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Página Principal  /  Aldeia de Joanes • Aldeia de Joanes • Bismula • Cultura • Fundão  /  Sem cultura não há futuro
21 Junho 2020

Sem cultura não há futuro

Por António Alves Fernandes
António Alves Fernandes
Aldeia de Joanes, Aldeia de Joanes, Bismula, Cultura, Fundão antónio alves fernandes 1 Comentário

Nasci numa aldeia esquecida nos confins de Portugal, oriundo de uma família pobre de recursos monetários (como, aliás, a maioria da população), mas felizmente muita rica em cultura, principalmente popular. Recém-nascido, se tivesse consciência ao abrir os olhos, descobriria junto ao meu berçário de madeira, uma mala repleta de livros sobre teatro, apicultura, agricultura, religião e alguns romances de escritores portugueses.

Banda Filarmónica durante a procissão
Banda Filarmónica durante a procissão

Os meus saudosos Pais ainda assinaram um Jornal Regional, o extinto «Amigo da Verdade», o Grão de Bico da Acção Católica Agrária. Por empréstimo do Padre Ezequiel Augusto Marcos, ainda tínhamos acesso ao Diário «A Voz», assim também «O Século» através José dos Santos Leal que o recebia gratuitamente, por ser correspondente desse periódico na freguesia da Bismula, no concelho do Sabugal. Embora as notícias impressas tivessem alguns dias, para nós leitores eram sempre as actuais.

A vida cultural na minha aldeia, além de familiar, era essencialmente comunitária, onde praticamente todos, a seu modo, participavam, mais activa ou passivamente.Todos os anos, graças ao esforço de muitos amantes do teatro, com ensaios nocturnos durante alguns meses, era levada a cena uma peça de teatro, com temas patrióticos ou religiosos, mas também cómicos e de crítica social. Ocorriam ao ar livre com bom tempo. Quando assim não acontecia, era num espaço a que chamávamos o Clube. Ali acorriam muitas pessoas das aldeias vizinhas. Eram dias de grande azáfama, de alegria, de festa e acima de tudo de cultura.

Não faltava música nos intervalos, interpretada quase sempre pela Banda Filarmónica da Malhada Sorda, concelho de Almeida, que se deslocava a pé, com o auxílio dos animais de carga, que transportavam os instrumentos musicais, assim como o elemento mais cansado ou mais idoso.

Uma vez por outra, lá passava uma pobre companhia de circo, que depois de realizar algumas acrobacias no Largo da Praça, fazia um peditório pela assistência para a recolha dos fundos de subsistência. Também um ou outro andarilho do cinema se apresentava com filmes, projectados na Casa do Clube. O custo do bilhete, embora simbólico, não era acessível a todo o público interessado.

No calendário litúrgico realizavam-se as cerimónias da Semana Santa, com Via-Sacra , Domingo de Ramos ao vivo, Festas Religiosas, Procissões, os Cânticos dos Ranchos das Ceifeiras, em que os verdadeiros artistas era o Povo.

Acordeonista toca perante a curiosidade de uma criança
Acordeonista toca perante a curiosidade de uma criança

Estas manifestações, e outras de carácter musical ou desportivo, eram sinais de cultura, porque uma aldeia ou um país sem manifestações culturais pode pedir a certidão de óbito.

Através dos tempos, os governantes, cada um a seu modo, têm estado atentos a esta componente, criando a nível político um Departamento, uma Secretaria de Estado e actualmente um Ministério da Cultura.

Ali foi colocada uma senhora formada em Direito e Sociologia, possivelmente diplomada em qualquer universidade particular. Não sei se teve ou não méritos que justificassem a sua escolha, só sei que não é concebível, por exemplo, colocar nas Finanças alguém que não sabe decifrar o débito e o crédito no Orçamento do Estado, ou na Agricultura alguém que não sabe nada do cultivo da terra, de florestas, do território rural.

Alguém afirma que o «Ministério da Cultura é o D. Sebastião das artes… desapareceu, mas esperamos que um dia volte».

Como disse a poeta, vemos, ouvimos e lemos, e não podemos ignorar que o mundo cultural, já por si quase sempre subalternizado ou refém de coutadas de interesses, atravessa uma das maiores crises, com pessoas no limite da pobreza, na fronteira da fome e com fome. Tem, pois, de existir um reforço financeiro para responder às medidas de emergência no mundo cultural português. E duvido que seja com esta Ministra, que certamente entrou no Ministério, mas na Cultura é que nem por isso.

Parece viver num oceano de futilidades sem uma ideia vir à tona da água.

Salão de Festas do Casino Setubalense na cidade de Setúbal
Salão de Festas do Casino Setubalense na cidade de Setúbal

Pedro Santos, jornalista, afirmou há pouco: «Age como um tabelião sem dinheiro, o que significa que não age. Desapareceu do combate, desapareceu das redes sociais e, à hora em que escrevo, só ainda não desapareceu do Ministério.»

Não há, portanto, respeito nem consideração pelos artistas, pelos baluartes da cultura e da arte, importantes trabalhadores como os de outras classes profissionais.

No livro «Quarentena – Jornais de Caserna», uma compilação de António José Alçada dos textos recebidos no confinamento, há uma Mãe preocupada que escreve às filhas: «A arte foi a forma que muitos encontraram de descobrir ordem neste caos.»

Sem cultura, não há futuro!

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«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes

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António Alves Fernandes
António Alves Fernandes

Origens: Bismula (concelho do Sabugal) :: :: Crónica: «Aldeia de Joanes» :: ::

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1 Comentário

  1. António Emídio António Emídio Responder a António
    Quarta-feira, 24 Junho, 2020 às 18:45

    Senhor António Alves Fernandes :

    A maior de todas as verdades que já vi escrita no Capeia !.

    António Emídio

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