Não. Moratória nesse assunto. Já chega. Mas o que fazemos quando não podemos entrar num país? Os motivos são imensos. Até há um filme com o actor Tom Hanks, que enquanto transitava no aeroporto na zona internacional, o seu país de origem sofreu um golpe de estado e os EUA não reconheciam o actual regime, impedindo-o de entrar. Mas existem outras até à estupidez humana que não falta para aí para dificultar. O facto é que «em trânsito» não nos dá direitos, nem nos reconhece como cidadão. Por isso nalgumas viagens devemos ponderar esse aspecto.
As armas do futuro serão de natureza química ou biológica…
Alguns já sabem. Reconheço a ambição mas sou mesmo assim. Fiz um périplo por quatro países separados por cerca de 8000 quilómetros cada, em trânsito. Até que num deles, onde me esperava a cama e o banho quente, não entrei.
O facto de andarmos numa zona internacional de um aeroporto, não significa que estejamos no seu território. E foi essa a lição que aprendi e que acho pertinente transmitir. E se não entramos no país que queremos, temos de ter uma solução: ou de regressar à origem; ou ir para outro, mas a bagagem tem de prever mais roupa e o orçamento mais verba. E nestas coisas nada melhor que a bagagem de cabine.
E dormir? Se for em África, ou América Latina, ou alguns países asiáticos, podemos ficar sozinhos no aeroporto porque fecha tudo. E camas não há, nem lojas abertas com comida e água. Mais outra preocupação. E, nestes locais, nada de entrar em stress, isso é pior emenda que o soneto, porque muitas vezes não entendem a nossa língua dada a correria com que falamos. No meu caso tive a sorte de ter uma casa de banho limpa e asseada, coisa que também pode não existir.
Se estamos longe de Portugal é preferível tentar um bilhete para um país mais próximo do local onde estamos, que normalmente tem mais frequência de voos, e com menos duração. Assim dá para recompor o sono e lavar os dentes. Mas essa opção deve atender às recomendações do Ministério dos Negócios Estrangeiros, no seu site do viajante, para não ficarmos na mesma e sem roupa.
Regra geral só os países com recomendações de «evitar» é que algo pode correr mal. A percepção de que a Europa e o Norte da América é que são seguros é mera ficção. Muitos países neste mundo em África e na América do Sul, e até Ásia, dão-nos segurança, mesmo numa noite mal passada e com custos acrescidos.
Sobre taxas adicionais, no meu caso não aconteceu. Mas às vezes pode aparecer um esperto a dizer que o polícia ou o guarda teve de lá ficar e tem de ser pago. Só mesmo com recibo.
Nas próximas viagens já levo alguns destes aspectos em conta. Efectivamente o «pedido extra» para solucionar tem vindo a desaparecer. Mas as estruturas ligadas aos aeroportos «legalizam» estes sobrecustos com taxas de serviços mas que obviamente não podem fugir da moral.
Outro problema é o apoio consular. O que pode fazer um cônsul para nos ajudar? Esta nova experiência que aprendi: muito pouco. Não por desinteresse, mas nota-se muito a falta de «força» de Portugal fora das suas fronteiras. A conversação e a negociação são os únicos aspectos que funcionam e, por vezes, com sucesso. Mas ter influência para «convencer» as autoridades é nula, salvo em países onde haja uma estreita relação de amizade, mas pessoal. Apercebi-me de repente da falta que fazem os Marines, SAS, Legião Estrangeira e muitas mais. Este tipo de «solução» pondera muita vezes o decisor do país que nos «acolhe».
Hoje provavelmente já não vamos tão longe, mas por exemplo se fosse francês, horas depois estavam representantes da embaixada com um discurso pouco amigável, mas que teriam efeitos mais dissuasores do que a negociação ou a conversação. A sociedade de informação é uma arma terrível, como se viu no último filme coreano, vencedor dos principais oscares. E nas potências de sempre, as embaixadas são autênticos centros de informação classificada.
O repatriamento. Sinceramente aqui tenho tido sorte. Os portugueses têm sido bem acolhidos por potências e, quando há lugares vagos nos aviões, podem ser para nós. Acho que temos mais popularidade quando se iniciou a aposta no futebol (uma verdadeira arma diplomática) e acreditem que o Cristiano, Figo e tantos outros, conseguem abrir portas aparentemente trancadas. E volto a dizer, é um desporto que não me convence, embora lhe deva muito.
As conclusões. Agora sim, o que nos espera no futuro. Com estes abanões na aviação comercial, acredito que nalguma coisa mude, como no pós 11 de setembro. Os custos seguramente vão subir em detrimento da qualidade (principalmente na segurança sanitária), muitas fronteiras podem voltar a funcionar, por receios de contágio (as armas do futuro serão de natureza química ou biológica), as taxas alfandegárias deverão subir para cobrir custos destes novos controlos e a situação que vivi (passageiro em transito) tem tendência de acabar, porque pode ser uma ameaça. Se estivesse com uma bactéria ou vírus, de fácil disseminação, poderia contaminar parte do aeroporto onde passam centenas ou milhares de passageiros por dia. Isso pressupõe que as companhias aéreas tenham ainda mais precauções na validação da documentação do passageiro e garantir que ele entra no pais de origem, ou então, como vi no Dubai e em Joanesburgo, estas zonas têm hotéis a «peso de ouro».
A semana que vivi entre 17 de março e 21 de março, mostrou que a aviação comercial é uma arma política de «peso». Os passageiros são ameaçados por situações inesperadas e que nada podem fazer dada a dificuldade em apanhar transporte para zonas de segurança. Para isso é necessário que o país de acolhimento autorize, que o país de origem tenha disponibilidade de avião, mesmo através de um aliado, e que o passageiro tenha no momento disponibilidade financeira. Nem sempre há cartões de crédito, nem sempre a moeda que temos é aceite, e nem sempre as «taxas» que nos querem cobrar são comportáveis para as nossas carteiras.
Neste campo, particularmente, estou expectante. Se ocorrer um «travão» na livre circulação de pessoas e bens, a aviação comercial volta a ser só para alguns, como no tempo em que era pequeno, mas para a economia global vai ser um desastre.
Para todos!
Londres, 21 de Março de 2020
:: ::
«No trilho das minhas memórias», ficção por António José Alçada
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Junho de 2017)
:: ::
?