Os baleeiros desapareceram há longos anos dos Açores, em cujas ilhas a caça à baleia fez parte das rotinas e foi o suporte da vida económica. O empenho dos açorianos era tal que, quando os vigias davam sinal da presença de cetáceos no mar, todo o povo se mobilizava para acorrer imediatamente à faina.
Desse tempo áureo da caça à baleia os açorianos guardam histórias fantásticas, que ainda hoje se contam aos mais novos. É o rememorar da vida heróica de um povo de valentes pescadores que se aventuravam no mar revolto, ultrapassando as vagas de arpão em punho, para caçarem o colosso que lhes daria o sustento. Essa actividade duraria até meados do século XX.
Conta-se que em certo dia, nas Lajes, Ilha Terceira, saíra o enterro dum pescador. Todo o povo se juntara à comitiva que acompanhava o féretro da igreja para o cemitério, ficando apenas os vigias nos lugares mais altos, perscrutando.
A um momento, ia o funeral a meio, um dos vigias deu o alarme, gritando a plenos pulmões:
– Baleiaaa! Baleiaaa!…
A marcha lenta e compungida do funeral foi sacudida por aquele grito avisador que electrizou toda a gente. Num ápice, homens, mulheres e crianças desataram a correr para a praia, com a rapidez com que cada um pode, para se agarrarem ao seu posto na caça ao bicho que rondava a ilha.
Só o padre ficou no caminho do cemitério, sem saber se deveria manter-se junto do caixão, se encaminhar-se também para praia para ajudar no que pudesse no trabalho colectivo que estava em evolução.
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«Histórias de Almanaque», por Paulo Leitão Batista
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