Até cerca de 1970 o forno comunitário teve uma atividade intensa. A partir daí deixou de ter uso. Hoje mostra sinais de degradação. É um espaço simbólico, um elemento identitário da povoação.

Depois vieram os padeiros…
Quem tinha uma junta de vacas trazia carros de bois carregados de giestas para desamuarem o forno; as mulheres (a maioria dos homens tinha emigrado e havia algumas viúvas) iam com os burros pelos baldios e traziam feixes de giestas. A miséria era tanta que nos baldios as giestas não cresciam, às vezes tornava-se necessário procurá-las em locais um pouco distantes e de mais difícil acesso.
Muitas vezes cozia-se à noite porque de dia era necessário cuidar dos animais e realizar os trabalhos do campo. Tudo isto acontecia numa época em que a electricidade ainda não havia chegado. Utilizava-se o candeeiro de petróleo e nas noites escuras convinha não ir só!
Cozinhava-se para quinze dias! A preparação do pão incumbia às mulheres. Depois de amassado era colocado num tabuleiro, faziam-lhe uma cruz e diziam:
«São Vicente o acrescente» ou «Em louvor de São João cresça este pão».
Próximo da hora da cozedura levavam-no para o forno no tabuleiro. Normalmente cozinhavam aos pares. Para distinguirem a qual pertencia faziam-lhe um pequeno sinal com um pau.
Terá sido neste lugar que nasceu a povoação. Algumas ruínas do lado de trás poderão ter sido as primeiras casas. Seria bom que houvesse iniciativas de aproveitamento e valorização deste espaço.
Foi utilizado intensamente até aos cerca de 1970. Depois vieram os padeiros. Da Urgueira vinha a Conceição com o seu burrito e os alforjes cheios de pão; depois veio o Joaquim, do Casteleiro, durante mais de trinta anos e na época dos pêssegos também trazia para vender. Esta mudança veio melhorar a qualidade de vida dos residentes. Já não necessitavam de comer pão duro com mais de uma semana. Não podemos esquecer que começava a chegar o dinheiro vindo de França. A maioria das famílias viu aumentado o seu poder de compra, tornando-se mais fácil a aquisição de bens essenciais.
No lintel do forno comunitário é visível a data de 1984. Nesse ano beneficiou de obras de requalificação: Telhado novo e reboco das paredes.
Apesar destes benefícios, nunca houve, lamentavelmente, uma iniciativa para o seu aproveitamento e valorização. Hoje só não digo que está abandonado porque tem porta e existe uma chave! Mostra sinais de degradação. É um espaço simbólico, um elemento identitário da povoação.
Actualmente uma calçada moderna dá acesso ao local. Pois bem, em parte desse acesso existiu uma calçada, seguramente centenária, onde passavam os carros de bois. Há meia de anos assisti, incrédulo, à sua destruição por um caterpillar! Sem aviso prévio, não pediram qualquer parecer, as máquinas chegaram e destruíram para fazerem o que se vê! Para os decisores políticos locais o importante é mostrar obra feita! São cenas recorrentes! Assim se vai destruindo a identidade de um povo!
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«Memórias de Sortelha», por António Augusto Gonçalves
Obrigado pelo incentivo.
Desconheço os fornos do Casteleiro. As suas palavras reforçam a minha opinião:
– Esta região tem uma identidade cultural!
Estou grato ao José Carlos Lages pela publicação de todos os materiais.
Não será fácil continuar por muito tempo, devido às dificuldades em conciliar os deveres profissionais com a investigação. O confinamento também deu o seu contributo!
Um abraço.
Quase a mesma história dos dois fornos que havia na minha terra, o Casteleiro. E lembro-me muito bem do tal Joaquim Padeiro.
Obrigado por estes belos contributos…
Continue sempre.
Um grande abraço deste casteleirense vidrado.