«(…) e onde os meus olhos surpresos de criança viram a primeira lápide de mármore, erigida sobre um túmulo dum cão. Percebi nesse instante revelador, outras almas no mundo além de nós: pobres almas que amam, em quatro patas, quer dizer, com mais firmeza do que os homens.» (Teixeira de Pascoaes).

O meu fim será o deles e só nessa altura morrerão de todo…
A lareira estava acesa, dela irrompiam labaredas arremessadas pela lenha seca. Lá fora, o vento gélido fustigava as árvores e arrancava as últimas e moribundas folhas do velho castanheiro fazendo-as bailar no ar como fantasmas. Os cães latiam aos flocos de neve que caíam, outros cães respondiam da longínqua treva da cerração.
Fechei o livro, companheiro das horas silenciosas, mas não estive só durante muito tempo, a Saudade, melancólica como sempre, surgiu bela e demoníaca! O que me trouxe? Saudades de uns inocentes seres que tenho dentro do coração, os meus cães, companheiros inseparáveis da minha viagem terrena, mas que já partiram, eu fiquei, para não se perderem nos confins da memória. Recordá-los é dar-lhes vida, o meu fim será o deles, só nessa altura morrerão de todo.
Leão: Recordo quando te levava a comida, quando já não podias andar, os teus olhos brilhavam como que a agradecer-me, estava contigo quando deste o último suspiro.
Hulk: Cerrei-te as pálpebras para não veres a injecção que ia pôr fim ao teu enorme sofrimento, não mais se abriram.
Lobo: Inesquecível «Lobo»! Os caminhos que nós percorremos pela Montanha Sagrada (Serra da Malcata)…Quando me entregaram o teu corpo sem vida envolto num pano branco… Eu não tive coragem de o desenrolar e ver o teu cadáver.
A memória e a Saudade torturam-me.
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«Passeio pelo Côa», opinião de António Emídio
José Carlos :
O Mundo seria outro se o Homem amasse e respeitasse tudo o que nasce vive e morre dentro deste Planeta Terra.
António Emídio
António Emídio.
Esta partilha dos teus sentimentos deixou-me emocionado.
Bem-hajas