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Página Principal  /  Cultura • Pedaços de Fronteira • Pintura • Vale de Espinho  /  Chegou o tempo de viver e de amar
07 Junho 2020

Chegou o tempo de viver e de amar

Por Joaquim Tenreira Martins
Joaquim Tenreira Martins
Cultura, Pedaços de Fronteira, Pintura, Vale de Espinho joaquim tenreira martins Deixar Comentário

Lá diz o Eclesiastes: «Tudo tem o seu tempo. Há tempo para todo o propósito debaixo do céu.» Eu direi também que há tempo para tudo, até mesmo para o desconfinamento, embora prudentemente, lentamente, seguramente e fazendo apelo à nossa mente, e isto para rimar.

Médico da idade-média nos tempos de pandemia. A máscara continha especiarias para resistir aos maus-cheiros (Mestre António Cristóvão)

Deveríamos regressar a um tempo normal, quase. Mas é este quase que falta. E está tudo nesta palavra absurda que bem imortalizou o nosso grande poeta Mário de Sá-Carneiro. Este desconfinamento não é peixe nem carne, nem branco nem preto, nem bom nem mau, nem morto nem vivo.

Como foi possível viver todo este tempo na submissão total? Mesmo os mais rebeldes de carácter se submeteram a estes dois meses às estritas disposições sanitárias. Vendo as coisas com um pouco mais de distância, um homem, uma mulher têm de se sujeitar a muito. Colocou-se em causa o que há de mais humano numa pessoa: a sua capacidade de amar, de trabalhar. Valorizou-se o dever de obedecer, a habilidade de guardar a distância, de se mostrar associal. Quase me faz lembrar Sarte que em certo contexto afirmou que «o inferno são os outros». Os outros devem-se evitar, olhá-los de longe, conservar a distância regulamentar de um metro e meio, dois metros. Mas como vamos viver? Faz-me lembrar o sketch de Raúl Solnado, a gritar de longe, no seu enorme apartamento: «Ó Maria traz cá a sopa.»

Graças ao nosso comportamento associal, o vírus vai morrendo. Deixou de atacar os lares da terceira idade, deu tréguas aos hospitais para que os médicos e os enfermeiros pudessem tomar um pouco de repouso. Mas nada de baixar os braços, o bichinho ainda se encontra vivo, disposto a atacar se não fizermos cuidado. Não podemos viver com dantes, e aqueles que o fazem acordam-no e ele começa a fazer massacres sem dó nem piedade, como temos visto nalgumas fábricas, nalguns sectores e em certos bairros.

Temos de ter consciência que o importante não são apenas os gestos que praticamos todos os dias, mas sim o modo de viver que já interiorizámos e que modificou todo o nosso ser, assim como o daqueles que nos rodeiam. Agora, o distanciamento social é a norma nas nossas vidas e esta exigência leva-nos a desconfiar dos outros, sobretudo das pessoas de idade, para não dizer dos velhos que este vírus tem eutanaziado sem dó nem piedade. E tanto melhor ou tanto pior! Por exemplo, segundo as estatísticas, a esperança de vida dos portugueses está a descer, mas esta constatação não irá certamente aproveitar aos que estão à beira de ser reformados. Por outro lado, esta razia dos idosos, o que quer dizer dos reformados, vai inevitavelmente beneficiar os cofres das caixas de reformas.

Andar mascarado não é só para os dias de carnaval, será para o nosso quotidiano porque nos apresentamos agora com um outro rosto ao qual não é fácil habituarmo-nos, porque dificilmente reconhecemos quem está na nossa frente.

Houve um antes em que conhecemos os bons momentos na nossa vida. Tínhamos mãos, braços, boca. Havia abraços, beijos, amor. Mas vai vir um outro. E esse tempo não vai tardar. Dependerá de nós.

Mantenhamos a esperança. As salas de espectáculos encher-se-ão, as esplanadas dos cafés tornar-se-ão conviviais, as reuniões de família voltarão a ser efusivas, a terra continuará a ser redonda e o sol permanecerá a andar à volta dela. O vírus apareceu e o vírus desaparecerá. Foi assim com todos os que o precederam, até com os mais peçonhosos, como a maldita peste.

Chegará o tempo de viver e de amar. Não queimemos as etapas regulamentares nem o nosso prazer, precipitando-nos sem barreiras nos braços dos nossos amigos. Guardemos um amor forte para com eles para que um dia os possamos apertar melhor contra o nosso coração.

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«Pedaços de Fronteira», opinião de Joaquim Tenreira Martins
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Abril de 2013.)

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