«Visitamos» hoje, se me acompanhar, tempos e personagens da zona do fantástico, do mito, na minha terra. Falo da Quinta de Santo Amaro e seu dono, o Morgado; falo do Chão da Penas que era dele e o vendeu a um conde espanhol… Enfim… é melhor ler!
Águas Radium
Tive a dita de ainda ter contactado com as Águas Radium já a definhar. Um dia, contei aqui no «Capeia» toda a minha visão deste ícone da minha infância e da de todos os miúdos do Casteleiro. Mas nessa altura já há muito que o Chão da Pena se chamava Serra da Pena e já nada tinha a ver com Santo Amaro (quinta que pertence ao Casteleiro), pois fora comprada e autonomizada nos anos 20 – tendo logo de seguida transitado para a esfera administrativa de Sortelha, onde permanece até hoje, e bem.
Mas vá lendo estes pequenos tópicos da minha visão da história deste importante complexo termal e hoteleiro na altura…
Termas e Hotel
«Para mim, a Serra da Pena sempre foi do Casteleiro. Embora administrativamente não o seja, na prática, aquela gente sempre «caiu» para a minha terra e nunca para Sortelha, lá tão longe. A rapaziada (pouca) da Serra da Pena era nossa. Era assim que os sentíamos. Vinham à escola ao Casteleiro e tudo».
«… Naqueles anos de 1900, corria na Europa a chamada “febre da radioactividade”: acreditava-se que o rádio curava quase tudo e as pessoas acorriam onde houvesse esse elemento. Foi o caso. Quando falamos de rádio (elemento químico), saiba que estamos a falar de uma substância fortíssima: “O rádio é um milhão de vezes mais radioativo do que a mesma massa de urânio”. Hoje, por serem mais seguros e até mais eficazes, o cobalto e o césio substituíram o rádio…»
Um conde espanhol, depois da cura da filha, constrói então o hotel termal. Mas as propriedades radioactivas das águas só serão reconhecidas em 1920. Em 1922, é atribuída a primeira de várias concessões oficiais de exploração de águas radioactivas no local do «Chão da Pena» (expressão que deve ter ficado perdida nos tempos. Da minha infância, o que ficou foi «Serra da Pena»).
Em 1926, uma reportagem de um jornal regional («A Serra») divulga a inauguração (tardia?) do hotel termal para 150 pessoas. Em 1929, a Sociedade Águas Radium, Lda. toma de arrendamento as instalações e introduz outros tratamentos.
Fica aí apenas este aperitivo. Se quiser ler mais e divertir-se, siga por… [Aqui.]
Santo Amaro
Já agora, duas histórias que eu ligo sempre com o mito da Serra da Pena: outro mito era o Morgado de Santo Amaro. Impressionava-me que ele tivesse carta naquele tempo e que tivesse um carro com o qual percorria a Europa… Mil histórias ligadas entre si.
Primeiro, falemos do carro do Morgado de Santo Amaro, logo nos primeiros anos do século XX:
«(…) conta-se sobre ele uma história do diabo. Arrancou um dia à aventura e foi andando à medida da velocidade que o carro dava, por esses países fora. Quando eu era pequeno, esta parte da história parecia um conto de fadas: parecia que o homem viajava assim qualquer coisa como até à Índia ou coisa do género, sempre de carro. À medida que fui crescendo, fui percebendo que a viagem não era assim tão grande: Portugal, Espanha, França, Bélgica (só uns quilómetros… como adiante se vai já ver…). Mesmo levando em linha de conta que estamos em 1915/20 e que os carros andavam devagarinho.»
Pode aceder a algumas seguindo para… [Aqui.]
Quinta das Mimosas
A propósito de Santo Amaro… e do carro do Morgado… eis outro pedaço da história da minha aldeia, também relacionado com um carro… Mas este era do dono da Quinta das Mimosas; Sr. António Mendes e esta parte acontecia lá pelos anos 30:
«… contava-se à noite ao serão que um dia (o Sr. António Mendes) lá pegou no carro e… «ala que se faz tarde»: rumo à Guarda. Mas com umas peripécias que a todos encantava ouvir. Era o caso de acentuar bem a inépcia do senhor ao volante. Contava-se que a cada curva, lá parava e mandava o criado ver se lá vinha alguém. Notem: isto era nos anos 30. Não havia carros por aqui, a não ser os carros de bois (melhor: de vacas – era assim que se dizia, é assim que se diz agora, mas já não há carros de vacas no Casteleiro há muito tempo…). Portanto, se viesse algum carro seria de vacas»…
Leia mais… [Aqui.]
:: ::
«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2011)
:: ::
Leave a Reply