Partindo dos registos paroquiais de 1758, conseguimos identificar as culturas dominantes no concelho de Sabugal em meados do século XVIII e concluir que a alimentação se baseava em cereais e castanha. Por outro lado, a população vivia uma fase de adaptação à cultura da batata.

A batata contribuiu para a melhoria da alimentação das populações…
Os cereais (trigo, centeio e cevada, milho miúdo) e o linho eram as culturas predominantes na generalidade das freguesias. Ocupavam a maioria das terras cultivadas e eram a base da alimentação. Consumidos principalmente sob a forma de pão, daí a utilização de expressões como… «semear o pão». Era escuro, cozido nos fornos das povoações, um pouco duro e em resultado consumido muitas vezes nas sopas (caldo).
A Castanha era consumida de diversas formas: cozida, assada e não posso esquecer o caldudo (caldo de castanhas piladas ou cozidas) que comi muitas vezes em criança. Secas no caniço permitia o seu consumo ao longo do ano. Tinha uma grande importância na alimentação da população e foi mencionada nas freguesias seguintes:
Águas Belas, Aldeia de Santo António, Casteleiro, Malcata, Moita, Nave, Penalobo, Quadrazais, Quintas de São Bartolomeu, Rendo, Sabugal (São João), Santo Estêvão, Soito e Urgueira.
Em quarenta registos a castanha apenas foi mencionada em catorze! Estou convencido de que haveria em mais. Na freguesia de Sortelha, há cerca de quarenta anos, havia castanheiros que pela dimensão dos troncos eram certamente milenares. O pároco, João dos Santos, não referiu a sua existência. Esses castanheiros morreram, no final do século passado, devido às doenças e incêndios! Hoje só existem alguns soitos jovens!
A Batata viria a assumir primazia na alimentação humana, substituindo progressivamente o nabo e a castanha, daí ser conhecida como «castanha da índia», foi referenciada em quatro freguesias:
Águas Belas, Quintas de São Bartolomeu, Pousafoles do Bispo e Aldeia Velha.
Distingue-se da castanha verde, entenda-se o fruto do castanheiro, nos registos das freguesias de Águas belas e Quintas de São Bartolomeu ficou claramente expressa essa diferença entre castanha da índia (batata) e castanha (fruto do castanheiro, «castanha verde» no primeiro caso).
A cultura da batata contribuiu significativamente para a melhoria da alimentação das populações. Nestas freguesias são também referidas as culturas do centeio, trigo, linho, milho (com exceção de Águas Belas) e algum vinho (Quintas de São Bartolomeu e Pousafoles do Bispo). Em Aldeia Velha, curiosamente, a cultura da batata não é associada à cultura da vinha.
Em meados do século XVIII vivia-se uma fase de adaptação e aprendizagem em relação à cultura da batata. No século XIX expandiu-se contribuindo para o aumento da área cultivada, passando a ser fundamental na alimentação e mitigando os efeitos negativos dos maus anos agrícolas. De início foi semeada em terras de sequeiro. A utilidade da água para esta cultura motivou a sua exploração. Fizeram-se muitos poços e desenvolveram-se meios de rega, como as noras. No século XX chegaram os motores de rega.
Sobre a origem da batata aconselho a leitura do artigo «As variações sobre a batata» de Jesué Pinharanda Gomes publicado em 2 de outubro de 2016 no Capeia Arraiana… (Aqui.)
O vinho é também assinalado nas freguesias de Aldeia da Ribeira, Escabralhado, Badamalos, Casteleiro, Moita, Nave, Lomba dos Palheiros, Penalobo, Quadrazais, Rapoula do Côa, Ruivós, Ruvina, Seixo do Côa, Sortelha e Vilar Maior. Fazia parte da alimentação, embora não abundasse em algumas freguesias.
O azeite está documentado nas freguesias de Casteleiro, Santo Estêvão e Sortelha.
Em Alfaiates refere-se a existência de boas hortas, onde se cultivam ervilhas, melões, feijões, abóboras, nabos, couves, feijões e de inverno nabos, em quantidade. Aqui é referida a maior diversidade de produtos hortícolas.
O feijão também se cultivava na Moita, Pousafoles do Bispo e Ruivós.
O nabo, que a batata veio substituir, no inverno, devia fazer parte da alimentação, apesar de só referido em Alfaiates.
A utilização de frutas e legumes não estava generalizada contribuindo para a pobreza alimentar.
Em consequência do exposto, a alimentação, que tinha por base o nabo, os cereais e a castanha era muito deficitária. Para o povo a carne não fazia parte dos hábitos alimentares, só nos dias de festa.
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«Memórias de Sortelha», por António Augusto Gonçalves
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