Quando em 1707 Filipe V, vindo para tomar posse do reino de Espanha, passou por Montlhéry, pequena paróquia nos arredores de Paris, foi festivamente recebido pelo cura e seus devotos fregueses.
Tomando a palavra, disse o padre ao monarca de Espanha:
– Senhor, os longos discursos são incómodos e eu como orador sou insofrível, pelo que, não querendo enfadar-vos, permiti que vos cumprimente em nome dos meus paroquianos cantando uma coplas.
D. Filipe fez um gesto de assentimento e o eclesiástico pôs-se a cantar:
O povo todo de Chartres
Com o de Montlhéry
Sente uma grande alegria
Em vos ver, senhor, aqui.
Sois neto de S. Luiz,
Liz, liz, liz;
Sois um príncipe tão bom,
Dom, dom, dom
Que até Deus vos acompanha,
E por cem anos fará,
Trá, lá, lá,
Que reineis a bela Espanha.
O rei aplaudiu vivamente o canto do cura e, animado com o que ouvira, disse-lhe:
– Bis.
O cantor não se fez rogado e repetiu o canto das coplas ainda com maior entusiasmo.
E de tal forma o rei se agradou com as lisonjas, que ordenou que dessem 10 luíses ao bom padre.
– Bis, também! – volveu-lhe o cura.
E não teve o rei outro remédio que dobrar-lhe a soma.
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Paulo Leitão Batista, «Histórias de Almanaque»
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