O inverno fere a noite chuvosa e fria, sortida de vento que soa a negro e abre portas à fantasia. As estrelas fugiram deixando o céu tingido de escuro e levaram, com elas, o declivoso vulto da Serra.

As rajadas transverteram-se em ventanias a rosnar, veementes.
A chuva, suspensa, reiniciou-se em gotas soltas cantando nos telhados. Foram-se adensando aguaceiros em pingas engrossadas a bater às janelas, a ofuscar vidros e a sugerir aconchegos.
Em instantes de alguma calmaria, bailados de chuviscos melodiosos e ventos amainados instituíam poesia.
A rua recebeu a água chovediça e ofereceu-lhe caminhos de infinito.
O sono fingia ser poeta e facultava sonhos quentes a beijar a madrugada.
Cada momento novo, não era mais que repetido ajeitando-se, na perfeição, ao breu da noite.
Nascerá, por fim, a manhã quando a terra sequiosa já estiver saciada.
Sobrarão os vestígios sonhados humedecidos de chuva vinda da noite molhada.
Serão frescos e ungidos os cotidianos. Se os brumaceiros persistirem, aguardaremos os brilhos do sol em dias curtos e apressados que a natureza fará crescer. Com eles rumaremos às claridades primaveris.
Presumem-se, por ora, para tempos de verdor novo, o termo certo dos uivos do vento e a mudança dos sonhos e da chuva que os arrola.
Serão esses os tempos de novas quimeras que, ainda vindouras, já sabem a ocorrido.
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«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
(Cronista no Capeia Arraiana desde Maio de 2011)
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