A história de alguns sítios é um pouco como a das pessoas, vão-se sobrepondo camadas. Às vezes, o novo apaga o velho e parece que tudo foi sempre assim; outras vezes, o novo não apaga o velho, antes, acrescenta, melhora, preserva… Ambas as mudanças se podem ver no Largo da Fonte Velha de Águas Belas.

Numa parte do Largo da Fonte Velha, são várias as camadas:
– A primeira – uma «presa» para lavar roupa, uma «lameira» para a pôr a corar e uma «horta» – a horta do senhor padre – onde cultivavam hortaliças e legumes;
– A segunda – dois poços e a «casa» das bombas elétricas, desaparece a horta e é aterrada a presa;
– A terceira – dois palcos para os conjuntos ou tocadores, um grande terreiro para dançar e um bar para os dias de festa, desaparece a lameira;
– A quarta – sede da Associação, feita a partir do bar;
– A quinta – pavilhão multiusos, nova sede e bar da Associação e terreiro cimentado, desaparecem os palcos;
– A sexta – bar das festas, a partir da primeira sede da Associação.
No outro lado do Largo, continua a «fonte de mergulho», onde as pessoas, primeiro com cântaros de barro e depois com cântaras ou baldes de plástico, iam buscar água para a sua alimentação e higiene, a comida do «vivo» e a limpeza das casas. Junto, um bebedouro de pedra, com a fundura necessária, para todos os animais poderem beber. Mais tarde, fecharam a fonte, com uma porta de ferro e puseram, em cima, uma bomba manual. Era preciso dar à bomba, para encher os cântaros, mas a água saía limpa. Foi assim até à construção dos chafarizes.
Na Fonte Velha, para lá de permanecer a utilidade pública dos diferentes equipamentos aí colocados, ao longo do tempo, permanece, também, em certo sentido, a «alma» do Largo que sempre foi de encontro, conversa e convívio, antes, quando se ia à fonte, se lavava na presa ou se levavam os animais ao bebedouro e, agora, quando há festas, bailes, borgas e outras diversões.
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«A minha terra é Águas Belas», crónica de Maria Rosa Afonso
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