Pode haver pouca gente numa terra, mas se existir um único café, a sensação é a de estarmos numa «terra aberta». É assim, em Águas Belas, com o Café Taberna Alípio, situado ao fundo do povo, à beira da estrada. Existe há mais de sessenta anos, com algumas mudanças inevitáveis. Remodelado, no seu interior, há poucos anos, é atualmente explorado pela senhora Isabel Firmino.

O Café é ainda um lugar onde se podem obter informações do dia-a-dia…
O café é obviamente um estabelecimento comercial, onde se podem comprar bebidas e muitas outras coisas (tabaco, gelados, guloseimas…). Mas, não é apenas isso. É também o ambiente, o lugar, onde se pode estar com familiares, amigos e conhecidos, partilhando mesa, conversando, jogando cartas…, passando bem uma parte do tempo livre.
Para o café, também há o antes e o depois do verão, altura em que há muita gente e os horários se alargam. Habitualmente, é frequentado por pessoas de cá e de fora que não têm cafés nas suas terras ou tendo-os preferem, por alguma razão, vir a Águas Belas (pessoas da Quarta-feira, Sobreira, Caldeirinhas, Espinhal…).
Aí, se encontram, a certa hora da tarde, os que trabalham nas obras e noutras profissões, de várias terras. Estacionam as carrinhas de trabalho, pelo fundo do povo e terreiro, e juntam-se para conversar e descansar, depois de um dia de trabalho. Aí, param os que passam, ocasionalmente, e, ao verem um café aberto, entram para tomar ou perguntar alguma coisa, pois, há quem, mesmo munido do tão usual GPS, privilegie o contato pessoal.
O café é ainda um lugar, onde se podem obter informações do dia a dia (se já passou o carteiro, se já veio o padeiro…), ou de outra natureza, na consulta ao placard. Por exemplo, o contacto de profissionais (canalizador, eletricista, trolha…), os serviços da Junta ou do Município e os eventos (festivos, desportivos…) que diferentes entidades publicitam.
Tudo isto acontece, porque o ambiente é agradável e o atendimento simpático e sempre prestável.
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«A minha terra é Águas Belas», crónica de Maria Rosa Afonso
Maria Rosa Afonso :
O café da aldeia, feitas as devidas alterações, é a – ágora – da Grécia antiga, o lugar onde se discutia a politica e outras coisas da vida social.
António Emídio
Obrigada, pelo comentário. É mesmo, como a ágora grega. Há um texto muito bonito de Lévinas, sobre o café, onde o que mais impressiona essa dimensão humana e social.