Começava no dia de Páscoa com a romaria à sua capela na Lameira, repetida nos Domingos seguintes até se atingir o Pentecostes, ou Festa do Espírito Santo, cinquenta dias depois, como indica o nome grego Penteconta=50.

Começava no dia de Páscoa com a romaria à sua capela na Lameira, repetida nos Domingos seguintes até se atingir o Pentecostes, ou Festa do Espírito Santo, cinquenta dias depois, como indica o nome grego Penteconta= 50.
A procissão, com cruz e lanternas, seguia até à capela de São Sebastião, cantando Aleluia. Depois continuava cada qual a pé ou a cavalo até à Lameira, atravessando o rio nas poldres, onde por vezes caía um ou outro, molhando-se. Já novamente juntos com a cruz e as lanternas, davam volta ao arraial em procissão, rezando, regressando em seguida e juntando-se junto à capela de São Sebastião, partindo daí para a igreja, cantando Aleluia. Na igreja rezavam o terço. No dia da festa, os mordomos engalanavam o cruzeiro e a capela e demarcavam o arraial com pinheirinhos e bandeiras de papel multicor. Havia missa solene com sermão e procissão à volta do arraial, ao som de foguetes. Seguia-se a merenda do que cada um levava. Mostravam-se os melhores cavalos, labardeava-se (rodavam-se as alabardas) e vendiam-se amêndoas e vinho no arraial.
No mesmo dia era a festa da Senhora da Poba (Póvoa) em Vale de Lobos, onde iam muitos quadrazenhos a pé, de burro, cavalo ou em carros de bois engalanados. Regressavam a Quadrazais, parando nos castanheiros das merendas, no alto antes de chegarem ao Sabugal, donde se avistava Quadrazais, para comerem. Chegavam à tardinha à Lameira, onde cantavam a Senhora da Poba, tocando pandeiretas, tendo os homens os chapéus decorados com uma imagem dela. Caminhavam depois todos até ao Robleiro onde, junto do cruzeiro enfeitado, cantavam e labardeavam, com a cruz, o arco e o tambor. Seguiam até à igreja e continuavam a labardear à Praça.
Para além do Côa fora termo de Sortelha e limite de Malcata. Ficou na memória dos quadrazenhos o roubo do santo por parte dos malcatenhos. Os quadrazenhos perseguiram-nos e devolveram o santo à sua capela.
Ao Divino Espírito Santo
Linda pombinha segura,
Com o Filho do outro lado
Nessa sua cruz pregado,
O Padre Eterno em figura.
Voa lá, pombinha, voa.
Na ribeira irás beber
Até matares a sede.
Cheira até essas amêndoas
Vê os cavalos correr.
Voa lá, pombinha, voa.
Na missa fica serena,
Ouve lá bem o sermão
Na mão do Pai terno amena.
E presta bem atenção.
Voa lá, pombinha, voa.
Sobrevoa a procissão,
Labardas, cruz e tambores,
Presta-lhes toda a atenção
A eles e seus louvores.
Voa lá, pombinha, voa.
O cruzeiro enfeitado,
Foguetes sobem no ar,
Cânticos em teu louvor.
Te estão eles a chamar?
Voa lá, pombinha, voa.
São já horas de merenda,
Vamos até Catapreira.
Água e sombra aí teremos.
Mesmo aí nos sentaremos
Para comer à lampeira.
Labardeiam quais actores
Em honra de ti e teus.
Agradece os louvores
Com tuas vozes do Céu.
Voa lá, pombinha, voa.
Olha que chegam agora
Em cavalos, ou em bois
Os ranchos vindos da Poba.
A festa acaba aqui, pois.
Voa lá, pombinha, voa.
A noite está a chegar,
Vais regressar à capela.
Continuarás a mirar
Pelo vidro da janela.
Não voes. Até pr’ó ano!
Teus devotos continuam
Em procissão ao Robleiro.
Últimas rezas a ti
E a ti mais labardeios.
Eu, pombinha, já não vi.
Na igreja vai terminar
A festa chegou ao topo
Nas tabernas vai um copo
À tua saúde, pomba.
Tu já estás a repousar.
Mas alerta ficarás,
Não venham os de Malcata
Querer roubar tua imagem,
Que em terra deles estás.
Quadrazais porá portagem.
Festa que vi em criança
Eu irei sempre lembrar.
Voa lá, pombinha, voa,
Que esse teu lindo voar
Recordo ainda em Lisboa
Lisboa, 21.04.2020
Leave a Reply