David de Jesus Mourão-Ferreira nasceu (24 de Fevereiro de 1927) e faleceu (16 de Junho de 1996) em Lisboa. É considerado um dos maiores poetas contemporâneos portugueses do Século XX, Ganhou notoriedade junto do grande público com os poemas de sua autoria cantados por Amália Rodrigues, como «Sombra», «Maria Lisboa», «Anda o Sol na Minha Rua», «Nome de Rua», «Fado Peniche» e sobretudo «Barco Negro». Outros fados da sua autoria, como «Escada sem corrimão» ou «Lembra-te sempre de mim», serão interpretados anos depois por Camané.
![David Mourão-Ferreira](https://i0.wp.com/capeiaarraiana.pt/wp-content/uploads/2019/12/ramiromatos_20191226_590x413_01.jpg?resize=539%2C413&ssl=1)
Porque ontem foi Natal…
Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio,
no prédio que amanhã for demolido…
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.
Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave…
Entremos, despojados, mas entremos.
Das mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.
David Mourão-Ferreira, in «Cancioneiro de Natal».
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ps. Chamo a atenção para a recente edição pela Assírio & Alvim da Obra Poética deste poeta maior que foi Davis Mourão Ferreira.
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«Sabugal Melhor», opinião de Ramiro Matos
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Setembro de 2007)
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