As pessoas de Águas Belas vão aos mercados e feiras do Sabugal, desde sempre. Vou falar de coisas típicas, desses eventos, algumas desaparecidas e outras modificadas, como não podia deixar de ser.

O regateio – No início, os vendedores pediam um valor muito alto, às vezes, o dobro. A única maneira, para não comprar mal, era perguntar o preço da mesma coisa, em várias tendas e começar por oferecer uma quantia baixa, deixando margem para a discussão do preço. A certa altura, entregavam as coisas ou deixavam o freguês ir embora. E este é que decidia se queria voltar lá ou não.
O reclame – O reclamista anunciava o milagre da pomada da «banha da cobra» que servia para tudo, menos para curar feridas; do chá africano que tratava todas as doenças; da pomada para os calos…
O leilão – Em cima de uma carrinha, o leiloeiro, com um pequeno altifalante, começava por arranjar um lote: um jogo de cama e uma colcha, por exemplo; dava-lhe um preço, mas, depois, ia acrescentando mais uma coisa e outra e outra…. A determinada altura, a pessoa que estava a segurar as mercadorias, já não se via debaixo delas. Por diversas vezes, tentava acabar o leilão: «É para quem?» A ver se além dizia: «É para mim.» Mas, as pessoas, como conheciam o processo, esperavam, a ver se acrescentava ainda mais alguma coisa.
O romance de cordel – Era uma história em verso, com uma pessoa a tocar e outra a cantar, sobre uma desgraça (morte, desonra, traição…), ocorrida em determinada terra, entre familiares, amigos, vizinhos, namorados…. As pessoas iam-se juntando, algumas quase choravam e muitas acabavam por comprar o «drama» escrito numa folha de papel.
Os comes e bebes – Como os mercados duravam o dia todo, tinha de se levar uma merenda ou de se comer alguma coisa, nas tabernas ou barracas de comes e bebes. O mais habitual era uma salada de atum ou de bacalhau, com pão de quartos, vinho simples ou traçado e sumos. Também, havia bolos de bacalhau, carapau frito, iscas e outras coisas.
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«A minha terra é Águas Belas», crónica de Maria Rosa Afonso
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