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01 Maio 2020

Cercos sanitários a lembrar tempos passados

Por Franklim Costa Braga
Franklim Costa Braga
CoronaVírus, Cultura, Lembrando o que é nosso, Quadrazais, Saúde cólera, coronavirus, febre amarela, franklim costa braga, gripe espanhola, nuno de montemor, peste Deixar Comentário

Nada é novo. Tudo já aconteceu em tempos idos. Para não falar das pestes de tempos mais recuados, em que se morria que nem tordos, em grande parte por falta de higiene: não havia água canalizada, não havia esgotos, não existia o hábito de tomar banho e lavar frequentemente as mãos, até porque a água tinha de se ir buscar às fontes e não abundava nas casas ou nos campos onde se trabalhava. Os físicos, médicos da altura, ainda nem sabiam qual a origem da peste e muito menos como curá-la. Sanguessugas e sangrias eram os remédios mais frequentes, mas ineficazes. Faziam-se fogueiras para purificar os ares, pensavam eles, julgando que o vírus andava no ar e podia ser queimado. Cercos sanitários não ocorreram mas havia muita gente que procurava melhores ares fora dos meios urbanos.

Rua do Carmo em Lisboa como nunca se viu
Rua do Carmo em Lisboa como nunca se viu

O medo instalou-se…

No segundo quartel do século XIX surge a cólera. Aparece em Portugal em 1833, trazida de fora pelos liberais que vieram ao serviço de D. Pedro IV. Neste ano a cólera fez 13.523 mortos, o que se teria de multiplicar por três ou quatro para se poder estabelecer uma comparação com os dias de hoje, tendo em consideração o volume da população dessa época. É então que, sem conhecerem a origem nem os meios de a combater, surgem os cordões sanitários militares. A cólera poderia vir de Espanha e, por isso, havia que fechar a fronteira. Foi isso que lembrou ao nosso D. Pedro IV, que impôs um bloqueio em toda a fronteira de Riba Côa e que tanto prejudicou a região. É este o cenário em que decorre o romance «Maria Mim», do meu conterrâneo Nuno de Montemor. O cordão militar raiano de Riba Côa servia para impedir que a «quadrilha de bandidos», como eram apelidados pelos governantes em Lisboa os contrabandistas, sobretudo os quadrazenhos, nos metesse a peste em Portugal, trazida de Espanha. Desse cordão fez parte o poeta Augusto Gil, no sector de Vale de Espinho. O congresso de médicos europeus reunidos em Dresden declarou inúteis e vexatórios os cordões das fronteiras. Provavelmente já sabiam como era transmitida essa peste.

A cólera repetiu-se em 1855 e 1856. Os médicos da altura, embora já mais evoluídos que na Idade Média, estavam longe de conhecer a origem e os meios de a atacar. Nem sequer ainda havia um Ministério da Saúde, quanto mais um SNS! Era o Ministro do Reino, o equivalente do Ministro do Interior hoje, quem tinha a seu cargo debelar a crise.

O povo atribuía estas doenças à ira divina ou a conspirações humanas. A medicação era tomar genebra e continuar com as sangrias. O resultado era nulo. O remédio veio com o abaixamento da temperatura no Outono de 1856. Neste ano morreram 2.997 pessoas.

Infelizmente, no Verão de 1857 surgiu nova peste – a febre amarela –, que dizimou muita gente, incluindo o rei D. Pedro V e sua esposa Dona Estefânia. Estima-se que morreram 250 pessoas por dia. Esta transmite-se por picada de mosquitos infectados, que se desenvolvem em charcos, coisa que então ignoravam.

Continuavam as sangrias, purgantes e sobriedade na mesa e na cama. O recurso ao divino-procissões e charlatanices eram os remédios. E quando Deus não atendia as preces, os padres eram os bodes expiatórios por não conseguirem a intercessão divina. O remédio veio da Natureza. Com a chegada dos frios de Inverno, que impediam o desenvolvimento dos mosquitos que lhe estavam na origem. Mesmo assim, realizou-se um «Te Deum» de acção de graças no Dia de Reis de 1858, porque o Divino tinha actuado.

Os governantes aprenderam a lição e passaram a cuidar da higiene das povoações, sobretudo de Lisboa, começando por canalizar a água e fazer esgotos.

A ciência veio a prevalecer sobre a charlatanice e a crendice. Só em 1937 um médico sul-africano descobriu a vacina para essa peste, o que lhe valeu o Prémio Nobel em 1951. A partir daí os governos começaram a ter mais em conta a ciência médica e desenvolveu-se a Medicina virológica e os meios de higiene foram prioritários.

Não foi, porém, a última peste. Em 1918, a chamada gripe espanhola matou milhões em todo o mundo. Novas gripes perigosas se seguiram, como a asiática de 1957/58, de que muitos nos lembramos e que matou também muita gente.

Hoje somos atacados anualmente por gripes que vão deixando um rasto de morte. Ciclicamente surgem novas gripes com efeitos mais nocivos e devastadores.

Felizmente a Medicina e a sua componente Virologia já está infinitamente mais preparada e consegue em prazo razoável descobrir vacinas e medicação que as destruam. Apesar disso, entre o aparecimento das gripes e o das vacinas, alguns milhares perdem a vida. Tem sido o caso do Coronavírus. Enquanto se avançam experiências para o conter e extinguir, todos os dias somos confrontados com mais uns milhares de mortos em todo o mundo. Portugal não é ainda dos mais atingidos mas já conta cerca de 1.000 mortos e uns milhares de infectados. Infectada está também a economia. Esperemos que não morra.

E agora, sim, voltámos aos cercos ou cercas sanitárias. Todos fechados em casa como em quarentena sem data e, em algumas cidades, como Ovar e Porto Moniz, há verdadeira cerca, pois ninguém pode entrar ou sair de lá. As autoridades sanitárias sabem que esta gripe se transmite por contacto respiratório com um infectado e há razão para estes cercos.

Muitas coisas deixámos de fazer, como conversar com amigos, almoçar em restaurantes, trabalhar nas empresas, viagens, ida a praias e divertimentos, como jogos de futebol e outros, idas a teatros e cinemas, frequentar ginásios e muitos actos de convívio e outros mais. Milhares de empregos se perderam e os consequentes salários. Deixámos de usar os carros. Os alunos deixaram de ir à escola. O medo instalou-se. A fome começa a atingir camadas que nunca sonharam vir a passar por ela e que não tiveram o bom senso de fazer alguma poupança, para muitos escusada porque a Previdência e o Estado teriam a obrigação de os sustentar. Ainda bem que muitos de nós seguimos o conselho dos nossos pais a incitar-nos à poupança, a «forrar», como nos diziam. Eles sabiam que esta poderia valer-nos em tempos de crise. Quantos bem empregados, com bons salários, seguiram este conselho? Quem lhes garantiu que manteriam ad eternum a vida de bons vivants que levavam? Bastou um bichinho para lhes acabar com esse tipo de vida. Espero que muitos aprendam a lição e deixem de pensar que os outros é que têm a obrigação de os manter por solidariedade! Onde tinham a cabeça os que se endividaram com prestações de bens não de primeira necessidade, comprando carros, frigoríficos, televisões caras, computadores, instrumentos musicais e máquinas variadas, muitas vezes apenas para fazerem ver aos amigos que eles tinham o que os amigos não tinham? Os bancos, que os incitaram ao consumismo, que paguem agora a factura, que eles deixaram de pagar! Infelizmente, parte da factura vem sempre recair em cima dos que não têm culpa nenhuma dessa falta de juízo! E os que não sabem tomar o pequeno almoço e outras refeições em casa, preferindo restaurantes, e os que gostam de passar fins-de-semana em bons hotéis?! Enfim, este vírus terá de os fazer pensar a mudar de vida para não terem de passar por outros maus bocados.

Quem nos diria que não haveria dinheiro para pagar salários, para pagar obrigações à banca, para pagar rendas de casa e para comprar remédios e comida?! É caso para lhes lembrar a fábula da cigarra e da formiga e do que esta respondeu àquela quando lhe veio bater à porta: «(No Verão) Cantaste, pois dança agora!»

Só a compaixão e os preceitos cristãos da caridade nos farão esquecer estes legítimos pensamentos de insensibilidade para com eles e ajudá-los a não passar fome, sobretudo aos filhos que não têm culpa dos actos estouvados dos pais.

Felizmente, graças à luz eléctrica, já não temos que nos deitar e levantar com as galinhas. A ela devemos também o uso da rádio, televisão, telefones e telemóveis, tablets e computadores, que nos amenizam o confinamento e nos ajudam a efectuar trabalhos à distância, impedindo a perda total de salários e fecho de empresas e até permitem o acompanhamento das aulas. Temos ainda livros, jornais e revistas, bons amigos para nos ajudarem a passar o tempo e nos informar sobre o que se passa no país e lá fora.

E, como a receita já não é moderação na mesa e na cama, veremos daqui a nove meses qual o efeito na variação da população e quantos mais subsídios teremos de pagar.

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«Lembrando o que é nosso», por Franklim Costa Braga

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