É certo que o madeiro perdeu regularidade no adro da igreja e o Menino Jesus já não desce pela chaminé, mas há tradições que continuam quase intactas, como a reunião das famílias, o presépio e a missa no dia de Natal.
Antes, «ir ao madeiro» era um acontecimento para os rapazes novos, que começavam semanas antes a acarretar a lenha. Faziam-no, com um carro de vacas que eles próprios puxavam; iam e vinham, várias vezes, até juntarem a lenha suficiente. Quando começaram a usar o trator, tudo ficou mais fácil, podiam ir o dia atrás ou quase na própria da hora. Depois da lenha junta, empilhavam os troncos, cobriam tudo com giestas e piornos, colocavam pneus velhos, pelo meio, para o lume atear melhor e deitavam-lhe o fogo, lá pela meia. Os mais afoitos ficavam a noite toda junto ao madeiro, na borga. Muitas pessoas iam ao madeiro, não só para ver arder aquela imensa fogueira, mas também para conviverem.
Antes, o Menino Jesus deixava rebuçados, bolachas, laranjas, peças de vestuário, moedinhas… Se era roupa ou calçado, vestia-se logo nesse dia. Era bom ouvir: «Tens umas botas tão bonitas!» E responder: «Foi o Menino Jesus que mas pôs!» Era assim. Agora, o Pai Natal encarrega-se das prendas dos mais novos e em vez do sapatinho na chaminé são os embrulhos coloridos, debaixo da árvore de Natal.
Na igreja, lá está o presépio, muito mais pequeno, mas com igual significado, feito com musgos, heras, um pinheiro e imagens. Começa com a gruta, com o Menino, Nossa Senhora, São José…, e estende-se, com casas, ovelhas, pastores…, a fazer lembrar aquela aldeia da Palestina.
Ninguém falta à missa do Natal, daqui, do Espinhal e da Quinta do Clérigo, enche-se a igreja. Um dos momentos mais emotivo é quando se beija o Menino e se entoam cânticos tradicionais que todos conhecem. Ainda, dentro da igreja ou cá fora, partilham-se desejos sinceros de boas festas. Algo de novo, acontece em cada um de nós. E isto é muito bonito e reconfortante.
Desejo a todos um bom Natal!
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«A minha terra é Águas Belas», crónica de Maria Rosa Afonso
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