foi uma cedência portuguesa. Nestas coisas, na perspectiva dos governos nacionais, a ligação preferencial é com a Galiza, já de tempos idos, mas a realidade é que a principal via terretre que liga Lisboa a Madrid é a IP7/NV, ou seja, a fronteira do Caia.
Imagino que nas reuniões de quarta-feira, com o primeiro-ministro, este assunto foi largamente discutido, e na minha opinião bem decidido, pese embora acredite também no consenso que a Prof.ª Graça Freitas estará dispensada, visto que todos irão cumprir com as recomendações de segurança sanitária, e alguém tem que cá ficar para a conferência de imprensa diária sobre o estado de evolução do Covid-19.
Correndo nos jornais as primeiras notícias sobre «a guerra das fronteiras», que eu infelizmente senti na Namíbia nos dias 19 e 20 de Março, passados, constata-se agora a realidade que se avizinha. A doença serviu de pretexto para «ajustes de contas» e quem exporta, como Portugal o tem feito, ou aposta na emigração, como desde sempre, tem de repensar o futuro, ou, arranjar uma fórmula como o fez com Espanha. Só que, por muito que nos queixemos dos vizinhos, nem todos os parceiros têm estes laços históricos e nem se devem importar muito com as nossas preocupações, porque esta é a realidade da Europa: cada um por si, ou, se preferirem, salve-se quem puder!
Assim, tal como a «Guerra das Laranjas», há cerca de 300 anos, guerra provocada por pressões de países não peninsulares, a boa vizinhaça acaba por trazer o bom senso, e acredito que milhares de excursionistas portugueses estão desejosos de irem matar saudades das iguarias da extremadura fronteiriça, como os enlatados, caramelos e o famoso licor amarelo 43, que punha as senhoras a falar demais!
Que saudades desta «guerra fria», através dos jogos de hóquei em patins, com a final Portugal-Espanha!
Fronteira de Segura (na linha limite), 20 de Junho de 2020
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«No trilho das minhas memórias», crónica de António José Alçada
Muito obrigado caro leitor Antão. Efectivamente as contas estão mal. Agradeço a sua atenta leitura. De facto com este confinamento perdi a noção do tempo e da história. Ainda bem que o tema da crónica é o presente e não o passado. Acima de tudo fico grato por ser um assíduo leitor. Bem haja.
Viva a “laranja do Algarve”.
Não percebo a razão da insistência na referência aos 300 anos, relativamente à Guerra das Laranjas. Será que eu faço mal as contas? Se o conflito ocorreu em 1801 (não é propriamente no contexto das invasões francesas, mas tão só um prenúncio do que viria a acontecer em finais de 1807).
Mas vamos a contas: de 1801 a 2020 são 219 anos. Como é que o dito conflito “fará 300 anos no próximo ano”? Ou como é que ocorreu “há cerca de 300 anos”?