Em Águas Belas, todos recordam a loja do senhor Ilídio (fechada há muito) ao cimo do povo e a do senhor Alípio ao fundo. Tinham duas partes distintas, de um lado, a mercearia e, do outro, a taberna.

Vendas a granel – Quase tudo estava guardado em compartimentos de madeira e era vendido a peso. Dizia-se quanto se queria levar de arroz, massa, açúcar, farinha, sal… e os comerciantes faziam a pesagem. Conforme a quantidade, assim, escolhiam o cartucho de papel manteiga grosso, acinzentado ou avermelhado – havia-os de um quilo, meio quilo e, se calhar, até, maiores e mais pequenos. Para o abrirem, metiam a mão até ao fundo e logo tomava a forma de um saco. Para o fecharem, juntavam as extremidades, davam uma dobra ou duas e, nas pontas, para dentro, uma dobrinha pequena.

Para pesar – Usavam-se balanças de pratos iguais: num dos pratos, punham o que queriam pesar e, no outro, as medidas de peso, até os ponteiros ficarem «certinhos» um com o outro. Mais tarde, houve balanças automáticas que, até um quilo, marcavam logo o peso.
Medidas aferidas – Todas as medidas eram aferidas; vinha alguém da Câmara Municipal ver se estavam certas. Da parte da taberna, aferiam o litro, o meio litro, o quartilho e o meio quartilho e, da parte da mercearia, o quilo, o meio quilo, os duzentos, os cem e os cinquenta gramas.
Medidas rasas – Para medir cereais, pão, milho, feijão…, havia também medidas certas, feitas de madeira: o alqueire (16 litros), o meio (8 litros), a quarta (4 litros) e o litro. Enchiam-se e a seguir passava-se por cima uma espécie de régua de madeira, para se tirar o que estivesse a mais.
Role dos fiados – Era um livrinho, tipo caderno, onde apontavam, os nomes e as quantias de quem ficava a dever; logo que pagasse, riscavam o seu nome do role. Muitas vezes, as pessoas precisavam comprar coisas e não tinham dinheiro; estavam à espera de vender uns cabritos, um bezerrinho…, para poderem pagar o que tinham ido buscar fiado.
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«A minha terra é Águas Belas», crónica de Maria Rosa Afonso
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