A escola foi construída, nos finais dos anos cinquenta, já fora do povo, para ficar um pouco mais perto às crianças do Dirão da Rua que a frequentavam. Foi uma escola do Estado Novo e depois da democracia, até, fechar por falta de alunos suficientes. Desde, então, as crianças daqui frequentam a escola do Sabugal.
A seguir ao 25 de Abril, tudo mudou…
A escola primária de Águas Belas é um edifício do plano centenário (um modelo de construção para edifícios escolares). Neste caso, uma sala de aula, um telheiro, duas casas de banho (sempre fechadas, sem água), um campo de recreio murado e um portão.
A sala de aula, com quatro filas de carteiras de madeira, com tinteiros, na parte de cima, onde se sentavam duas crianças; à frente, a secretária da professora, o quadro preto e por cima deste a cruz e as fotografias dos Presidentes da República e do Concelho (Américo Tomás e Salazar); ao fundo, o armário dos livros, a caixa métrica e o fogão a lenha; e na parede do lado direito, os mapas.
Todos os dias, antes de começar a aula, se rezava e cantava o hino nacional. Era a escola do livro único, do ditado, das lições de moral, de Deus e da Nação, da autoridade e da ordem…
Era a escola em que as crianças do Dirão da Rua faziam, a pé, cerca de três quilómetros de manhã e outros tantos à tarde, chovesse, fizesse sol, houvesse frio ou calor, com a sacola dos livros e o saco da merenda às costas. Apesar destas condições não facilitarem o aproveitamento, havia bons alunos. Presto-lhes a minha homenagem.
Era a escola em que o Estado dava uma espécie de almoço: uma sopa, um copo de leite em pó, uma fatia de pão com um queijo alaranjado e uma colher de óleo fígado de bacalhau, muito difícil de tomar.
A seguir ao 25 de Abril, tudo mudou. Os meninos do Dirão da Rua tiveram uma escola, lá. Tiraram a cruz e as fotografias dos Presidentes. Houve novo mobiliário, material escolar, livros, pedagogias e valores (democracia, direitos das crianças, participação, imaginação…). Era outra escola, outra educação.
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«A minha terra é Águas Belas», crónica de Maria Rosa Afonso
Boa noite. Está enganada, Mónica. Essa foto é da antiga escola das raparigas da minha aldeia (Casteleiro). Se não acredita veja aqui http://vivercasteleiro.blogspot.com/2019/07/projecto-casa-da-memoria-aprovado.html…
Estou a brincar… Era mesmo um plano nacional: todas iguais. Era o Plano dos Centenários da Fundação de Portugal e da Restauração – certo?
E o significava?
«O Plano dos Centenários constituiu um projeto de construção de escolas em larga escala, levado a cabo pelo Estado Novo em Portugal, entre 1941 e 1974» – leio aqui: http://escolasprimarias.blogspot.com/2012/10/o-plano-dos-centenarios-introducao.html.
Obrigado, cara Mónica. Você fez-me andar 60 anos para trás… e foi bom.
Venham mais de igual teor: não desista!
félicitation? cet dans cette école que moi aussi je fait ma primaire dans les ânées 62 –63–64
Obrigada pelo comentário. Eu acho que entrei para a escola em 1964, portanto ainda andámos juntos nessa escola.
Percorri esse caminho quatro anos!
Com chuva, frio ou calor! Quando chegávamos molhados secávamos as calças junto de um aquecedor a gás.
Nos meus primeiros tempos, um dia os mais velhos decidiram que não íamos, ficámos nas serras a meio caminho. Quando chegámos a casa, os pais já sabiam, levámos porrada. No dia seguinte, na escola, foi a professora (era de Penalobo e não recordo o nome) com a régua. Os mais velhos foram os mais castigadas, de certo modo safei-me porque era dos mais novos. Em determinado momento um, entre os mais castigados. retirou a mão antes de chegar a régua, esta bateu no joelho da professora e partiu-se. A sessão terminou! No dia seguinte já tinha outra e foi nova sessão!
Depois dessa senhora veio a Adélia Teixeira, do Baraçal, de quem viria a ser colega.
António Gonçalves
António,
Obrigada pelo comentário. Sim era também a escola da régua, da disciplina que não era disciplina, como sabemos.