Enquanto a festa de Santo António era só religiosa, não tendo manifestações populares ou parte profana, a de São João e São Pedro era só popular ou profana, não havendo cerimónias religiosas, já que não havia imagem de nenhum destes santos em Quadrazais. Imagem de São João Baptista só existiu mais tarde, tendo ocupado o lugar de São José e de São Pedro continua a não existir. São João era também festejado em Vale de Espinho e no Sabugal, entre outras freguesias de Riba-Côa, ao contrário de Santo António. Isto prova que esta região estava mais ligada pelas tradições ao Norte (Porto) que ao sul (Lisboa).

Na tarde de 23 de Junho os rapazes iam cortar um pinheiro alto, o carvalho, que as raparigas enfeitariam com rosmaninho, bandeirinhas de papel e uma boneca no topo. À noite deitavam-lhe fogo, todos dançavam à sua volta e, no fim, saltavam sobre a fogueira.
Pela calada da noite de 23 para 24 de Junho, os rapazes juntavam-se e iam roubar os craveiros e outras plantas, que as quadrazenhas guardavam em poiais salientes das janelas, e com eles enfeitavam a Fonte.
As raparigas escreviam o nome do rapaz de quem gostavam numa folha de figueira, que deixavam ao luar. Se a folha murchasse, o rapaz queria-lhe mal. Se continuasse fresquinha, queria-lhe bem. Algumas partiam um ovo para um copo de vidro. Se o ovo tomasse a figura de barco, significaria que fariam uma viagem. Enquanto partiam os ovos, diziam: «Meia-noite está a dar e este ovo estou a escarchar. É para ver a sorte que Deus está para me dar.»
Alguns rapazes iam banhar-se de noite ao rio para que lhes saísse a sarna. De manhã passavam os meninos cobrados (com hérnias) tocando com eles num carvalho rachado, dizendo:
Toma lá, Maria,
Toma lá João.
Se este menino é cobrado,
Deus o ponha são.
Atava-se, então, o carvalho rachado com a camisa do menino. Se não secasse, diziam que o menino ficara curado.
No dia 29, dia de São Pedro, era feira no Sabugal e os miúdos aguardavam as mães que lhes haviam de trazer um pífaro de barro branco com uma risca vermelha e outra verde. Era nesse dia que terminava o contrato com os pastores e criadas. Iam à feira para arranjar novo patrão. Daí a quadra popular:
Do São João ó São Pedro
Quatro ó cinco dias são.
Moços qu’andais à soldada,
Alegrai o coração.
À noite deitavam fogo novamente ao carvalho que não ardera completamente e fora de novo coberto de rosmaninho e enfeitado. Dançavam e cantavam à volta do carvalho, tal como na noite de São João.
A São João e São Pedro
Afanosas andam moças
A colher o rosmaninho
Para enfeitar o carvalho
Empinado em cada largo,
Fosse de carvalho ou pinho.
Outras já em suas casas
Recortam lindas bandeiras
Que irão atar no carvalho
Para o alindar inteiras.
Lindo ficarás no balho!
Os rapazes já carregam
A árvore desejada
Que mais logo à noitinha
Irá ser incendiada,
Alegrando a gentinha.
Terás festa verdadeira,
Todos bem te cantarão.
À volta dessa fogueira
Teu bom nome louvarão.
Alegra-te, São João.
A saltar sobre a fogueira
São João contempla as moças.
Seja p’ra mim a primeira.
Sê bonzinho, já o anoto,
Já que eu sou teu bom devoto.
Na fogueira vou saltar
A teu lado prazenteiro.
Não me vou nela queimar,
Meu tão belo companheiro.
Salta, salta, sem parar.
Em sua casa festeira,
No copo escarchou um ovo.
Moça escreveu em figueira
O nome do namorado,
Em segredo bem guardado.
Vais dar-lhe o que ela pediu,
Ó grande santo amigo?
Faz tudo o que tu puderes
Se para o ano quiseres
Festa igual, eu te o digo.
E o menino cobrado
Vão passar, meu São João,
Neste carvalho rachado.
Certo ficará curado
Com a tua intercessão.
Eu já casado estou,
Não te peço namorada.
Espero que os teus serviços
Não venham a ser precisos
Dia em que não tenha amada.
Já não é certo o futuro,
Amor agora vai, vem,
Ninguém se sente seguro.
Já não é como era dantes.
João, ajuda os amantes.
Como o carvalho que ardeu,
Não resta nada de belo.
Carvalho renascerá,
O amor logo virá
Em noite sem qualquer bréu.
Sarna em ti, saúde em mim,
Ouve-se alguém a dizer.
Não será, certo, p’ra ti,
Que saúde vais querer
Pr’a quem só faz bem, enfim.
P’ra sua sarna sararem,
Ao rio iam lavar-se
Rapazes sempre a esperarem
Por teu meio poder curar-se.
Isso pediam, João.
De ti também se lembravam,
São Pedro, apóstolo mestre.
Não sendo tão popular,
Com o carvalho e a balhar,
Também a ti festejavam
Adeus, adeus, caros santos,
Pr’ó ano cá estaremos.
Co’ a mesma grande alegria
Na fogueira saltaremos
Na vossa boa companhia.
P’ra festejar, São João,
Ainda haverá carvalho
Que possa cortar um malho?
Oh! Quem me dera rever-te!
A infância não volta, não!
Muito belo recordar o nosso passado, tão próximo e tão longínquo ao mesmo tempo. Não deves saber, mas eu e tu servimos ao santo António no ano de 1972, por isso somos Parceiros, eu fui substituído por meu Padrinho Batino, nesse ano não vim a Portugal, tinha casado no ano anterior e nasceu-nos uma garota no dia 14 de Maio de 1972… Abraço Franklim…